19/10/2024 - 12:36
A crença de que substâncias alergênicas, como as presentes em nozes e castanhas, se espalham pelos sistemas de ventilação de aviões é cientificamente infundada.
A conclusão está num estudo publicado na terça-feira (15/10) na revista Archives of Disease in Childhood. Trata-se de uma análise de todos os testes realizados pela Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido entre 1980 e 2023.
Além de nozes e castanhas, os pesquisadores analisaram as suspeitas de que há vapor de peixe, de marisco ou exposição a farinha de trigo no ar respirado em aeronaves, e o resultado é que nenhum efeito foi registrado em pessoas com alergias alimentares.
Entre os frutos secos, “os alérgenos do amendoim podem ser detectados em níveis muito baixos no ar quando descascados, mas a poeira se deposita rapidamente e só pode ser detectada muito perto dos frutos secos, o que significa que quase não há poeira circulando no ar”, explicam os pesquisadores.
Os sistemas de ventilação são projetados para circular o ar através da aeronave e não somente ao longo da cabine, “o que minimiza a possibilidade de os poluentes gerados pelos passageiros se espalharem pela cabine”, diz o estudo.
Ao mesmo tempo, o ar é completamente trocado a cada 3 ou 4 minutos durante um voo – para efeito de comparação, nos hospitais essa troca acontece a cada dez minutos.
Além disso, nos aviões comerciais modernos de grande porte, cerca de metade do ar que circula passou por filtros de partículas, que removem de forma efetiva poeira, vapores e micróbios e capturam possíveis partículas de alimentos em um aerossol, enquanto a outra metade vem de fora.
O real risco
De acordo com os autores, o risco real está na “falta de limpeza dos aviões”, especialmente os de rotas curtas, quando os vestígios de alérgenos deixam de ser limpos nas superfícies (bandejas, telas de vídeo ou assentos).
“Os resíduos de superfície representam o principal risco, provavelmente acentuado pelas rápidas mudanças de rota de muitas companhias aéreas”, enfatizam.
As proteínas dos alimentos costumam ser “pegajosas” e podem aderir às superfícies dos assentos, aos sistemas de entretenimento do encosto e às bandejas, o que pode causar reações em pessoas alérgicas a alimentos, se elas não lavarem as mãos antes de tocar a boca ou o rosto.
A melhor maneira de evitar esse risco é garantir que a aeronave seja limpa adequadamente. Os pesquisadores recomendam, especialmente àqueles com alergia alimentar, que limpem com lenços desinfetantes as superfícies que foram tocadas por outras pessoas em voos anteriores antes de se sentarem nos assentos.
Por isso, eles aconselham as companhias aéreas a fazer com que passageiros alérgicos embarquem nos aviões mais cedo, como o Departamento de Transportes já exige das companhias aéreas nos Estados Unidos.
“As companhias aéreas devem ter políticas mais claras sobre alergias alimentares, prontamente disponíveis em seus sites, e divulgá-las bem para a equipe de cabine e de terra, para que possam esclarecer as dúvidas dos passageiros alérgicos”, afirmam.
No entanto, dados do Reino Unido mostram que as reações alérgicas a alimentos são de 10 a 100 vezes menos frequentes durante os voos do que em terra.
sf/md (EFE, ots)