24/06/2022 - 5:44
Em 24 de junho de 1821, Simón Bolívar comandou o exército de rebeldes sul-americanos que derrotou os espanhóis em Carabobo, perto de Caracas, na principal batalha pela independência do país. A luta pela independência das colônias e vice-reinos espanhóis na América do Sul já durava 12 anos quando o rei da Espanha, Fernando 7º, decidiu enviar reforço europeu para as suas tropas, no início de 1821. O inimigo a ser derrotado chamava-se Simón Bolívar, comandante que superava os espanhóis em determinação e, se necessário, em brutalidade.
Oriundo de família aristocrata criolla, José Antonio de la Santíssima Trindad Simón Bolívar y Palácios (1783-1830) ficou conhecido como “El Libertador” das colônias espanholas da América do Sul. Educado por um discípulo de Jean-Jacques Rousseau, passou a juventude na Espanha e França, onde acompanhou movimentos revolucionários.
“Guerra até a morte”
Ele retornou à Venezuela em 1807 e iniciou atividades anticoloniais clandestinas. Em 1813, entrou com suas forças em Caracas, onde foi recebido como libertador, mas em seguida enfrentou oposição, sendo levado a refugiar-se na Jamaica. Lá escreveu a célebre Carta da Jamaica, em que expôs as razões da emancipação americana.
De volta ao continente, obteve brilhantes vitórias militares e tornou-se capitão-geral dos revolucionários no norte da América do Sul. Na manhã de 24 de junho de 1821, comandou 5 mil patriotas e um pequeno batalhão de soldados britânicos que enfrentaram cerca de 7 mil espanhóis na planície de Carabobo, cerca de 100 quilômetros a sudoeste de Caracas, na principal batalha pela independência da Venezuela.
Segundo Salvador de Madariaga, historiador espanhol, o exército da Espanha controlava Carabobo e o vale por onde os separatistas queriam chegar à planície. Bolívar foi informado, porém, da existência de uma trilha pouco usada, por onde enviou sua cavalaria. Comandada pelo major José Antonio Páez, esta surpreendeu os espanhóis pelas costas, exatamente no momento em que Bolívar os atacava pela frente. Os espanhóis entraram em pânico e fugiram para não se tornar prisioneiros de guerra.
Consagração do mito
Cinco dias depois, “El Libertador” entrou pela segunda vez, vitorioso, em Caracas. A batalha de Carabobo consolidou o mito de Simón Bolívar, mas ainda seriam necessários mais cinco anos de lutas até a vitória decisiva sobre os espanhóis.
A revolta contra a metrópole fora desencadeada pela Revolução Francesa e foi favorecida pela ocupação da Espanha por Napoleão Bonaparte. “Nesse outono do reinado espanhol, governadores e vice-reis começaram a cair como folhas secas”, escreveu Madariaga.
À frente de seu exército, Bolívar atravessou a Cordilheira dos Andes, tomou Bogotá e proclamou a República da Colômbia (união da Venezuela e Nova Granada), da qual foi eleito presidente. Ele comandou também as guerras de independência do Equador, Peru e Bolívia. Em 1826, era o chefe supremo do Peru e acumulava a presidência da Colômbia e da Bolívia.
Embora admirasse pessoalmente os feitos militares de Bolívar, o monarquista Madariaga não perdoou que “El Libertador tenha derrubado o império espanhol”.
A máxima de Bolívar — “guerra até a morte” — foi uma realidade constante em sua vida. Em 1830, diante dos conflitos separatistas internos, abandonou o poder e se retirou para Santa Marta, na Colômbia, onde morreu de tuberculose antes de completar 48 anos. Santa Marta havia sido exatamente a cidade que por mais tempo permanecera fiel à coroa espanhola.
Sonho de um bloco hispânico unido
“A América é nossa pátria. Nossos inimigos são os espanhóis. Nossa bandeira é a independência; nosso objetivo, a liberdade.” Assim Bolívar sintetizava seu pensamento libertário. Seu grande sonho era criar uma nação latino-americana que integrasse os hispano-americanos com os luso-americanos, como um bloco equivalente à América Saxônica. Mas morreu sem ver realizado esse sonho: a América Hispânica dividiu-se num grande número de pequenas de nações.
Em seus últimos dias de vida, Bolívar só colheu decepções, como descreve Eduardo Galeano no livro As caras e as máscaras. “Nas ruas de Lima estão queimando sua Constituição os mesmos que lhe tinham dado de presente uma espada cheia de diamantes. Aqueles que o chamavam Pai da Pátria estão queimando sua efígie nas ruas de Bogotá. Em Caracas, o declaram, oficialmente, inimigo da Venezuela. Lá em Paris publicam artigos que o infamam; e os amigos que sabem elogiá-lo não sabem defendê-lo… Bolívar, pele amarela, olhos sem luz, tiritando, delirando, baixa pelo rio Magdalena rumo ao mar, rumo à morte.”