Um estudo publicado na revista “Cell” no dia 27 de junho buscou entender se a extinção do mamute-lanoso ocorreu devido à consanguinidade e o endocruzamento – reprodução entre indivíduos que estão geneticamente próximos e possuem relação de parentesco – após as populações ficarem isoladas na Ilha de Wrangel, na Sibéria, há cerca de quatro mil anos.

Os mamutes viviam no norte do Hemisfério Norte durante seu apogeu, ocorrido na Era Glacial, mas ficaram isolados na ilha após o aumento do nível do mar há cerca de dez mil anos. As informações são da “The Conversation”.

A ideia da pesquisa era desvendar se os espécimes estavam condenados à extinção por meio da análise do conjunto de genomas de 21 mamutes, abrangendo cerca de 50 mil anos, incluindo o Lonely Boy (Menino Solitário – em tradução livre), referido frequentemente como o “último mamute da Terra”, que representou a peça-chave do estudo.

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A endogamia, relação entre indivíduos de mesmo parentesco, pode ocasionar problemas de malformação em seus descendentes. Um dos exemplos mais conhecidos é a “mandíbula dos Habsburgo”, nome popular do prognatismo mandibular, condição em que o maxilar é pronunciado para frente. O termo foi criado após vários membros da família real dos Habsburgo, que governaram a Áustria e a Espanha, apresentarem a patologia depois de gerações de casamentos consanguíneos.

Os endocruzamentos são comuns entre populações de animais pequenas e isoladas, como é o caso dos mamutes que permaneceram na Ilha de Wrangel. A prática pode ocasionar em efeitos negativos que se acumulam durante as gerações, o que leva a inviabilidade da espécie e, posteriormente, à extinção.

Análise do Lonely Boy

O sequenciamento do DNA do Lonely Boy levou cerca de dez anos, por conta de os pesquisadores descobrirem uma contaminação na amostra. os cientistas utilizaram alvejante para remover as “impurezas”, entretanto, parte do genoma do animal foi destruído no processo, o que culminou em genes que não possuíam alta qualidade.

Com isso, os pesquisadores optaram por comparar diferentes extrações do DNA do Lonely Boy e obtiveram o resultado de genes que pertenciam a indivíduos diferentes. A teoria estabelecida foi de que o espécime possuía a “síndrome do gêmeo desaparecido” – rara possibilidade de um mamífero absorver o material genético de outro feto durante a gestação – o que explicaria as amostras serem similares, mas não idênticas.

Foi constatado que haviam “artefatos de laboratório” – algo que causa dificuldade na interpretação do material em análise – no DNA que deixaram uma falsa variação genética, se tornando necessário estabelecer um outro filtro de remoção dos “artefatos” para estudo do genoma. Mesmo assim, o Lonely Boy ainda se mostrava como “atípico”.
Os cientistas optaram, ainda, por datar novamente o DNA, chegando à informação de que o Lonely Boy não viveu há quatro mil anos, mas sim há 5.500 anos, o que não o torna o “último mamute da Terra”.

Motivos para extinção

Depois do estudo, os pesquisadores determinaram que o endocruzamento provavelmente não foi o fator determinante para a extinção dos mamutes. Na realidade, dados genômicos obtidos a partir de simulações de computador sugerem que a população dos animais diminuiu drasticamente após o isolamento na Ilha de Wrangel, com apenas oito indivíduos reprodutores permanecendo.

Posteriormente, a população chegou ao tamanho de 300 animais dentro de 20 gerações e não houve alteração significativa nos níveis de consanguinidade durante este período, já que se mantiveram estáveis. Entretanto, apesar de mutações muito prejudiciais serem eliminadas durante o tempo, as levemente danosas se acumularam.

Prever o efeito de tais mutações é um desafio, ainda mais para espécies extintas. A comparação com doenças humanas conhecidas sugere que algumas das mutações prejudiciais perdidas poderiam ter sido importantes para o desenvolvimento da visão e audição dos espécimes.

Mesmo assim, tal fator não teria sido determinante no desaparecimento dos animais, já que a extinção ocorreu rapidamente. Os pesquisadores estipulam que a epidemia de uma doença ou um evento climático teria acabado com a população de mamutes repentinamente.