“Amanhã, todos os eleitores devem comparecer às urnas e votar para o primeiro Parlamento federal. Quem não votar agora, obviamente não vai ter direito de reclamar depois.” Na noite de 13 de agosto de 1949, um sábado, Wilhelm Kaisen, presidente da Assembleia de Bremen, convocava pelo rádio para a primeira eleição realizada na República Federal da Alemanha.

Tratava-se do primeiro pleito livre após 17 anos, depois de Adolf Hitler abolir a democracia e o nazismo ascender ao poder. A Alemanha estava em ruínas e o país acabara de se constituir – a Segunda Guerra Mundialhavia terminado apenas quatro anos antes. Agora, apenas alguns meses após a fundação da República Federal da Alemanha, chegava novamente a hora: em 14 de agosto, os alemães são chamados a eleger um parlamento numa eleição livre e democrática.

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“Não foram apenas as primeiras eleições federais, mas também as primeiras eleições livres desde o outono de 1932, na fase final da República de Weimar, assolada pela crise”, explica o historiador Benedikt Wintgens à DW. “O colapso da civilização e a Segunda Guerra Mundial com todas as suas consequências” situam-se no meio. “A este respeito, foi um novo começo na votação, na democracia, e também na chegada a um quadro estatal que não existia”, completa.

No entanto, nem todos os alemães estão autorizados a votar. Após a guerra, o país foi dividido em zonas de ocupação administradas pelas quatro potências vitoriosas. As três ocidentais – Estados Unidos, Reino Unido e França – permitem eleições, enquanto a União Soviética instala um sistema comunista sem eleições livres na sua zona ocupada no leste.

Em consequência do agravamento das tensões entre as três potências ocidentais e a União Soviética, as assembleias das zonas de ocupação ocidentais haviam convocado um Conselho Parlamentar. Este redigira a Constituição e aprovara uma lei que regulamentava as eleições parlamentares.

A campanha eleitoral na Alemanha ainda coberta de escombros foi modesta, com muita improvisação e o empenho pessoal dos candidatos em seus distritos eleitorais.

Domínio de dois partidos

A União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social Democrata (SPD), ainda hoje dois dos maiores partidos da Alemanha, já dominavam o cenário político.

A CDU tinha fortes representantes: Konrad Adenauer, que presidira o Conselho Parlamentar e concorria ao cargo de chanceler federal, e Ludwig Erhard, pai da reforma monetária e da economia de livre mercado. Ambos defendiam a integração da República Federal da Alemanha no mundo ocidental e o fortalecimento da economia de mercado. O candidato da social-democracia era Kurt Schumacher.

Governo de coalizão

O índice de comparecimento às urnas no domingo 14 de agosto foi alto: 78,5%. Os dois principais partidos quase empataram: a CDU obteve 31% e o SPD, 29,2% dos votos. Ao todo, conseguiram ingressar no Bundestag representantes de oito partidos políticos e três candidatos independentes, que se elegeram diretamente em seus distritos eleitorais.

A CDU formou uma coalizão com o Partido Liberal (FDP) e o então Partido Alemão (DP) e, numa sessão realizada em 15 de setembro, o Bundestag elegeu Konrad Adenauer o primeiro chanceler federal com maioria de apenas um voto.

Adenauer e seu ministro da Economia, Ludwig Erhard, foram responsáveis pelo “milagre econômico” que caracterizou os primeiros anos de existência da República Federal da Alemanha, mas também pela estagnação político-social do país. O SPD precisou amargar o papel de partido da oposição até 1967, quando formou uma ampla coalizão com a CDU.