10/01/2025 - 6:47
O ano de 2024 foi o mais quente já registrado e o primeiro a superar o nível de aquecimento de 1,5°C em comparação com o período pré-industrial, limite estabelecido pelo Acordo de Paris, anunciou nesta sexta-feira, 10, o observatório europeu Copernicus.
“Todos os conjuntos de dados de temperatura global produzidos internacionalmente mostram que 2024 foi o ano mais quente desde que os registros começaram em 1850. A humanidade é responsável por seu próprio destino, mas como respondemos ao desafio climático deve ser baseado em evidências. O futuro está em nossas mãos – uma ação rápida e decisiva ainda pode alterar a trajetória do nosso clima futuro”, comentou Carlo Buontempo, diretor do Copernicus Climate Change Service.
De acordo com o observatório, 2024 foi o ano com as maiores temperaturas já registradas: uma média de 15,10º C, ou 0,12º C a mais do que o recorde anterior, de 2023.
Assim, o planeta esteve 1,60º C mais quente em 2024 do que no período pré-industrial, que inaugurou a queima maciça de combustíveis fósseis que alimentam a crise climática.
A temperatura média global mensal excedeu 1,5°C acima dos níveis pré-industriais por 11 meses de 2024. O observatório destaca ainda que todos os meses desde julho de 2023, exceto julho de 2024, excederam o nível de 1,5°C. Um novo recorde de temperatura média global diária também foi atingido em 22 de julho de 2024, com 17,16°C.
Embora não existissem medições climáticas 100 mil anos atrás, pesquisadores conseguem estudar o clima no passado com base em análises dos interiores de troncos de árvores e das bolhas de ar em geleiras.
É improvável que o novo ano quebre esses recordes novamente, mas o serviço britânico Met Office alertou que 2025 pode ser um dos três anos mais quentes já registrados.
Em 2025, ano marcado pelo retorno ao poder de Donald Trump nos Estados Unidos, os países também devem anunciar seus novos compromissos climáticos, atualizados a cada cinco anos no âmbito do Acordo de Paris de 2015.
Acordo de Paris
A barreira simbólica corresponde ao limite mais ambicioso do Acordo de Paris de 2015, que busca conter o aquecimento abaixo dos 2°C e prosseguir com os esforços para limitá-lo a 1,5°C.
O acordo se refere a tendências a longo prazo: a média de aquecimento de 1,5°C deverá ser observada ao longo de pelo menos 20 anos para considerar o limite superado.
“Advertência”
Esta é uma “séria advertência”, diz Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático (PIK).
“Tivemos uma prévia de um mundo a 1,5°C, com sofrimento e custos econômicos sem precedentes para as pessoas e a economia global, devido a eventos extremos reforçados pela atividade humana, como secas, inundações, incêndios e tempestades”, disse à AFP.
Por trás desses números há uma série de desastres agravados pela mudança climática: 1.300 mortos em ondas de calor extremo na peregrinação a Meca em junho, inundações históricas na África e na Espanha, furacões violentos nos Estados Unidos e no Caribe.
Em termos econômicos, desastres naturais causaram 320 bilhões de dólares (1,9 trilhão de reais) em perdas no mundo todo, segundo a seguradora Munich Re.
Restringir o aquecimento a 1,5°C em vez de 2°C, o limite mais alto do Acordo de Paris, reduziria significativamente suas consequências mais catastróficas, segundo o IPCC, o painel de especialistas climáticos da ONU.
“Todos os anos da última década foram um dos dez mais quentes já registrados”, alerta Samantha Burgess, vice-diretora do C3S.
Os oceanos, que absorvem 90% do excesso de calor causado pela humanidade, também continuaram a aquecer, atingindo um recorde no ano passado. A média anual de suas temperaturas na superfície, excluindo áreas polares, atingiu o nível inédito de 20,87° C, quebrando o recorde de 2023.
“Em nossas mãos”
Além dos impactos imediatos das ondas de calor marinhas sobre os corais e peixes, esse superaquecimento duradouro dos oceanos, o principal regulador do clima da Terra, afeta as correntes marinhas e atmosféricas.
Mares mais quentes liberam mais vapor de água na atmosfera, fornecendo energia adicional para tufões, furacões ou tempestades.
O Copernicus observa, portanto, que o nível de vapor de água na atmosfera também atingirá um recorde em 2024, aproximadamente 5% acima da média de 1991-2020.
No ano passado, o mundo testemunhou o fim do fenômeno natural El Niño, que induz ao aquecimento global e aumento de eventos extremos, e uma transição para condições neutras ou o fenômeno oposto, La Niña.
A Organização Meteorológica Mundial alertou em dezembro que seria “curto e de baixa intensidade” e insuficiente para compensar os efeitos da mudança climática.
“O futuro está em nossas mãos: ações rápidas e decisivas ainda podem mudar a trajetória do nosso clima futuro”, enfatiza Carlo Buontempo, diretor do C3S.
A COP29 em novembro em Baku, a última grande conferência climática da ONU, terminou com apenas uma nova meta para o financiamento climático e permaneceu quase em silêncio sobre as ambições de redução de gases de efeito estufa e, em particular, a eliminação de combustíveis fósseis.
* Com informações da AFP