22/10/2024 - 13:22
Interesse em filiar-se ao grupo das economias emergentes cresceu após a ampliação. Entre os atuais 34 candidatos, três países da América Latina se destacam, com abordagens diversas: Venezuela, Bolívia e Colômbia.Na última cúpula do Brics, em agosto de 2023, em Joanesburgo, África do Sul, o grupo dos países emergentes ganhou novos membros, convertendo-se no Brics+ com a inclusão de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã. Desde então, o interesse em participar da aliança cresceu consideravelmente, com 34 países manifestando interesse.
Destes, 20 apresentaram solicitação formal de filiação, entre os quais Argélia, Indonésia, Tailândia, Vietnã, e mesmo a Turquia, já membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Além de benefícios materiais e maior reconhecimento político, todos esperam obter um status internacional que lhes permita desempenhar um papel mais significativo na política mundial.
Na atual cúpula, a realizar-se de 22 a 24 de outubro de 2024, sob presidência russa em Kazan, o anfitrião Vladimir Putin se esforçará para mostrar que, apesar dos esforços do Ocidente para isolá-la, a Rússia tem muitos amigos por todo o mundo.
A reunião dos “amigos do Brics” em escala mundial pode ser um sinal de que, mais além do núcleo fundador – formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, diversos governos esperam do Brics+ um papel formativo na política mundial. Entre suas metas estaria escapar da dinâmica geopolítica, da conflitividade e dos regimes de sanções internacionais.
América Latina no Brics
Até agora o Brasil tem desempenhado um papel-chave ao conferir peso político ao Brics a partir da América Latina. Na cúpula de 2023, também a Argentina foi convidada a participar, porém o novo governo de Javier Milei declinou da oferta. Assim, uma vaga originalmente destinada à região está em aberto.
Três países competem para se incorporar como membro de pleno direito: Bolívia, Colômbia e Venezuela. Chama a atenção a diferença nas formas como os respectivos governos abordaram seu desejo de adesão.
Assim como a Venezuela, para promover suas aspirações a Bolívia escolheu a via direta da cooperação com a Rússia e a China. O presidente Luis Arce aposta em matérias primas como o lítio, sobre as quais já existe uma cooperação com ambas as potências: segundo ele, isso demonstraria as vantagens da ordem mundial multipolar perante a bipolaridade.
Atualmente a Bolívia tem sérias dificuldades em dispor de dólares, razão por que considera necessário afastar-se o máximo possível da “hegemonia americana”. No entanto, essa aspiração está além das possibilidades que atualmente oferece o quadro da cooperação no Brics.
Em agosto de 2023, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou que seu país solicitara formalmente o ingresso no Brics. Ele agora tenta utilizar essa perspectiva de filiação como arma na batalha para defender sua controvertida vitória nas eleições de junho de 2024.
Assim, ameaça os Estados Unidos e “seus associados no mundo” com a entrega aos aliados do Brics dos blocos petroleiros e gasíferos em funcionamento na Venezuela, caso as autoridades americanas cometam “o erro de sua vida” de declarar como vencedor das presidenciais o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.
“Brics & Friends” é alternativa?
Desse modo, Maduro trata de valorizar suas reservas – as maiores petrolíferas do mundo e a quarta maior de gás natural – como recursos importantes para participar da agenda energética global e reforçar a posição internacional da Venezuela. Ele também se refere a seus recursos estratégicos no Arco Mineiro do Orinoco, necessários ao desenvolvimento da indústria tecnológica na “transição energética”.
Por sua vez, a Colômbia expressou ao Brasil seu interesse em participar do Brics, esperando contar com o respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em visita de Estado ao país vizinho, em 17 de abril, o mandatário brasileiro apoiou expressamente os planos de adesão do homólogo Gustavo Petro, prometendo empenhar-se para possibilitar o ingresso colombiano no grupo internacional.
Mas, apesar de tudo, as aspirações dos três Estados sul-americanos poderão cair no vazio. Atualmente os membros do Brics+ estão, antes, debatendo a consolidação da aliança ampliada, tratando de definir critérios para futuras rodadas de ampliação. No momento, os aspirantes latino-americanos poderiam assumir um posto num nível associativo mais distante: num grupo chamado “Brics & Friends”, que reuniria todos os países que se veem como futuros sócios do clube emergente.