09/05/2024 - 14:42
WASHINGTON (Reuters) – Durante anos astrônomos procuraram planetas rochosos além do nosso sistema solar com uma atmosfera — característica considerada essencial para qualquer possibilidade de abrigar vida. Bom, eles finalmente parecem ter encontrado um. Mas esse planeta infernal — aparentemente detentor de uma superfície de rocha derretida — não oferece nenhuma esperança de habitabilidade.
Pesquisadores disseram nesta quarta-feira que o planeta é uma “super-Terra”, um mundo rochoso significativamente maior que nosso planeta, mas menor que Netuno, que orbita perigosamente perto de uma estrela mais fraca e com massa um pouco menor do que a do nosso Sol, completando uma volta a aproximadamente cada 18 horas.
Observações com infravermelho usando dois instrumentos do Telescópio Espacial James Webb indicaram a presença de uma atmosfera substancial — embora inóspita –, talvez continuamente abastecida por gases liberados por um vasto oceano de magma.
“A atmosfera é provavelmente rica em dióxido de carbono ou monóxido de carbono, mas também pode ter outros gases, como vapor de água e dióxido de enxofre. As atuais observações não conseguem precisar a composição exata da atmosfera”, afirmou o cientista planetário Renyu Hu, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa e da Caltech, principal autor do estudo publicado na revista Nature.
Os dados do Webb também não deixaram clara a espessura da atmosfera. Hu afirmou que pode ser tão espessa quanto a da Terra ou até mais do que a de Venus, cuja atmosfera tóxica é a mais densa do nosso sistema solar.
Chamado 55 Cancri e or Janssen, o planeta é cerca de 8,8 vezes mais massivo que a Terra, com aproximadamente o dobro do diâmetro do nosso planeta. Orbita sua estrela a 1/25 da distância entre o planeta mais interno do nosso sistema solar — Mercúrio — e o sol. E, por isso, a temperatura na superfície é de cerca de 1.725 graus Celsius.
“De fato, esse é um dos exoplanetas rochosos mais quentes que conhecemos”, afirmou o astrofísico e co-autor do estudo, Brice-Olivier Demory, do Centro de Espaço e Habitabilidade da Universidade de Berna, na Suíça, usando o termo para planetas que estão além do nosso sistema solar.
“Provavelmente há lugares melhores para passar férias na nossa galáxia.”
O planeta provavelmente está bloqueado, o que significa que fica perpetuamente com o mesmo lado voltado à sua estrela, da mesma forma que a lua faz em relação à Terra. O planeta fica na nossa galáxia Via Láctea, a cerca de 41 anos-luz da Terra, na constelação de Câncer. Um ano luz é a distância que a luz viaja em um ano, 9,5 trilhões de kms. Outros quatro planetas, todos gigantes e gasosos, orbitam sua estrela hospedeira até onde se sabe.
Após tanta procura, o exoplaneta rochoso onde os cientistas finalmente encontraram evidências de uma atmosfera acabou sendo um que provavelmente não deveria ter uma. Localizado tão perto de sua estrela, qualquer atmosfera deveria ser eliminada pela irradiação e pelos ventos estelares. Mas gases dissolvidos no vasto oceano de lava que estariam cobrindo o planeta podem continuar borbulhando para reabastecer a atmosfera, afirmou Hu.
“O planeta não pode ser habitável”, disse Hu, porque é quente demais para ter água líquida, considerada um pré-requisito para a vida.
Todos os exoplanetas com atmosferas encontrados anteriormente eram planetas gasosos, não rochosos. Com o Telescópio Webb ampliando as fronteiras da exploração de exoplanetas, a descoberta de um rochoso com uma atmosfera representa um progresso.
Na Terra, a atmosfera aquece o planeta, contém oxigênio que as pessoas respiram, protege contra a radiação solar e cria a pressão necessária para água líquida permanecer na superfície do planeta.
(Reportagem de Will Dunham)