07/09/2024 - 11:42
Com abordagem inovadora, 26 fundos de água implementam soluções coletivas para tentar garantir segurança hídrica na região, que sofre com estiagens e seca.A situação é grave, mas a iniciatica pretende estar à altura do desafio: aliviar a escassez de água na América Latina.
“Os desafios da água na América Latina são enormes e complexos. A região está enfrentando uma pressão crescente sobre seus recursos hídricos, devido às mudanças climáticas, ao crescimento populacional, à urbanização e à poluição”, diz Mauro De la Vega, diretor do Fundo Uruguaio da Água, em entrevista à DW.
“Países como México, Peru e Chile são particularmente afetados”, afirma. “Trinta por cento da água adequada para consumo humano é encontrada na América Latina. No entanto, 160 milhões de pessoas não têm água na região”, diz a Aliança Latino-Americana de Fundos de Água em seu vídeo de apresentação.
O Brasil, por exemplo, vive a sua pior seca em 70 anos, inpulsionando recordes de queimadas.
Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostra que, em agosto, 71% das cidades brasileiras estavam vivendo algum grau de seca, um total de 3.978 municípios. Em seca severa, havia 232 cidades. E a situação pode piorar em setembro, uma vez que a previsão é de atraso no início da estação chuvosa.
Magnitude do fenômeno
“A água é distribuída de forma muito desigual pelo território, e muitas das grandes cidades da região estão localizadas em regiões semidesérticas ou desérticas”, explica Melissa Boisson, representante da aliança.
“A América Latina é uma região muito vulnerável aos efeitos hidrometeorológicos da mudança climática, como secas e inundações”, aponta.
“Os mais afetados são sempre as populações mais pobres, crianças e mulheres: sua vulnerabilidade os expõe a sofrer diretamente”, diz Manuel Guerrero, secretário técnico do Fundo de Água da Costa Rica, Agua Tica.
A ferramenta que quer mudar a história
“Os fundos de água são mecanismos de ação coletiva que envolvem diferentes setores da sociedade na proteção e no gerenciamento sustentável das bacias hidrográficas”, diz De la Vega.
Esse modelo de parceria nasceu na região e já foi replicado na América do Norte, Europa, Ásia e África.
De fato, uma das características específicas desses fundos é a ação conjunta de diferentes atores: instituições públicas, privadas, da sociedade civil e acadêmicas, entre outras.
O primeiro fundo de água foi criado em Quito, Equador, em 2000. Hoje, já existem 26 fundos distribuídos em 11 países do continente, que estão agrupados na Aliança Latino-Americana de Fundos de Água. A aliança recebeu o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outras organizações multilaterais de financiamento.
Como funcionam?
Uma vez identificadas as principais partes interessadas para a boa gestão da água em uma bacia, o fundo de água se aproxima delas e gera as condições necessárias para o diálogo, às vezes atuando como uma ponte entre os diferentes setores.
O fundo de água fornece informações científicas para a identificação e a priorização dos desafios a serem resolvidos, de modo que a tomada de decisões seja baseada na ciência e incorpore as diferentes visões e possíveis soluções para melhor contribuir com a segurança hídrica das cidades.
Visão geral das conquistas
“Implementamos com sucesso vários projetos, tanto como uma aliança em nível regional quanto com o trabalho dos fundos de água em nível local’, diz Boisson, que também é diretora de Segurança Hídrica da Fundação FEMSA do México.
“Os fundos de água reuniram mais de 340 partes interessadas públicas e privadas para apoiar suas ações. Até agosto de 2024, eles realizaram intervenções para melhorar as condições de segurança hídrica em mais de 565 mil hectares, beneficiando diretamente mais de 137 mil famílias, explica.
Da mesma forma, a organização investiu mais de 50 milhões de dólares na “identificação, criação e consolidação dos fundos de água”.
O momento é hoje
O desafio, presente e futuro, é enorme. “Até 2040, Peru, Chile, México, República Dominicana e Argentina provavelmente serão os países mais afetados pelo estresse hídrico, e 43% da população da América Latina e do Caribe viverão em áreas de estresse hídrico moderado a extremo, de acordo com a Superintendência Nacional de Serviços de Saneamento do Peru”, observa Boisson.
“Durante muito tempo, pensamos que os recursos hídricos eram infinitos e sempre disponíveis, mas isso não é verdade”, diz Guerrero sobre um sentimento ainda presente em alguns setores da população.
“Embora haja uma conscientização crescente sobre a gravidade da situação, ainda há muito a ser feito”, diz De la Vega. “Em alguns setores, especialmente entre jovens e comunidades afetadas, a conscientização é alta. Entretanto, ela precisa ser traduzida em ações concretas por todos os atores da sociedade”, afirma.