A raça humana ainda flerta com a autodestruição, mas já fabrica artefatos resistentes até a condições desconhecidas. Lançadas pela Nasa (a agência espacial americana) em 1977, as sondas Voyager continuam transmitindo dados de zonas do espaço muito além das missões para as quais haviam sido designadas. A Voyager 2, que partiu em 20 de agosto de 1977, aproveitou um alinhamento planetário raro para visitar Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. A Voyager 1 saiu depois, em 5 de setembro, e passou por Júpiter e Saturno. Ambas seguiram rumo ao espaço interestelar, atingido pela Voyager 1 por volta de agosto de 2012. E deverão continuar ativas durante a próxima década, graças a sistemas eletrônicos alimentados por pequenos geradores nucleares.

Cada sonda leva um exemplar do “Disco de Ouro”, um disco fonográfico de 12 polegadas (tal qual um LP de vinil), feito de cobre e folheado em ouro, no qual uma equipe liderada pelo astrônomo Carl Sagan inseriu 115 fotos e vários sons do nosso planeta para conhecimento do alienígena que o encontrar. A fama da missão Voyager rendeu pelo menos dois dividendos a Hollywood: Jornada nas Estrelas – O Filme (1979), cuja ação se desenrola em torno de uma fictícia sonda Voyager 6, e Starman – O Homem das Estrelas (1984), que mostra a vinda de um extraterrestre cuja civilização decifrou o Disco de Ouro de uma das sondas.

“Acredito que poucas missões podem ser páreo para as conquistas das naves Voyager durante suas­ quatro décadas de exploração”, declarou Thomas Zurbuchen, administrador associado da direção da missão, na sede da Nasa em Washington, em um comunicado relativo ao aniversário do lançamento. “Elas nos educaram para as maravilhas desconhecidas do universo e inspiraram autenticamente a humanidade a continuar a explorar nosso sistema solar e além.” Atualmente, as Voyager estão cruzando o espaço longe de planetas ou estrelas. Seu próximo encontro com um objeto cósmico não deve ocorrer antes de 40 mil anos, calculam os cientistas. Mas as observações enviadas por elas alimentam os pesquisadores com informações inéditas sobre as fronteiras do Sistema Solar, onde a influência do Sol vai caindo e começa o espaço interestelar.

A Voyager 1 já está há cinco anos no espaço interestelar, a cerca de 21 bilhões de quilômetros da Terra, voando em meio a material originário de estrelas que explodiram como supernovas há milhões de anos. É uma região segura para a nave, e suas observações revelam que a heliosfera – a enorme bolha de influência magnética do Sol – protege todo o nosso sistema da radiação cósmica. A Voyager 1 descobriu que os raios cósmicos (núcleos atômicos que viajam quase na velocidade da luz) são quatro vezes menos abundantes perto da Terra do que no espaço interestelar.

Já a Voyager 2 está a 18 bilhões de quilômetros da Terra e provavelmente entrará no espaço interestelar daqui a alguns anos. Suas observações a partir das fronteiras do Sistema Solar ajudam os cientistas a fazer comparações entre a heliosfera e o espaço interestelar. Quando a sonda cruzar a divisa, os pesquisadores poderão colher informações do meio interestelar a partir de duas fontes em posições diferentes. Os projetistas da missão tornaram as naves robustas para resistir ao ambiente de radiação severa em Júpiter. Mas os três geradores termelétricos de radioisótopos, que convertem o calor produzido pela decomposição radiativa de plutônio-238 em eletricidade, perdem cerca de 4 watts por ano.

Mesmo que se consiga prolongar a eficiência das naves, o último aparelho científico terá de ser desligado em torno de 2030, segundo a equipe da missão. Mesmo assim, as Voyagers continuarão sua jornada – já sem coletar dados –, voando a mais de 48.280 km/h e orbitando a Via Láctea a cada 225 milhões de anos. “Nenhum de nós sabia, quando lançamos as naves há 40 anos, que qualquer coisa ainda estaria funcionando e prosseguindo nessa jornada pioneira”, disse Ed Stone, cientista do projeto Voyager no Instituto de Tecnologia da Califórnia, na mesma declaração. “A coisa mais emocionante que elas descobrirão nos próximos cinco anos provavelmente será algo que não sabíamos que seria descoberto.”