12/05/2022 - 4:59
No dia 12 de maio de 1945, morria Julius Fromm, o inventor da camisinha como a conhecemos hoje. Seu coração não aguentou a felicidade de saber que poderia voltar à Alemanha após a derrota dos nazistas.
Ao contrário do que ele mesmo costumava dizer, Julius Fromm não nasceu nem com esse nome, nem na cidade de Poznan, na antiga Prússia. Na verdade, ele veio ao mundo com o nome de Israel, na pequena Konin, cidade que na época pertencia à Rússia e hoje faz parte da Polônia.
Quando Fromm tinha dez anos de idade, sua família decidiu emigrar para Berlim, em busca de uma vida melhor. Seus pais morreram ainda jovens e ele foi deixado com os irmãos mais novos, que passaram a ter que cuidar do próprio sustento. Como muitos judeus na virada do século na cidade, os Fromm garantiam a sobrevivência, de início, trabalhando na indústria do tabaco. Com a crescente mecanização da produção, Julius resolveu, então, frequentar cursos noturnos de química.
Em 1914, abriu seu primeiro negócio, no bairro berlinense de Prenzlauer Berg, na época uma área industrial e hoje uma das regiões mais procuradas pelos jovens da capital alemã. Era criada a Israel Fromm, voltada para a “produção e venda de perfumaria e artigos de borracha”.
A revolução do látex
Fromm tinha a sensibilidade de um bom homem de negócios: colocou no mercado o produto certo, na hora certa e no lugar certo. Depois de séculos de produção de preservativos feitos a partir de intestinos de animais ou até de borracha vulcanizada (a primeira camisinha moderna foi inventada por Charles Goodyear em meados do século 19), muito desconfortáveis e cheias de costuras, Fromm desenvolveu a camisinha feita com látex: sem cheiro, sem costuras e muito mais confortável.
O método inventado por ele para a fabricação de preservativos é utilizado até hoje: tubos de vidro são mergulhados em uma solução de borracha, que, depois de arrefecidas e secas, formam os preservativos finos e sem costuras.
Com a Primeira Guerra Mundial, os bordéis frequentados por membros do Exército se tornavam grandes focos de doenças sexualmente transmissíveis.
O medo de que uma rápida disseminação dessas doenças assolasse a população fez com que a camisinha se tornasse rapidamente um artigo indispensável, o que levou filhos de militares e jovens soldados a saber da existência do preservativo e aprender a maneira de usá-lo. Além disso, a incerteza daqueles tempos obrigou os governos, ainda que com relutância, a aprovar uma nova maneira de controle da natalidade.
Em 1916, Julius Fromm patenteou sua invenção, batizada de Fromms Act – em clara alusão ao ato sexual – e a produção em massa começou em 1922. As coisas iam tão bem na produção de Fromm – e nos avanços da liberação sexual durante a República de Weimar – que em pouco tempo ele estava capitalizado o suficiente para abrir filiais internacionais: de Antuérpia a Auckland, vários países foram tomados pelas camisinhas, que já eram chamadas somente de Fromms.
Um fim que chegou cedo demais
Em 1930, ele encomendou até mesmo uma nova fábrica aos arquitetos Arthur Korn e Siegfried Weitzman, no bairro berlinense de Köpenick. Mas o prédio, com arquitetura que seguia a Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit) da escola Bauhaus, tão progressiva quanto o produto de Fromm, não tardou a ser abandonado por seu dono.
Em 1938, a “arianização” da Alemanha, levada a cabo pelo partido nazista, fez com que Fromm fosse obrigado a vender sua fábrica a preços irrisórios para a baronesa Elisabeth von Epenstein – ninguém menos que a madrinha de Hermann Göring, antigo marechal do regime.
No ano seguinte, Julius Fromm, que antes dissera haver muitos Hitlers no mundo e que as propostas do ditador e do partido nazista eram apenas passageiras, viu-se forçado a partir para Londres, onde morreria em 1945, poucos dias depois da vitória dos aliados sobre os alemães. Diz a família que o coração do velho Fromm não aguentou a emoção de saber que poderia voltar para sua amada Alemanha.
A luta pelo nome
Era direito dos herdeiros de Fromm receber de volta a fábrica construída por ele e retomar os negócios com o fim da Segunda Guerra Mundial. O governo comunista da então Alemanha Oriental, entretanto, rotulou a indústria de Fromm como uma empresa “vinda do mal do capitalismo” e confiscou a fábrica. Os herdeiros de Fromm acabaram abrindo um novo negócio na Inglaterra, mas foram obrigados a comprar os direitos da patente do pai.
Até hoje, as Fromms, que no início eram vendidas “apenas por razões de saúde” – era proibido escrever nas embalagens que o preservativo servia para evitar uma gravidez –, são uma das marcas líderes de venda na Alemanha. No ano de 2007, um livro sobre a história de Fromm e sua fábrica foi escrito por Götz Aly e Michael Sontheimer.