02/11/2017 - 10:34
Um enorme complicador no segmento da exploração espacial é o fato de que, a princípio, tudo tem de sair da Terra já embarcado na espaçonave – ou seja, deve caber no cone do nariz de um foguete e resistir às duras condições do lançamento. E se pelo menos boa parte desse material pudesse ser fabricada e montada no espaço? Um substancial avanço nesse sentido foi anunciado em agosto pela empresa Made In Space, da Califórnia: uma impressora 3D criada por ela foi bem-sucedida em um teste realizado durante 24 dias de junho dentro de uma câmara de vácuo térmico (TVAC, na sigla em inglês) no Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, a agência espacial americana. A notícia abre caminho para a construção de grandes estruturas, como telescópios, fora da Terra.
Ao longo do período de testes, a impressora produziu vários objetos de liga de polímero, o maior dos quais era uma viga de 85 centímetros de comprimento. Foi a primeira vez que uma impressora 3D criou “estruturas estendidas” em um ambiente com semelhanças em relação ao do espaço (vácuo e temperaturas similares; a gravidade terrestre, porém, foi mantida), disseram representantes da Made In Space durante o evento de divulgação.
“Esse é um marco importante, porque significa que agora podemos desenvolver as coisas no espaço de forma adaptável e sob demanda”, disse Andrew Rush, diretor executivo da Made In Space. “Reduzimos significativamente o risco dessa tecnologia”. Imprimir em 3D na gravidade zero já não é um problema, e a própria Made In Space demonstrou isso. Ela fabricou as duas impressoras 3D instaladas a bordo da Estação Espacial Internacional (uma delas é de propriedade da Nasa, e a outra é da Made In Space, que a opera com fins comerciais).
Construção e montagem
A máquina testada em junho integra o sistema robótico Archinaut, desenvolvido pela Made In Space por encomenda da Nasa. Também fazem parte do Archinaut braços robóticos que, na proposta, vão trabalhar associados a uma ou diversas impressoras 3D com o objetivo de construir e montar estruturas em pleno espaço. “Acreditamos que a fabricação e a montagem robótica espacial vão revolucionar a maneira como projetamos e implantamos e operamos sistemas no espaço”, disse Steve Jurczyk, diretor da Direção da Missão de Tecnologia Espacial da Nasa, no evento de agosto.
Um exemplo claro dessa mudança seria a construção de telescópios muito maiores do que os atuais. A mão de obra para pôr em atividade o Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês), da Nasa, cujo lançamento está previsto para novembro de 2018 e que tem um espelho primário de 6,5 metros de largura, evidencia isso. Ao custo total de US$ 8,8 bilhões, o JWST deixará a Terra tão compactado que vai exigir mais de 80 operações separadas de disposição de componentes após a decolagem até ficar pronto para observar os céus, disse Jurczyk. A complicada estratégia daria conta de telescópios com espelhos primários de até 8 metros, mas a Nasa quer aparelhos maiores, com espelhos primários de 12 metros.
Aqui entram os avanços da Made In Space com o Archinaut. Para Rush, o sistema facilitaria e baratearia esse processo, ao deixar para os gerentes de missão a tarefa mais simples de lançar o material básico rumo à nave espacial equipada com três braços robóticos, responsável por construir o telescópio em órbita. A capacidade de trabalho do Archinaut não se limita a isso: segundo seus criadores, ele também poderá consertar e ampliar satélites em órbita. A Made In Space já tem sua programação para tudo isso. O próximo passo é integrar as operações da impressora e dos braços robóticos do Archinaut, seguido de uma missão de demonstração da tecnologia na órbita terrestre. A empresa calcula que o sistema estará em plena operação em meados da próxima década.