Em 11 de março de 1990, a Lituânia foi a primeira república báltica a se desligar da União Soviética. O resultado da votação era indiscutível: os parlamentares lituanos aprovaram a independência do país por 142 votos a favor, nenhum contra e apenas seis abstenções de comunistas ortodoxos da minoria polonesa. Com isso, a Lituânia foi a primeira das três repúblicas do Mar Báltico a se desligar da União Soviética.

Povo guerreiro, mas sempre dominado

O grito de independência não foi nada espetacular para um povo descendente de tribos guerreiras que conseguiu deter a expansão germânica na Idade Média. Entre os séculos 14 e 16, a Lituânia tornou-se um dos países mais poderosos do Leste Europeu, com um território que se estendia do Mar Báltico, ao norte, até o Mar Negro, no sul.

No final do século 16, o país aceitou a dominação polonesa para se defender das ambições russas. Com a partilha da Polônia, nas últimas décadas do século 18, a Lituânia foi dividida entre a Rússia e a Prússia.

No século 19, surgiu no país um forte movimento nacionalista antirrusso, apoiado pela Igreja Católica. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a região foi disputada por Alemanha, Rússia e Polônia, mas permaneceu autônoma.

Na Segunda Guerra Mundial, voltou a ser invadida por russos e alemães, sendo anexada à União Soviética (URSS) em 1940. No ano seguinte, foi ocupada pela Alemanha nazista, que exterminou cerca de 210 mil pessoas, entre elas 165 mil judeus. Em 1944, foi retomada pela URSS.

Em defesa da cultura nacional

O movimento oposicionista, que sobreviveu às guerras e ao regime socialista, voltou a florescer nos anos 1980, com a abertura política ordenada pelo líder soviético Mikhail Gorbatchev. Em junho de 1988, diversos grupos e tendências dos dissidentes uniram-se a favor da Perestroika no chamado Movimento Lituano pela Reconstrução (Sajudis), que passou a organizar manifestações de massa contra a destruição do meio ambiente, a supressão da língua e da cultura nacionais e a “russificação” do país.

Pressionado pelo Sajudis, o Partido Comunista da Lituânia aderiu à Perestroika e Glasnost, acelerou as reformas e permitiu que representantes do movimento se candidatassem ao Soviete Supremo, em 1989. O Sajudis conquistou 36 cadeiras, contra seis do Partido Comunista. Essa vitória não alterou a relação de forças no Soviete Supremo, mas foi decisiva para a atuação do Parlamento da Lituânia, que passou a preparar a independência.

O Parlamento aprovou a Lei da Cidadania, adotou o lituano como idioma oficial e deu os primeiros passos rumo à privatização da agricultura. Nas eleições de fevereiro e março de 1990, o Sajudis obteve 95 das 141 cadeiras do parlamento lituano, elegendo Vitautas Landsbergis para a presidência.

Resistência russa

No dia 10 de março de 1990, o soviete lituano assumiu a função de “conselho superior” do país, o que, na prática, significou o fim da República Soviética da Lituânia. Um projeto de nova Constituição, que já havia sido elaborado pelo Sajudis no ano anterior, foi adaptado às pressas e aprovado no dia seguinte.

A URSS exigiu, sem sucesso, a revogação da nova Constituição, fazendo pressão através de um bloqueio econômico e uma frustrada tentativa de golpe por militares pró-soviéticos. A independência do país só foi reconhecida em agosto 1991, quando Boris Yeltsin assumiu o poder.

Em 1992, Vitautas Landsbergis tentou ampliar seus poderes através de um plebiscito, no qual saiu derrotado. O impasse levou à antecipação das eleições, vencidas pelos ex-comunistas do Partido Democrático Trabalhista Lituano (PDTL). Quatro anos após ser derrubado pelo voto popular, Landsbergis foi reeleito no segundo turno das eleições de 1996.