Estamos exaltando corpos não saudáveis? Nas mídias sociais, pessoas gordas defendem o respeito à diversidade dos corpos, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) fala em epidemia de sobrepeso e obesidade. E trata o excesso de gordura no corpo como uma doença.

Existe aí um paradoxo? “É possível você ser portador de obesidade e ser uma pessoa saudável também? É possível, mas não deixa de termos algumas complicações, e os estudos demonstram isso”, diz o endocrinologista Gustavo Daher.

No Brasil, mais da metade da população adulta está com sobrepeso ou tem obesidade, que é quando o IMC está igual ou acima de 30. O chamado Índice de Massa Corporal é a divisão do peso pela altura ao quadrado. E como falou o endocrinologista, de fato diferentes estudos já documentaram os riscos de um IMC muito alto: diabetes, problemas cardiovasculares, de mobilidade…

A questão é que vários ativistas contra gordofobia criticam a noção de saúde baseada somente em números e exames clínicos. Eles não bastariam, da perspectiva do ativismo, para dizer que uma pessoa é saudável ou não.

“A gente precisa pensar o que é ser saudável. O que é ser saudável no nosso mundo hoje? Onde as pessoas não comem, onde as pessoas estão extremamente estressadas. Onde existe uma cobrança muito grande dos trabalhos. O que é ser saudável no mundo?”, questiona a filósofa e ativista Malu Jimenez.

O que o empoderamento dos corpos gordos faz é chamar atenção para o aspecto social desse debate. Estamos falando de uma parcela da população historicamente estigmatizada, associada a doenças, incapacidade.

Por anos fomos levados a acreditar, por exemplo, que uma pessoa era gorda porque queria, por desleixo. O que contribuiu para uma espécie de naturalização do deboche.

Hoje sabemos que não se trata de uma característica física meramente comportamental. Muito menos que pessoas gordas militam por uma recusa da medicina.

“A primeira coisa que a gente precisa ter noção é que o movimento, esses movimentos de aceitação corporal, eles não são movimentos contrários à saúde”, afirma a nutricionista Pabyle Flauzino.

Essa é uma opinião compartilhada por diversos especialistas. Até porque reconhecer na obesidade uma doença crônica tratável não se opõe à luta pela legitimação de corpos gordos e o combate à gordofobia. São duas coisas diferentes. “Tratar obesidade como doença não invalida o respeito às diferenças dos corpos”, acrescenta Gustavo Daher.