25/09/2024 - 9:09
Fenômeno traz riscos para a saúde e, em casos graves, pode causar até morte. Sabia como se prevenir.O inverno de 2024 foi o segundo mais quente já registrado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) desde o início da medição em 1961, com temperatura média de 23,1°C, ficando atrás apenas do ano passado, quando o índice chegou a 23,3 °C. As temperaturas devem continuar altas com chegada da primavera. Nesta semana, o Brasil enfrenta sua sétima onda de calor do ano.
A previsão é de que recordes de calor sejam registrados até sexta-feira (27/09) em ao menos cinco capitais do Centro-Oeste e Sudeste. A notícia chega como um alerta para a população que pode sofrer com uma condição chamada estresse térmico, que traz riscos para a saúde e ainda é pouco conhecida.
O estresse térmico ocorre quando o corpo é exposto a temperaturas extremas, baixas ou altas, mas principalmente calor intenso, e não consegue se resfriar adequadamente e se manter nos 36,5°C – ideal para o nosso organismo. É diferente de insolação e golpe de calor, causados pela exposição ao sol, e no caso do segundo também por esforço físico excessivo num ambiente quente.
Um índice chamado bioclimático que analisa não apenas a temperatura, mas o conforto fisiológico do corpo humano diante de algumas condições específicas como o calor, umidade do ar, vento e índice de radiação, é utilizado para avaliar o estresse térmico.
“O corpo humano tende a manter a temperatura constante entre 36 e 37 °C. Quando as temperaturas se elevam o corpo dá início a mecanismos para resfriamento, como a transpiração. Transpiração em excesso sem a adequada reposição de fluídos e eletrólitos pode levar a perda da capacidade de controlar a temperatura, havendo aumento muito significativo da temperatura corporal”, explica Marcelo Franken, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Problemas para a saúde
O estresse térmico faz com que o corpo perca água e sais minerais em excesso podendo acarretar problemas de saúde que vão desde um leve desconforto, cansaço e tontura até condições mais graves, como exaustão pelo calor e desidratação.
A frequência cardíaca e a pressão arterial podem aumentar, como um mecanismo compensatório ao calor extremo do corpo, podendo evoluir para um choque térmico, confusão mental e convulsões. Em quadros mais graves e extremos, a condição pode causar falência de múltiplos órgãos e óbito. Idosos, crianças e pessoas com comorbidades são os mais suscetíveis.
“O coração é um dos órgãos que mais é comprometido, podendo causar arritmias, aumento da pressão arterial e, em casos mais severos, pode até resultar em uma parada cardíaca, especialmente em pessoas com condições cardíacas preexistentes”, acrescenta Diego Gaia, cirurgião cardiovascular do Hospital Santa Catarina – Paulista e professor na Universidade Federal de São Paulo.
Para amenizar os sintomas do estresse térmico, os especialistas recomendam manter o corpo hidratado, dando preferência para ingestão de água, água de coco ou isotônicos, ingerir alimentos frescos, pouco gordurosos e calóricos, procurar permanecer em locais frescos (com sombra ou espaços com ar-condicionado ou ventilador), usar roupas leves e, se possível, evitar andar na rua nos horários de pico do calor.
Estresse térmico também afeta o emocional
Os efeitos do estresse térmico vão além do físico e influenciam diretamente o estado emocional. A psicóloga Tatiane Mosso explica que as altas temperaturas podem causar aumento da irritabilidade, sensação constante de cansaço, dificuldade de concentração e tomadas de decisão, além de quadros de ansiedade e apatia. A falta de energia física pode repercutir em desmotivação para atividades de rotina e uma consequente sensação de frustração.
“O estresse térmico afeta o bem-estar psicológico porque coloca o nosso corpo em estado constante de alerta, já que o organismo precisa se esforçar mais para manter a temperatura interna equilibrada. Além disso, temperaturas extremas podem dificultar o descanso adequado, prejudicando a qualidade do sono, fator que compromete a capacidade do corpo e da mente de se recuperar, gerando maior instabilidade emocional”, explica.
Para lidar com esse tipo de estresse, a psicóloga ressalta que é importante adotar algumas medidas como usar técnicas de respiração profunda para aliviar a tensão e a ansiedade.
“Manter-se hidratado e buscar ambientes com temperaturas mais amenas é fundamental. Dormir adequadamente e praticar atividades físicas em horários mais frescos também ajudam a melhorar o humor e reduzir o cansaço emocional. Além disso, buscar um apoio social, conversar sobre o desconforto e reconhecer os limites pessoais em situações de estresse térmico são passos importantes para promover equilíbrio emocional”, acrescenta a psicóloga.
38 milhões de brasileiros expostos ao estresse térmico
No Brasil, estima-se que ao menos 38 milhões de pessoas estejam expostas ao estresse térmico, segundo dados são de um estudo realizado pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ).
O estudo, que teve como objetivo analisar o fenômeno na América do Sul e como ele evoluiu ao longo das últimas quatro décadas, analisou dados de 31 cidades da América do Sul com mais de um milhão de habitantes, sendo 13 delas no Brasil – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Belém, Goiânia, Porto Alegre, Curitiba e Campinas.
Os pesquisadores perceberam que a cada ano, em média, os períodos de estresse térmico ganham dez horas extras nas cidades brasileiras analisadas. A escalada de aumento do estresse térmico começou há 20 anos. Os moradores das cidades analisadas passam de 17 a 25 dias por ano sob condições meteorológicas superiores às que o corpo humano pode suportar.