Israel lança primeiros ataques retaliatórios no Líbano após ataque que matou 12 crianças e adolescentes israelenses. “Estamos nos aproximando do momento em que enfrentaremos uma guerra total”, diz ministro israelense.O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, advertiu que a milícia terrorista libanesa Hezbollah “pagará um alto preço” após um ataque no sábado (27/07) que resultou na morte de 12 civis crianças e adolescentes israelenses na cidade de Majdal Shams, nas Colinas de Golã, uma região ocupada por Israel desde 1967.

A explosão também deixou cerca de 30 pessoas feridas, que foram levadas a vários hospitais da região. Três delas, de 11, 12 e 14 anos, ainda estão em estado crítico.

“Guerra total”

O ataque de sábado elevou temores de eclosão de uma nova guerra aberta e total entre Israel e o Hezbollah, grupo fundamentalista baseado no Líbano que é apoiado pelo Irã.

Neste domingo (28/07), Israel lançou seus primeiros ataques retaliatórios, bombardeando sete regiões no interior e no sul do Líbano simultaneamente na madrugada. Os ataques tiveram como alvo as áreas de Sabrinha, Borj El Chmali, Beka’a, Kfar Kila, Rab a-Taltin, al Khyam e Tir Hafa, segundo um comunicado militar.

Israel acusou o Hezbollah de disparar um foguete a partir do Líbano, que acabou atingindo as crianças, que participavam de uma partida de futebol. A região é habitada especialmente por drusos, uma minoria étnica e religiosa de língua árabe alinhada com o Estado israelense e cujos membros servem nas Forças Armadas do país.

Esse foi o ataque mais mortífero contra civis israelenses desde a ofensiva terrorista lançada pelo grupo palestino Hamas em 7 de outubro, que foi o estopim para que Israel invadisse a Faixa de Gaza.

Ainda no domingo, o Ministério das Relações Exteriores de Israel acusou o Hezbollah de cruzar “todas as linhas vermelhas” e também fez acusações contra o Irã. “Não há dúvida de que o Hezbollah ultrapassou todas as linhas vermelhas e a resposta refletirá isso”, afirmou o ministro Israel Katz, ao Canal 12 de Israel. “Estamos nos aproximando do momento em que enfrentaremos uma guerra total”, acrescentou.

O governo israelense também insistiu ainda que está na hora de o mundo responsabilizar totalmente o Irã e seus aliados, apontando para o Hezbollah, o Hamas e os rebeldes houthis do Iêmen, que por sua vez atacaram Tel Aviv no último fim de semana, matando uma pessoa “O Hezbollah, o braço longo do Irã, direcionou seus disparos contra a população civil. O Hezbollah não faz distinção entre judeus e não judeus, e seu objetivo é matar cidadãos israelenses, sejam eles quem forem”, enfatizou.

O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, reiterou em comunicado que o Hezbollah foi responsável por este ataque, apesar de nos seus canais oficiais o grupo armado negar ter atacado este campo de futebol. Já a Síria, outra aliada do Hezbollah acusou Israel de lançar o ataque para culpar o grupo libanês. “A entidade de ocupação israelense cometeu um crime hediondo ontem na cidade de Majdal Shams, no Golã sírio ocupado desde 1967, e depois culpou a resistência nacional libanesa (Hezbollah) por seu crime”, disse o governo sírio.

O Irã, por sua vez, alertou Israel neste domingo para que não realize “novas aventuras” no Líbano. “Qualquer ação ignorante do regime sionista poderia levar a uma maior instabilidade, insegurança e guerra na região. O regime (israelense) será o principal e definitivo responsável das consequências e reações imprevistas de um comportamento tão estúpido”, disse um porta-voz iraniano.

Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores de Israel insistiu que, apesar de negar, o Hezbollah é a “entidade inequivocamente responsável pelo massacre”, já que o foguete – um Falag 1 com uma carga explosiva de 53 quilos – usado era de fabricação iraniana e o grupo libanês possui esse modelo em seu arsenal.

Condenação

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, condenou hoje o ataque nas Colinas de Golã e pediu para as partes envolvidas no conflito agirem com calma. “Durante meses, os cidadãos israelenses têm sido atacados pelo Hezbollah e por outros extremistas. Os ataques pérfidos devem parar imediatamente. Agora é importante agir com a cabeça fria. Muitas pessoas já morreram nesse conflito”, declarou a ministra alemã na rede social X.

Os Estados Unidos, por sua vez, reiteraram, um “inabalável” compromisso com a segurança de Israel. Um porta-voz da Casa Branca disse que Washington condenava o “atroz ataque” de sábado. “Israel continua enfrentando sérias ameaças à sua segurança, como o mundo viu hoje, e os Estados Unidos continuarão apoiando os esforços para acabar com estes terríveis ataques”, disse o porta-voz. “Nosso apoio à segurança de Israel é inabalável e inalterável contra todos os grupos terroristas apoiados pelo Irã, incluindo o Hezbollah”, acrescentou.

Já a ONU pediu ao governo de Israel e ao Hezbollah, na madrugada deste domingo, que exerçam “o máximo de moderação” para evitar que a região seja imersa “em uma catástrofe inacreditável”. “Pedimos às partes que exerçam o máximo de moderação e acabem com a atual intensificação das trocas de tiros, que podem levar a uma conflagração mais ampla que mergulharia toda a região em uma catástrofe inacreditável”, afirmou uma mensagem publicada pela missão da ONU no Líbano (Unifil).

Funeral

Milhares de pessoas se reuniram neste domingo em Majdal Shams, nas Colinas de Golã, para se despedir das crianças que morreram no sábado. “As imagens do horror nunca serão apagadas”, leu o líder espiritual Sheikh Mowafaq Tarif na cerimônia, marcando o dia anterior como um “sábado sombrio” que permanecerá “gravado na memória como um ponto baixo da humanidade”.

Em uma praça no coração da cidade drusa, milhares de cidadãos, a maioria vestidos de preto, se alinharam nas ruas, telhados e varandas enquanto passavam os caixões brancos dos mortos, com idades entre 10 e 16 anos.

Alguns dos ministros do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu presentes no funeral, como o das Finanças, Bezalel Smotrich, e o da Economia, Nir Barkat, foram vaiados e xingados por alguns dos presentes.

“Tire-os daqui, nós não os queremos”, gritou um homem. “Vocês nos abandonaram por nove meses e agora estão aqui?”, questionou outro participante.

jps (EFE, AFP, Lusa, ots)