Além das mudanças climáticas, a América Latina enfrenta desmatamentos, incêndios florestais e perda de biodiversidade. Nesse contexto, surgem novas vozes que lideram a luta pela proteção do meio ambiente na região.Seguindo os passos da jovem ativista climática sueca Greta Thunberg na Europa, que encabeçou os famosos protestos Fridays For Future, muitas vozes da América Latina vêm se destacando na conscientização sobre as mudanças climáticas e seus efeitos na região.

“Dado o cenário climático e social da região [América Latina], onde, além da mudança climática, há uma taxa significativa de desmatamento e mudança no uso da terra para a agricultura, incêndios florestais intencionais, perda de biodiversidade, entre outros, o número de ativistas climáticos e de saúde aumentou significativamente”, diz Yasna Palmeiro, pesquisadora do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica do Chile, à DW.

“Infelizmente, esses ativistas precisam ter cuidado em sua luta por um planeta melhor. Muitos deles temem por suas vidas, tendo sido ameaçados até mesmo de morte”, acrescenta.

Em época de Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), que segue até o dia 12 de dezembro em Dubai, a DW reúne alguns dos perfis mais relevantes que buscam aumentar a conscientização sobre a emergência climática na América Latina.

Mercedes Pombo (Argentina)

É uma ativista climática, cofundadora da Youth for Climate Argentina e parte do grupo consultivo da sociedade civil da ONU Mulheres na Argentina.

“Na luta pelo clima, o componente da juventude não pode ser relegado a um nível simbólico”, escreveu Pombo no site da ONU Mulheres. Entre algumas das questões que ela defende, estão críticas à atual lei de zonas úmidas da Argentina.

“Como jovens, nos recusamos a herdar um futuro em que a fumaça faça parte do nosso cotidiano, bem como a esperar mais tempo para que o Congresso Nacional [da Argentina] salde a dívida pendente de uma lei de zonas úmidas”, diz Pombo em um artigo escrito para o portal argentino Infobae.

Paloma Costa (Brasil)

Uma nova geração de ativistas climáticos está nascendo no Brasil, e Paloma Costa é uma das vozes mais aplaudidas.

Ela liderou a delegação brasileira na Cúpula da Juventude para o Clima de 2019, além de ser consultora jurídica em direitos socioambientais, incluindo povos indígenas. Costa também é cofundadora do EduClima, um programa de educação climática para jovens e demandas juvenis.

“Nós somos os catalisadores da ação, esse é o desejo de nossa geração”, disse em declarações coletadas pela ONU.

Em 2020, ela foi eleita pela ONG Sachamama como uma das 100 latinas mais influentes na agenda climática.

Julieta Martínez (Chile)

Jovem ativista chilena, Martínez é a fundadora da Tremendas, uma plataforma coletiva de ação global, atualmente presente em 20 países da América Latina e do Caribe.

“A Tremendas se concentra em amplificar as vozes de meninas que estão na linha de frente diante de desastres climáticos, que estão em zonas de sacrifício ou que vivem esses tipos de problemas, mas muitas vezes não têm as ferramentas ou os recursos para encontrar soluções com base em suas próprias experiências”, disse em uma entrevista ao jornal espanhol El País.

Aos 16 anos, ela se tornou a primeira latino-americana a ocupar um cargo de consultoria em nível internacional, quando foi nomeada assessora da força-tarefa juvenil (Youth Task Force) da ONU Mulheres.

Também participou do Latin Women Economic Forum, de Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COPs) e da Semana do Clima de Nova York.

Francisco Vera (Colômbia)

Com apenas 13 anos, Vera foi nomeado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) como “primeiro defensor da ação ambiental e climática na América Latina e no Caribe”. Ele também é o fundador do grupo Guardianes por la Vida, que já conta com mais de 700 jovens que promovem “um planeta saudável, limpo e justo”.

Radicado na Espanha, Vera nasceu em Bogotá, na Colômbia, o país com o maior número de ambientalistas assassinados em 2022, de acordo com o último relatório da ONG Global Witness. Quase nove em cada dez homicídios de ambientalistas registrados em 2022 ocorreram na América Latina, e mais de um terço de todas as mortes aconteceram na Colômbia, mais do que em qualquer outro país, detalha o relatório.

Alex Lucitante e Alexandra Narváez (Equador)

Lucitante e Narváez são dois jovens equatorianos do povo Cofán, vencedores do Prêmio Goldman 2022, considerado o “Nobel do meio ambiente”.

Os dois lideraram um movimento para proteger o território ancestral de seu povo da mineração de ouro, uma atividade que afetou as fontes de água, o solo e o ar da comunidade.

Os organizadores do concurso destacaram a liderança deles e os classificaram como as faces visíveis dessa luta em uma comunidade que fica às margens do rio Aguarico e é formada por 56 famílias (cerca de 230 pessoas), de acordo com o portal Mongabay.

Xiye Bastida (México)

A ativista mexicana de origem Otomi-Tolteca conseguiu organizar protestos com mais de 300 mil pessoas em Nova York e tem milhares de seguidores nas redes sociais.

De mãe chilena e pai mexicano, Bastida é cofundadora da iniciativa Re-Earth, uma campanha que, em 22 de abril de 2020, mobilizou milhares de pessoas para participar de vários protestos digitais em todo o mundo contra a crise climática, e também colabora com o movimento Fridays For Future.

Em 2023, foi nomeada uma das 100 latino-americanas mais comprometidas com a ação climática, de acordo com uma lista compilada pela ONG Sachamama e pela agência de notícias EFE Verde.

Amaru Ruiz (Nicarágua)

O biólogo nicaraguense Amaru Ruiz Alemán, atualmente na lista de pessoas cuja nacionalidade foi retirada pelo governo de Daniel Ortega, é presidente da Fundación del Río, uma organização ambiental que atua há mais de 30 anos no sudeste da Nicarágua.

Desde 2018, Ruiz está exilado na Costa Rica, de onde continua sua defesa das áreas naturais no sul da Nicarágua e das comunidades indígenas e afrodescendentes.

Em 2021, participou da COP26 em Glasgow para atuar como observador e pedir ao Parlamento Europeu que abordasse a situação ambiental na Nicarágua.

Desde abril de 2018, quando eclodiram as manifestações contra Ortega, o governo autoritário fechou 3.390 ONGs – incluindo a Fundación del Río –, de acordo com um relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

“Todos por el Futuro” (Venezuela)

Vilisa, Karina, Dayalice, Dannalice e Diana são as fundadoras do movimento Todos por el Futuro, o primeiro grupo ativista que nasceu em Caracas, na Venezuela, no âmbito das Fridays For Future.

O grupo se soma a outras iniciativas, como a ONG venezuelana Fundaredes, que desde 2022 alerta para uma “grave emergência ambiental” que afeta os parques nacionais do país.

O Observatório Ambiental da Fundaredes qualificou como “ecocídio” a situação de alguns parques do país, como o Parque Nacional Waraira Repano, devido a “construções ilegais que demonstram a passividade do Estado venezuelano para fazer cumprir e respeitar as leis nessa área”, disse Elías Cáceres, coordenador do Observatório, em declarações publicadas no site da Fundaredes.