Grandes museus de história natural ao redor do mundo apresentam acervos de esqueletos completos de dinossauros, porém as práticas de preservação estão impulsionando cada vez mais o uso de réplicas de fósseis em exposições. Apesar de sua utilização constante, os profissionais da área explicam que as técnicas de conservação não falsificam as partes.

Em entrevista a Istoé, a mestre em museologia e Chefe Técnica – Museu de Geociências – IGc/USP, Miriam Della Posta de Azevedo, explicou quatro das técnicas mais utilizadas na maioria das instituições.

  • Utilização de réplicas: antigamente elas eram feitas em gesso, mas atualmente são fabricadas em resina ou por meio de impressão 3D. “Elas são utilizadas principalmente quando o museu não possui fóssil do espécime que quer expor, então utiliza a réplica para ilustrar a exposição. Mas sempre que isso acontece, é obrigatório ter a indicação ‘réplica’ na etiqueta”, explicou a especialista.

O uso de réplicas é valioso em espaços educativos e de atendimento ao público, onde são manipulados com frequência, já que muitas fossilizações não suportam o manuseio contínuo. “Atualmente as réplicas são feitas moldando a parte original do osso com silicone, fazendo um contra-molde – ele acaba virando uma ‘forma’, onde é colocada resina. Após a secagem, a resina sai do molde no formato do osso original”, completou.

O Instituto de Geociências da USP já possui uma Oficina de Réplicas, que produz vários fósseis para utilização didática.

  • União de partes ósseas distintas: muito usual porque as condições ideais de fossilização incluem eventos catastróficos, como avalanches ou inundações com soterramento – em muitos desses casos alguns fósseis sofrem com desmembramento das partes do corpo. “Por isso, muitos esqueletos expostos em museus são montados com partes de vários indivíduos diferentes. Desta forma, o animal recriado em uma exposição pode nunca ter existido, mas as partes que o constituem são fósseis verdadeiros”, disse a museóloga.
  • Substituição de partes ósseas: nessa técnica algumas partes em específico, sensíveis ou não encontradas, são substituídas misturando ossos verdadeiros e réplicas.
  • Quimera fóssil: é a junção de partes de indivíduos de diferentes espécies ou gêneros, formando um único fóssil – prática muito utilizada no século XIX, quando os ossos começaram a fazer sucesso entre colecionadores amadores.

“A fim de lucrar com a venda de fósseis, muitos comerciantes juntavam partes de animais diferentes como se fossem um. Alguns deles foram até descritos como espécies novas, mas com o avanço do conhecimento científico, foram desacreditados”, explicou Miriam. Ela ressala que a prática não é tão comum e muitos museus ainda mantêm as quimeras em suas exposições como curiosidades.

A especialista reforça que em todos os casos nos quais o fóssil utilizado não seja o original, eles devem possuir uma identificação clara para o visitante – é obrigatoriedade do museu colocar estes avisos.

Além dos tópicos apresentados pela museóloga, ainda existe a obrigatoriedade legal. Alguns países possuem regulamentações que impedem que seus achados paleontológicos sejam transferidos para outras nações, por isso há a necessidade de fósseis complementares que não sejam os verdadeiros.

O Museu de História Natural de Nova York, nos EUA, tem um dos maiores acervos de fósseis do mundo e em muitos casos é necessário o uso de réplica para que os originais se preservem durante um longo tempo e sejam acessíveis a experiências táteis com o público.

O Tiranossauro rex, por exemplo, um dos dinossauros mais famosos do museu, tem a cabeça original, encontrada em 1908 por Barnaum Brown, exibida separadamente, ao lado do esqueleto completo, que inclui a réplica da cabeça.

Fóssil do Tyrannosaurus rex no Museu de História Natural de Nova York (Foto: Larissa Pereira/ IstoÉ)