Criada para mediar conflitos na região, operação da Unifil volta a ser colocada em xeque com escalada de agressões entre Israel e Hezbollah.A escalada das agressões entre Israel e o grupo xiita Hezbollah tem criado novas tensões entre os países da região e a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), criada há 46 anos justamente para mediar os conflitos no território libanês. Desde abril, cinco soldados de paz da ONU ficaram feridos, enquanto a missão recebe críticas pela dificuldade de apaziguar as disputas no território em que atua.

Na sexta-feira (11/10), um ataque israelense atingiu uma torre de observação da ONU no sul do Líbano e feriu dois soldados da Unifil. Na ocasião, o Exército de Israel justificou que o bombardeio respondia a uma “ameaça iminente” identificada por seus oficiais. Em abril, uma explosão deixou outros três observadores da missão de paz e um tradutor libanês feridos.

Neste domingo, porém, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, subiu o tom e pediu ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a retirada imediata das forças de paz da ONU na região. Após a conversa,tanques israelenses derrubaram a entrada principal e invadiram uma das bases da Unifil.

“Sua recusa em retirar os soldados da Unifil faz com que eles se tornem reféns do Hezbollah. Isso os coloca em perigo, assim como as vidas de nossos soldados”, disse o premiê.

A Unifil rejeitou diversas vezes os apelos israelenses para abandonar suas posições. “Houve uma decisão unânime de permanecer, por que é importante que a bandeira da ONU ainda tremule alto nessa região, e para podermos relatar os fatos ao Conselho de Segurança”, afirmou no sábado o porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti.

Contudo, ele disse que os soldados ficam no país até que a “situação se torne impossível para operar”.

O que é a Unifil?

A Unifil foi criada após a invasão israelense no Líbano, em 1978, e atualmente possui cerca de 10 mil soldados de 50 nacionalidades.

Os países que mais contribuem com tropas são a Indonésia, com 1.231 soldados, e a Itália, com 1.068.

As forças estão distribuídas em 50 bases ao longo de 1.060 quilômetros quadrados que cobrem a área que vai da fronteira entre o Líbano e Israel até o rio Litani, cerca de 30 quilômetros ao norte.

A sede da UNIFIL fica na cidade de Naqoura, onde os dois soldados foram atingidos nesta sexta-feira.

Por que a Unifil está no Líbano?

Em 1978, o Conselho de Segurança das Nações Unidas instalou a Unifil para monitorar a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano, restaurar a paz na região e auxiliar o governo libanês a retomar autoridade sobre o território, marcado pelo conflito entre Israel e o Hezbollah.

Desde então o mandato da Unifil na região tem sido renovado anualmente pelo Conselho de Segurança. Em junho de 2000, a ONU criou uma zona de proteção entre Líbano e Israel, a Linha Azul, e deu à Unifil poder de atuação em toda a área.

O objetivo da missão da ONU se ampliou em 2006, para monitorar a resolução 1701 do Conselho de Segurança, que encerrou um novo conflito de 33 dias entre Israel e Hezbollah. A Resolução determinou um cessar-fogo entre todas as forças armadas na fronteira e o envio do exército libanês para o sul do país.

O texto também especificava que o Estado libanês e a Unifil deveriam ser os únicos grupos armados no país.

Como a Unifil opera?

O principal papel da Unifil é de observação. Isso inclui patrulhas a pé e com veículos entre a Linha Azul e o Rio Litani, além de patrulhas com navios militares na área próxima à costa.

A Unifil reporta violações da Resolução 1701 ao Conselho de Segurança da ONU. “Sempre que há um incidente, a Unifil envia imediatamente tropas adicionais para o local para, se necessário, evitar um conflito direto entre os dois lados e para garantir que a situação seja contida”, diz a força-tarefa em seu site.

Eles também fazem a conexão entre o exército libanês e o exército israelense para amenizar possíveis conflitos. No entanto, os militares da missão da ONU só podem fazer uso gradual da força para autodefesa, sob determinadas circunstâncias, e apenas para “garantir que sua área de operações não seja utilizada para atividades hostis”.

Por que a Unifil está sendo criticada?

Israel e Estados Unidos acreditam que a Unifil não está conseguindo impedir que o Hezbollah opere e armazene armas no sul do Líbano.

Em 2018, por exemplo, foi encontrado um túnel feito pelo grupo xiita que passava por baixo da Linha Azul, território controlado pela Unifil, em direção a Israel.

Já o Líbano acusa a Unifil de ser incapaz de impedir que Israel viole o espaço área libanês. Os líderes do Hezbollah alegam que soldados da missão da ONU atuam como espiões para Israel e violam a soberania do Líbano.

Ainda, a instalação da missão é cara. Segundo a ONU, a Unifil era a quinta maior operação de paz em 2023. Entre junho do ano passado e julho de 2024, a missão custou mais de 550 milhões de dólares (R$ 3 bilhões).