23/05/2024 - 11:47
Noland Arbaugh é um americano de 30 anos que se tornou o primeiro a receber um chip da Neuralink, empresa de nanotecnologia fundada por Elon Musk, que tem a proposta de monitorar as atividades de neurônios para permitir que o usuário controle celulares e computadores apenas pelo pensamento.
Em uma entrevista ao Wired, o homem contou como é a experiência de utilizar o equipamento que foi implantado em seu cérebro em janeiro deste ano.
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O americano perdeu os movimentos do corpo em 2016, quando estava na faculdade. Noland conta que foi nadar com amigos em um lago e, ao mergulhar, bateu a cabeça em algo. No momento em que despertou, o homem percebeu que não conseguia se mexer e, posteriormente, médicos confirmaram uma paralisia do pescoço para baixo.
Noland teve que voltar para a casa dos pais e passou a ser cuidado por eles. O americano aprendeu a viver em uma cadeira de rodas e utilizar um iPad por meio de um bastão colocado em sua boca. O homem explica que passava os dias deitado em sua cama. “Estava tentando colocar minha vida de volta nos trilhos porque eu não fiz nada por cinco anos após o acidente. Comecei a aprender outros idiomas e coisas do tipo”, relatou.
Primeiras impressões do implante
O americano foi apresentado para a Neuralink por meio de um amigo. A empresa procurava voluntários para iniciar testes em humanos do BCI, ou ICC (Interface Cérebro-Computador – em tradução). “Era muito legal ver que um dos homens mais poderosos do mundo (Elon Musk) estava com interesse em ajudar pessoas portadoras de deficiência”, pontuou Noland.
A ideia do ICC é gerar uma espécie de “telepatia” em que o usuário consiga interagir com equipamentos eletrônicos a fim de ter uma melhor qualidade de vida. Em seu perfil oficial do X (antigo Twitter), Elon Musk já havia declarado que os primeiros a receberem o chip seriam aqueles que perderam os controles dos membros.
O aparelho, que não fica visível após ser inserido no paciente, é composto por uma série de cabos da espessura de fios de cabelo que se conectam a eletrodos e interagem dentro do cérebro do usuário.
Processo seletivo e início dos testes
Após se voluntariar para os testes, Noland teve de realizar uma série de exames psicológicos e do cérebro, além de passar por entrevistas. “O tempo todo eu tentava deixar minhas expectativas baixas porque não queria esperar muito e depois ficar decepcionado”, contou o americano, explicando que era difícil não ficar ansioso no início do processo.
“Houve algumas coisas que me deixaram receoso, mas não chamaria de preocupações. […] Eu sou tetraplégico e tudo que eu tenho é meu cérebro. Por isso, deixar alguém mexer nele era uma grande questão. Se algo desse errado, era o fim para mim”, contou Noland sobre suas apreensões quanto à cirurgia.
Mesmo assim, o americano sentiu que precisava ajudar e prosseguiu com os procedimentos. “Tinha total fé na Neuralink”, declarou o americano.
Após a cirurgia, funcionários da companhia de Musk apresentaram a Noland uma tela que mostrava os sinais do cérebro que eram captados pelo chip. Para calibrar as interações com computadores, os empregados da Neuralink pediram para que o americano tentasse mexer um dedo, mesmo não sendo capaz de fazê-lo.
Apesar de não conseguir movimentar os membros, os neurônios de Noland tinham um pico de atividade. O dedo da mão com maior sinal cerebral detectado pelo chip foi colocado para servir como o clique. “Apesar de não conseguir me mover, eu posso tentar. Os sinais ainda acontecem no meu cérebro”, esclareceu o americano.
Uso no dia a dia
Depois de alguns meses, o chip funciona no Macbook, computador da Apple, mas a Neuralink planeja expandir os serviços para outros dispositivos. “Estou constantemente fazendo multitarefas. Posso colocar um audiobook, algo na minha televisão e jogar videogame ao mesmo tempo. Tudo que eu tenho que pensar é onde deixar o cursor”, contou Noland.
Apesar de um início promissor, dentro dos primeiros 100 dias, alguns fios do chip se desconectaram do cérebro do americano, o que causou uma mudança nas funcionalidades do software. “Eu nunca antecipei que isso pudesse acontecer comigo. Tinham coisas que eles não esperavam do cérebro humano, como o tanto que ele se movimenta”, explicou Noland.
Em duas semanas, o chip foi recalibrado. “Eu estava jogando e de repente ficou melhor”, relatou o americano, acrescentando que foi feito apenas um pequeno ajuste em um dos lados do implante. “(O ICC) Me fez sentir menos desamparado e menos como um fardo. Me tornou mais independente”, reiterou.
Noland espera utilizar o aparelho pelo máximo de tempo possível e até o momento em que ele e a Neuralink sentirem que estão sendo beneficiados.