10/03/2023 - 7:10
No dia 10 de março de 1905 terminava em Mukden, capital da Manchúria, a maior batalha da guerra entre a Rússia e o Japão.”Os barris de vodca eram sangrados a baionetas, abertos a faca e a machado. Um bando de homens desvairados lutava para abri-los, e bebia o líquido precioso em xícaras, jarras e velhas latas de sardinha. Cossacos, muçulmanos, soldados de infantaria, dragões, militares de todos as patentes participaram dessa louca bebedeira. Envoltos na cinza e na fumaça dos depósitos em chamas, eles pareciam demônios do álcool, lutando nos escombros do inferno.”
Com essas palavras, um repórter descreveu a situação na cidade de Mukden, poucos dias antes de ser tomada pelas tropas japonesas. A capital da Manchúria foi palco da principal batalha da guerra russo-japonesa (1904-1905). Segundo um correspondente da revista norte-americana Times, durante as várias semanas de batalhas, o comando militar tornou-se cada vez mais brutal e selvagem.
A bravura animalesca e a astúcia individual ou de um batalhão definiam o vencedor do dia. A 3 de março de 1905, os japoneses romperam a linha de defesa russa. Quatro dias mais tarde, o comandante-geral do exército da Rússia ordenou a retirada de suas tropas, para escapar de um cerco total. A retirada virou fuga em pânico e,em 10 de março, as tropas japonesas ocuparam Mukden.
Nos combates, 70 mil japoneses e 20 mil russos morreram ou saíram feridos, vítimas de uma guerra colonial supérflua entre a potência russa e o emergente Japão. Ambos ambicionavam os territórios da Manchúria e da Coreia. A Rússia havia tomado a dianteira na corrida imperialista: arrendara a península chinesa de Liotung e conquistara o acesso ao Oceano Pacífico via Port Arthur. O Japão estava decidido a impedir, se necessário pelas armas, uma nova expansão russa no Oriente.
Avaliação equivocada
A Rússia entrou na guerra com uma avaliação completamente equivocada da situação. Um ano antes da derrota devastadora em Mukden, um alto diplomata havia dito ao general Kuropatkin: “Alexei Nikolaevitch, você conhece a situação interna da Rússia. Para deter a revolução, precisamos de uma pequena guerra vitoriosa”. Uma vitória militar deveria despertar o sentimento nacionalista e desviar a atenção das crescentes tensões no império czarista. Acreditava-se que o Japão não teria condições de resistir às tropas russas.
Arrogante, Moscou negou-se a fazer concessões, quando os japoneses quiseram resolver politicamente o conflito de interesses na China e na Coreia. Na madrugada de 9 de fevereiro de 1904, os japoneses atacaram de surpresa navios de guerra russos na base naval de Port Arthur (atual Lüshunkou), na Manchúria, sem declarar guerra oficialmente. Esse episódio marcou o início de uma série de derrotas arrasadoras para a Rússia, que pensava apenas numa “pequena guerra contra o nanico Japão”.
Poucos semanas depois de perderem Mukden, os russos passaram por um fiasco no mar, próximo a Tsushima. A frota russa do Báltico navegara 28 mil quilômetros para contornar a África. Chegando ao estreito de Tsushima, foi totalmente dizimada pelos japoneses, nas noites de 27 e 28 de maio de 1905. Essa derrota forçou o czar Nicolau 2º a aceitar, em 9 de junho, as negociações de paz propostas pelo presidente norte-americano Theodore Roosevelt.
A guerra terminou com o Tratado de Portsmouth, assinado a 5 de setembro de 1905. Para a Rússia, o conflito não passou de uma dispendiosa aventura colonialista, com considerável perda de prestígio nas relações internacionais. No campo da política interna, as consequências foram fatais: a guerra, que visara a acalmar as tensões sociais, desembocou na Revolução Russa de 1905.