23/06/2022 - 4:58
Em 23 de junho de 1894, foi criado em Paris o Comitê Olímpico Internacional. O aristocrata e historiador francês Pierre de Coubertin pretendia assim reviver as competições esportivas da Antiguidade.
Os primeiros Jogos Olímpicos da Idade Moderna foram realizados em Atenas, em 1896. A competição havia sido idealizada anos antes, mas foi necessário transpor uma série de obstáculos. O principal mentor da ressurreição dos antigos jogos foi o historiador e aristocrata francês Pierre de Coubertin. Por pensar numa medição de força corporal no estilo da Olimpíada grega, ele era ridicularizado ou, na maioria da vezes, ignorado.
Para o corpo e o espírito
O jovem barão era um patriota profundamente preocupado com a situação de sua “grande nação”. Em sua opinião, a França do final do século 19 estava enfraquecida pelas constantes trocas de governo e derrotas militares. Seu objetivo, portanto, era “arrancar os jovens indolentes dos bares e torná-los pessoas de caráter e fisicamente em forma”. Ele almejava um equilíbrio entre treino corporal e formação intelectual.
Para concretizar suas ideias, Coubertin criou um Comitê de Propagação dos Exercícios Físicos na Educação. Ele procurou patrocinadores, sob o argumento de que o futuro da França estava em jogo. Para o historiador, o cenário ideal para incentivar o fisiculturismo seria uma competição à moda dos Jogos Olímpicos, que já não eram mais realizados há 1.500 anos.
Longe dos nacionalismos mesquinhos, os povos deveriam participar de uma competição pacífica, como na Grécia Antiga. É daí que vem a máxima “o importante é competir”, ou seja, o importante é que países que se odeiam e raças que se discriminam aceitem os mesmos critérios de excelência física e de rivalidade corporal.
Em 1894, 79 representantes de 13 países reuniram-se na Universidade de Sorbonne, em Paris, para um congresso internacional convocado por Coubertin. Aparentemente, seria discutida a situação do esporte amador, mas, na verdade, estava em pauta a ressurreição dos Jogos Olímpicos. O barão queria conquistar adeptos para a ideia que tivera dois anos antes, no mesmo local.
Renascimento em Atenas
A 23 de junho de 1894, foi decidido realizar novamente os Jogos Olímpicos, tendo Atenas como sede para sua primeira edição. No mesmo congresso também foram aprovados os princípios básicos da competição e fundado o Comitê Olímpico Internacional (COI).
Dois anos depois, 295 atletas de 13 nações disputaram os Jogos na capital grega. Tratava-se de uma mistura de amadores, esportistas de segunda categoria e equipes improvisadas — sem mulheres. Inicialmente, os Jogos Olímpicos da Idade Moderna não foram levados a sério pelas entidades esportivas nacionais. Mas os jogos seguintes, em Paris e, sobretudo, em Londres, em 1908, ajudaram a consolidar a competição.
Desvirtuamento dos ideais
O poder do esporte e, principalmente, dos Jogos, foi logo reconhecido pelos nazistas. Os Jogos de 1936, em Berlim, transformaram-se em instrumento de propaganda. Nos anos seguintes, passaram a ser meio de pressão política. Hoje o espetáculo conserva apenas tênues lembranças da filosofia olímpica original, de confraternização entre os povos.
Em 1896, pensou-se que guerras, conflitos, rivalidades e uso da violência seriam deixados de lado durante a competição. Imaginava-se que, durante os Jogos Olímpicos, reinariam o entendimento, a cooperação, o conhecimento mútuo e a solidariedade.
O mercantilismo, porém, tomou conta dos Jogos Olímpicos, que se tornaram um negócio multimilionário. A publicidade dos acessórios esportivos transforma os atletas em homens-sanduíche, cobertos por anúncios. O marketing associa, descaradamente, o consumo de certos produtos aos Jogos.
O olimpismo era sinônimo de amadorismo, uma espécie de amor pelo esporte. Contudo, o profissionalismo dos competidores virou regra geral. As “fraudes” contra o amadorismo remontam aos tempos da Guerra Fria. No bloco soviético, os atletas eram funcionários do Estado. Do lado americano, o atleta recebia uma bolsa de uma universidade qualquer e também se dedicava integralmente ao esporte.
O idealismo e a pureza que o barão de Coubertin desejava imprimir à competição, no mesmo espírito da Olimpíada grega que, além do caráter competitivo, possuía também um significado religioso, morreu ao longo dos anos.