03/11/2022 - 5:00
O Estado criado pela dinastia dos Habsburgos no sudeste da Europa desintegrou-se no final da 1º Guerra Mundial. Em 3 de novembro de 1918, foi assinado o acordo de cessar-fogo, selando o fim do Império Austro-Húngaro. O atentado contra o príncipe herdeiro austríaco Francisco Ferdinando fora a causa imediata para a deflagração da Primeira Guerra Mundial em 1914. Mas o conflito acabaria levando à desestruturação do Estado austríaco.
No começo da Primeira Guerra Mundial, a Áustria-Hungria ainda era um império com uma imensa área territorial: do Lago de Constança à Transilvânia, da Boêmia à Bósnia. Mais de 52 milhões de pessoas viviam no país multiétnico, cuja capital era Viena. No final da guerra, restou um pequeno Estado alpino, uma república com 6 milhões de habitantes.
Com tal estrutura multiétnica, a Áustria não podia ser homogênea nem estava livre de tensões internas antes da Primeira Guerra Mundial.
O tratamento desigual dado às diversas províncias e nacionalidades levou frequentemente a conflitos e movimentos de autonomia, em especial nos Bálcãs, onde a Áustria havia anexado a Bósnia-Herzegovina em 1908. Mas a guerra liberou inteiramente tais forças centrífugas, que levaram ao completo desmembramento do Império Austro-Húngaro.
Em maio de 1915, a Itália abandonou a sua neutralidade, juntando-se aos países da Entente Cordiale, a Inglaterra, a França e a Rússia. Com isto, a Áustria passou a lutar na frente sul não apenas contra a Sérvia, mas também contra a Itália: uma guerra de montanha extremamente difícil, em especial na região do Tirol do Sul (hoje, para os italianos Alto Ádige).
Fome, doenças e rebeliões
Já em 1916, a situação de abastecimento no império Habsburgo tornara-se catastrófica. Apesar de todas as medidas para a produção agrária de emergência, o governo não conseguiu impedir que a subnutrição e as enfermidades aumentassem cada vez mais entre a população civil. Ao lado das rebeliões por motivo econômico, também as tensões por razões políticas ou nacionalistas tornaram-se frequentes.
No dia 21 de outubro de 1916, o primeiro-ministro conservador Karl von Stürgkh foi assassinado pelo filho de Viktor Adler, o chefe dos social-democratas austríacos. No mesmo ano, morreu o imperador Francisco José, que personificava a tradicional monarquia austro-húngara.
Ele havia reinado durante mais de 60 anos, mantendo o controle sobre as ações governamentais. Seu sucessor foi o sobrinho Carlos, a respeito de quem o primeiro-ministro de então tinha uma opinião arrasadora: “O imperador Carlos tem 30 anos de idade, uma aparência de 20, e fala como uma criança de 10 anos.” Jovem, inexperiente e avesso a reformas, Carlos 1º não conseguiu impedir a desagregação do seu império.
A partir de 1918, começaram a surgir greves e rebeliões em todas as partes do país. Foram registradas deserções em massa, principalmente entre os integrantes das minorias nacionais.
Manifesto da reforma chega tarde demais
Em outubro de 1918, foi formado em Zagreb (Croácia) o Conselho Nacional Sul-Eslavo, que logo anunciou a unificação dos territórios sul-eslavos com a Sérvia e Montenegro. Em Viena, constituiu-se uma Assembleia Nacional provisória para a “Áustria alemã” e, em Praga, foi proclamado o Estado tchecoslovaco.
Em 16 de outubro, Carlos 1º ainda tentou impedir uma desintegração do seu império, através da publicação de um manifesto de reforma. Mas já era tarde demais – a autonomia sob a coroa vienense já não era mais uma opção aceitável para as províncias.
Depois do fracasso da última ofensiva militar em Piave, na Itália, a monarquia austro-húngara estava à beira da derrocada. Em fins de outubro, começaram as negociações sobre um cessar-fogo. As condições impostas pela entente eram praticamente as de uma capitulação: “Retirada do Tirol até o Passo de Brennero e do Vale do Puster até Toblach, retirada do planalto norte-italiano, da Ístria incluindo Trieste, da Dalmácia e todas as ilhas no Mar Adriático, liberdade de ação para as tropas aliadas em território austríaco, desarmamento de 20 divisões, entrega dos equipamentos bélicos da metade da artilharia”.
Após longa hesitação e por falta de alternativa, a delegação austríaca assinou o tratado de cessar-fogo em 3 de novembro de 1918. Com ele ficou selada a desagregação definitiva do tradicional Império do Danúbio.