21/11/2022 - 5:48
“O povo da Bósnia tem a chance de agora deixar o horror da guerra para trás e alimentar a esperança de paz.” Assim avaliou o então presidente americano Bill Clinton o resultado da conferência de paz na base aérea de Dayton, no estado de Ohio (EUA). Nela, os presidentes da Sérvia, da Bósnia-Herzegovina e da Croácia acertaram a continuidade da existência da Bósnia, com uma parte croata-muçulmana e outra sérvia.
A capital, Sarajevo, permaneceu uma só e sob controle bósnio. Por sua vez, os sérvios mantiveram seu reduto Pale, assim como Srebrenica e Zepa, ex-zonas sob proteção da ONU. Uma tropa internacional de paz, comandada pelos Estados Unidos e sob responsabilidade da Otan, foi estacionada na Bósnia e na Croácia para fiscalizar o cumprimento do acordo.
O papel dominante coube aos Estados Unidos. Foi seu mérito a reunião dos presidentes bósnio, Alia Izetbegovic, sérvio, Slobodan Milosevic, e croata, Franjo Tudjman, para pôr fim à guerra de três anos na Bósnia-Herzegovina.
Entre Dayton e Champs Elysées
Na fase preparatória para o encontro em Dayton, dois acordos importantes já haviam sido firmados. Em 10 de novembro de 1995, a República Bósnia-Herzegovina e a Federação Bósnio-Croata acertaram a instituição da Federação Bósnia-Herzegovina e a definição de um governo de transição para a cidade de Mostar. Dois dias depois, em 12 de novembro, sérvio-bósnios e croatas firmaram um acordo-base sobre a Eslovênia Oriental, Barânia e Sírmio Ocidental, como pré-requisito para o tratado de paz de Dayton.
O Acordo de Dayton foi assinado oficialmente em Paris em 14 de dezembro de 1995. Dez chefes de Estado e de governo compareceram à cerimônia no Palácio Champs Elysées, além de representantes de cerca de 50 países e organizações participantes do processo de paz. Em seu discurso de abertura, o então presidente francês Jacques Chirac lembrou as vítimas da guerra:
“A esperança – que surge agora para todos os povos da ex-Iugoslávia – não nos deixa esquecer os 200 mil mortos da guerra. O conflito sangrento tem de ser deixado para trás, mas certamente deixará feridas no coração da Europa. O restabelecimento duradouro da paz será sobretudo tarefa dos países da região. Agora, todos os responsáveis devem partir para o capítulo da reconciliação. E, neste ponto, o exemplo de Adenauer e De Gaulle podem ser um grande modelo.”
Motivo de ressentimento para o anfitrião francês foi o Acordo de Paz da Bósnia não ter entrado para a história como “Tratado do Champs Elysées”, como ele gostaria. Em vez disso, continuou sendo chamado Acordo de Dayton, em referência ao local do centro-oeste americano onde os termos da paz foram negociados numa batalha de nervos, durante três semanas.