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Em 3 de outubro de 1926, reuniram-se no Congresso Pan-Europeu em Viena, pela primeira vez, os adeptos da ideia de uma Europa unida. Representantes de 28 países tentaram, em vão, aproximar as nações do continente.O organizador do encontro foi o conde austríaco Richard Nicolas Coudenhove-Kalergi, que, desde o início dos anos 1920, defendia um ideário pan-europeu. Filho do ex-embaixador do império austro-húngaro no Japão e abalado pela derrocada da monarquia, ele sonhava com uma “Europa pacífica, unida e igualitária, de Portugal até a Polônia”.
O conde cosmopolita, cujo título era uma herança da participação de seus antepassados na Primeira Cruzada em 1099, fez de sua vida uma “cruzada pela Europa” – como diz o título de seu livro publicado em 1943. Já em 1919, ele havia apresentado seu plano ao primeiro presidente da então Tchecoslováquia, Tomás Garrigue Masaryk (1850-1937).
Num polêmico artigo intitulado Pan-Europa, publicado por jornais de Berlim e Viena nos dias 15 e 17 de novembro de 1922, ele sugeriu uma alternativa à Liga das Nações, excluindo os Estados Unidos.
A ideia consistia numa Europa unida, com base numa eventual reconciliação teuto-francesa. Caso esse projeto não se concretizasse, havia a ameaça de uma segunda guerra mundial. Em 1923, Kalergi fundou o chamado Movimento pela Unificação Europeia, ao qual aderiram lideranças políticas, econômicas e intelectuais de todo o continente.
Nações sem fronteiras
Entre os defensores do movimento figuravam o ministro alemão das Relações Exteriores, Gustav Stresemann, o primeiro-ministro francês, Aristide Briand e, mais tarde, estadistas como o britânico Winston Churchill e o alemão Konrad Adenauer. Em abril de 1924, o conde publicou em sua revista Pan-Europa o “Manifesto Pan-europeu”.
O pan-europeísmo, no entanto, nunca se tornou um movimento de massas, apesar de o Congresso de Viena, no dia 3 de outubro de 1926, ter atraído dois mil representantes. Na ocasião, Kalergi apresentou seu programa político, que incluía a derrubada das fronteiras nacionais e a criação de uma união dos países europeus, igualdade e entendimento entre os povos, como condições para a paz, liberdade e prosperidade.
Fórmula controvertida
O filho de diplomata, porém, não era um democrata convicto. Para equilibrar os interesses divergentes após a Primeira Guerra Mundial, quando a Europa era pressionada pelo fascismo e bolchevismo, ele sugeriu uma fórmula controvertida: “Quem quiser a união dos Estados europeus, não deve esperar que todos os países adotem a mesma constituição e, sim, reconhecer tanto o fascismo italiano quanto a democracia francesa e tentar reunir organicamente as diversas nações europeias”.
Seu projeto não chegou a se concretizar. Depois que a Alemanha abandonou a Liga das Nações, em 1933, Hitler dissolveu a União Pan-europeia. Kalergi já havia previsto o que viria depois. Na manifestação em homenagem ao chanceler federal austríaco Engelbert Dollfuss, assassinado pelos nazistas, o conde disse, em 23 de novembro de 1934: “São dias de decisão entre a guerra e a paz. A Europa tem a escolha entre a derrocada e a prosperidade. A luta pela Europa é uma luta do bem contra o mal, da ordem contra o caos”.
O que veio foi o caos. Richard Coudenhove-Kalergi havia advertido para a ameaça de Hitler e da Segunda Guerra e continuou seguindo fielmente seu objetivo. Ele presidiu o Movimento Pan-Europeu até sua morte, em 1972, sendo sucedido por Otto Habsburg-Lothringen, filho do último imperador austríaco, Carlos 1º, e, desde 1979, deputado europeu pela União Social Cristã (CSU). Ironizado no passado como “utopista e romântico”, o conde Kalergi passou a ser lembrado como um dos precursores e idealizadores da moderna União Europeia.