01/09/2024 - 13:22
A AfD pode vencer votações na Saxônia e na Turíngia, algo tido como pesadelo para muitos estrangeiros. Entretanto, há aqueles que até querem votar na legenda.Dia desses, voltou a ocorrer no trem. A fiscal pediu a todos os passageiros que mostrassem suas passagens. A assistente social Nour Al Zoubi foi a única pessoa do compartimento que teve de mostrar, além da passagem, uma identificação adicional. Caso contrário, ameaçou a fiscal, ela chamaria imediatamente a polícia. Situações como essa são normais há muito tempo para essa mulher de origem síria que trabalha como assessora no Conselho para Refugiados da Turíngia.
“Existe esse racismo cotidiano”, diz ela em uma entrevista à DW. “Depois de seis anos em Gera, já estou acostumada”, acrescenta.
Al Zoubi não tem planos de ir embora, mesmo após uma possível vitória da legenda de ultradireita AfD, nas eleições regionais.
Ela diz que a Turíngia é seu lar. Al Zoubi recebeu o Prêmio de Integração da cidade de Gera, com 95 mil habitantes, em 2020, por um projeto de jornal com refugiados. Após o incidente no trem, duas mulheres mais velhas lhe deram apoio – talvez esse seja outro motivo pelo qual ela se sente encorajada a ficar.
Tom cada dia mais ríspido
“O número de eleitores da AfD aumentou, mas também aumentou o número de alemães que são a favor de uma cultura de acolhimento de estrangeiros”, ressalta. No entanto, ela também conhece pessoas que estão pensando em deixar a Turíngia se a AfD vencer as eleições. “Mas nem todos os migrantes da Turíngia conseguem fazer isso. Os refugiados e requerentes de refúgio são obrigados a permanecer na Turíngia por três anos devido às restrições de residência.”
O tom em relação aos imigrantes tem sido cada vez mais ríspido no país há algum tempo, e o ataque com faca em Solingen, que deixou três mortos, provavelmente alimentará ainda mais esse clima.
Qual é a maior preocupação dela se houver uma guinada para a direita no dia da eleição?
“Veremos ainda mais racismo nos espaços públicos, em um nível mais elevado. Não apenas insultos, mas também violência física. É isso que eu temo, especialmente quando você ouve o que acabou de acontecer em Southport, no Reino Unido”, diz.
Medo de uma vitória da AfD
A cerca de 150 quilômetros a leste, Ismail Davul tem pensamentos semelhantes em Dresden. Nascido na Turquia, ele veio para a Saxônia em 2006 para estudar e agora trabalha no Conselho de Estrangeiros da cidade há quase 11 anos.
“Algumas pessoas já me perguntaram o que significará se a AfD vencer. E o clima é muito claro: as pessoas estão com medo”, explica. “Algumas pessoas já estão dizendo que planejam ir embora se a AfD vencer”, admite Davul.
Ele e sua equipe tentam tranquilizar as pessoas, lembrando que os partidos democráticos no conselho da cidade lutariam contra a guinada para a direita, que a situação não mudaria da noite para o dia e que o Conselho de Estrangeiros e muitas organizações da sociedade civil ainda estão vigilantes. “Mas, infelizmente, também faz parte da triste realidade da nossa cidade o fato de que as autoridades estão cada vez mais ouvindo falar de ataques contra migrantes”, disse o assistente social à Deutsche Welle.
“No passado, esses eram casos individuais muito raros em que um imigrante era atacado. Também havia muito mais atenção da mídia naquela época. Agora, recebemos todos os dias relatos de que esse ou aquele imigrante é atacado, agredido ou cuspido. Por causa de sua aparência, cor da pele ou sotaque. Infelizmente, isso é quase uma coisa quase natural nas ruas hoje em dia.”
A AfD também atrai os imigrantes
Embora muitos imigrantes estejam preocupados com uma vitória eleitoral da AfD nos estados da Turíngia e da Saxônia, há outros que estão determinados a votar no partido de ultradireita, a mesma legenda que repetidamente prega contra os refugiados e que tornou o termo “remigração” socialmente aceitável.
Özgür Özvatan, sociólogo da Universidade Humboldt, em Berlim, diz que a AfD atraiu especialmente os eleitores de origem turca do presidente turco Erdogan e os alemães étnicos da Rússia. “Antes de tudo, a mensagem é agarrar as pessoas por seu orgulho nacional e dizer que não é fundamentalmente errado tê-lo. Um vídeo pró-Erdogan, por exemplo, atrai emocionalmente os de origem turca. E para os russo-alemães, há a narrativa de que eles tiveram que abandonar seu idioma, que se esperava que eles falassem alemão correto o mais rápido possível, que eles ainda são invisíveis aqui e que tiveram que abandonar tudo há 30 anos.”
Assim, a narrativa da AfD para os eleitores migrantes é a seguinte: “Naquela época, vocês tinham que trabalhar duro para conseguir tudo, enquanto os novos refugiados estão recebendo tudo”. Özvatan explica que, embora isso não resista à verificação de fatos, serve para alimentar supostas verdades percebidas.
Especialmente nas mídias sociais, como o TikTok, a AfD está fazendo uma campanha intensa para obter os votos dos jovens imigrantes, com muito dinheiro e também com a ajuda de influenciadores imigrantes. De acordo com o cientista político, o cálculo é simples: ele só pode se tornar um partido popular com os votos de pessoas com histórico de imigração.
“A AfD aprendeu a se comunicar com grupos-alvo específicos nas novas plataformas de mídia social. E entendeu muito bem que o algoritmo permite que posições quase contraditórias sejam divulgadas simultaneamente nesse mundo da mídia social. Acima de tudo, há uma vantagem competitiva estrutural para os partidos antidemocráticos: conteúdo abreviado e falso tem um potencial de viralização maior.”