22/11/2022 - 5:32
Em 1945, ninguém imaginava que, três anos depois, essas ligações garantiriam a sobrevivência de Berlim Ocidental, durante o bloqueio pelos soviéticos do acesso terrestre. Os corredores decidiram a primeira batalha da Guerra Fria em favor dos Aliados.
Imagine a dificuldade de abastecer uma metrópole apenas pelo ar, com a resistência dos soviéticos. E isto no final dos anos 1940. A façanha, entre 1948 e 1949, entrou para a história da aviação e ainda hoje serve como exemplo de solidariedade humana.
O feito só se tornou possível graças a uma decisão das quatro potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial, em novembro de 1945. Os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha e a União Soviética criaram três corredores aéreos de 32 quilômetros de largura ligando Berlim e Frankfurt, Munique e Hamburgo, sem lhes dar uma função específica.
Em represália à adoção de uma moeda própria no setor ocidental da Alemanha, em junho de 1948, os soviéticos fecharam os caminhos de acesso terrestre, cortando o abastecimento de Berlim Ocidental, que era uma ilha dentro da Alemanha Oriental.
Iniciou-se aí a operação de abastecimento aéreo que durou 462 dias e que reforçou a disposição alemã ocidental de cooperar com as potências capitalistas.
Aviões de todo o mundo para a Alemanha
De todos os cantos do mundo, foram mobilizados aviões americanos em direção à Alemanha. Os dois milhões de berlinenses ocidentais necessitavam de 13 mil toneladas de alimentos e combustível por dia. Os britânicos começaram a participar dessa ponte aérea no terceiro dia. No início da operação, em 26 de junho de 1948, foram transportadas apenas 500 toneladas, o que levou os soviéticos a não a entenderem como ameaça e não a levarem muito a sério.
Ao final da ponte aérea, em 1949, um total de 280 aeronaves chegava a transportar diariamente 15 mil toneladas de produtos. Era avião partindo a cada minuto. Em certos momentos, havia até cinco grupos de 12 a 15 aviões voando uns sobre os outros num dos corredores aéreos. A logística tinha que funcionar perfeitamente. Começaram aí os primeiros controles de tráfego aéreo. Nos quase 300 mil voos da operação, aconteceram relativamente poucos acidentes: 126, com 76 mortos.
Berlim não parou, a cidade não se curvou ao bloqueio. A produção da indústria era levada pelos aviões, que traziam os objetos de consumo de fora. Dois empreendimentos sensacionais da ponte aérea a Berlim Ocidental foram o fornecimento de 1.500 toneladas de material para a construção do aeroporto de Tegel e o envio de milhares de pinheiros para as tradicionais árvores de Natal, naquele dezembro de 1949.
Chocolate em paraquedas feitos de lenços
Alguns pilotos criaram a Operação Papai Noel, em que os alemães ocidentais enviavam caixas de presentes a amigos e parentes em Berlim Ocidental. Um gesto muito especial foi iniciado pelo piloto norte-americano Gail Halvorsen, que as crianças apelidaram carinhosamente de “Rosinenbomber” (bombardeiro de passas). Ele jogava barras de chocolate em paraquedas em miniatura feitos com lenços. Quando seu superior tomou conhecimento da operação, resolveu ampliá-la.
Toda a Força Aérea e a população americana começaram a juntar chocolates e gomas de mascar em pequenos paraquedas de papel, arremessados às crianças pouco antes da aterrissagem no aeroporto. O alemão Hans-Peter Fahrun lembra da alegria que sentiu quando conseguiu apanhar um dos pacotinhos, em 1949, enquanto brincava com amigos num campo de futebol.
Kenneth Slaker, um dos pilotos que participaram da operação, confessa que, em certos momentos, sentia-se um anjo: “Eu respeitava os alemães por eles terem sobrevivido à guerra. Naquele momento, eram nossos amigos e ajudá-los foi a principal tarefa da minha vida.”
Ursula Alker ajudava a abrir e distribuir os pacotes de mantimentos no aeroporto de Berlim-Gatow: “Cerca de seis aviões eram desembarcados ao mesmo tempo. Havia duas pistas em uso e uma terceira estava sendo construída. Nunca esquecerei do cheiro das cenouras e batatas desidratadas.”