10/02/2025 - 8:35
Num pleito com 16 candidatos, presidente Daniel Noboa e esquerdista Luisa González avançam para a rodada final. Explosão da violência devido a cartéis colombianos é o grande desafio.O atual presidente do Equador, o empresário Daniel Noboa, e a candidata de esquerda Luisa González disputarão o segundo turno da eleição presidencial do país no dia 13 de abril. Outros 14 candidatos participaram do pleito neste domingo (09/02), mas não obtiveram votos suficientes para seguirem na disputa.
Os dois candidatos ficaram separados por uma diferença de menos de 1 ponto percentual: Noboa somou 44,3% dos votos, e González, 43,8%, resultados que indicam uma disputa bastante acirrada para a rodada final, daqui a dois meses. Conforme o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que administra as eleições no país, mais de 83% dos eleitores foram às urnas.
Os equatorianos voltaram às urnas mais de um ano após uma das eleições mais violentas do país. Em agosto de 2023, o então candidato Fernando Villavicencio foi assassinado a tiros depois de deixar um comício numa escola.
Desta vez, no entanto, não foram registrados episódios de violência. Ainda assim, Noboa e González votaram cercados por militares.
A violência é um dos principais desafios do futuro chefe de Estado equatoriano. Antes considerado uma exceção na América Latina devido aos baixos índices de homicídio, o país sofreu uma explosão na violência promovida por cartéis de drogas, que migraram a partir da Colômbia depois do acordo de paz que o país vizinho consolidou com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2016.
Ameaças e mortes de políticos, promotores e juízes foram executadas por traficantes, que encontraram no Equador uma política de segurança pública pouco focada nesse tipo de crime. Além disso, há o fator geográfico: o Equador virou ponto de tráfico de cocaína contrabandeada a partir de portos do Pacífico, tendo a Europa e a Ásia como destino.
A taxa de homicídios saltou de 6 para cada 100 mil habitantes em 2018 para 38 a cada 100 mil habitantes em 2024.
Noboa e a guinada à direita
Noboa foi eleito nas eleições antecipadas de outubro de 2023 convocadas pelo então presidente Guillermo Lasso, que sofria um processo de impeachment. Devido a isso, Lasso dissolveu o parlamento depois de dois anos no cargo. Na época, a intenção dele era manter-se no cargo até a data do próximo pleito, marcado para este domingo.
Aos 37 anos, Noboa nasceu nos EUA e é filho de um rico empresário do setor de bananas. O estilo descontraído, mas focado na questão da segurança, fez dele um dos políticos mais populares do Equador. Ele costuma fazer discursos breves e mantém um círculo pequeno de amigos e conselheiros.
É formado em administração de empresas pela Universidade de Nova York e tem três mestrados, pelas universidades de Harvard, Northwestern e George Washington. Descreve-se como de centro-esquerda, já tendo apontado o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, como modelo político.
Ganhou a eleição de 2023, no entanto, com apoio da direita e, desde então, tem adotado políticas econômicas neoliberais, aproximando-se também de ultradireitistas. Foi um dos poucos líderes latino-americanos a ir a Washington para a posse de Donald Trump, em 20 de janeiro.
Para combater as gangues e os cartéis de drogas, declarou estado de emergência e enviou as Forças Armadas para as ruas. Antes de ter sido eleito presidente, sua única experiência política havia sido como deputado durante dois anos, quando atuou como presidente do comitê de economia do Congresso.
González e a proximidade com Rafael Correa
Formada em direito, Luisa González tem 47 anos e já havia concorrido para a presidência do Equador em 2023, quando perdeu justamente para Noboa. É aliada do ex-presidente Rafael Correa, que governou o país por uma década, entre 2007 e 2017, e atualmente vive no exílio depois de ter sido condenado a oito anos de prisão por corrupção.
González começou a carreira política mais à direita do espectro. Depois mudou de lado e trabalhou no governo de Correa, que, mesmo à distância, segue influenciando a política equatoriana.
A candidata disse que pretende dar continuidade às políticas socialistas do ex-presidente, mas reforçou que não sofrerá influência direta dele, a quem considera apenas um conselheiro.
De origem humilde, González nasceu em Quito, mas cresceu na província costeira de Manabi. Tem mestrados em economia e administração, e é ávida ciclista e maratonista. Numa entrevista, disse que o caso dela é um exemplo de como os equatorianos com poucos recursos podem buscar e alcançar seus sonhos.
Se for eleita, ela será a primeira presidente do Equador. Durante a campanha, apresentou-se como defensora dos direitos das mulheres, mas, quando era deputada, foi bastante criticada por sua oposição ao aborto mesmo em casos de estupro.
gb/as (DPA, AFP, ots)