A batalha para descobrir um tratamento efetivo contra o Alzheimer teve um importante avanço. E o segredo pode estar mais perto do que se esperava: no cérebro do próprio paciente. 

É o que dizem pesquisadores da Universidade de Medicina Northwestern, que realizaram a primeira rodada de testes utilizando uma técnica chamada transcriptômica espacial para analisar cérebros de pessoas afetadas pela doença.

Eles descobriram quais células imunológicas estão diretamente ligadas a ‘limpeza’ do cérebro, o que evita o acumulo de beta amiloides, segmentos de proteína (peptídeos) que contribuem para o desenvolvimento do Alzheimer.

O estudo foi publicado nesta quinta-feira (6), na Nature Medicine.

Acabando com o ‘efeito dominó’ da doença

“O beta amiloide faz parte do nosso metabolismo cerebral. Ele costuma ser removido do nosso sistema nervoso por meio de vários mecanismos. Um desequilíbrio nessa retirada pode começar a gerar acúmulo”, explicou a neurologista Josiane Duarte, a pedido da Planeta.

Por isso, os cientistas dividiram 3 tipos de candidatos em dois grupos: cérebros de pacientes que receberam tratamento para remover placas de beta amiloide, cérebros não afetados pelo uso de medicamentos, além dos sem doenças neurológicas.

Autores do estudo David Gate (esquerda) and Lynn van Olst (direita) usam método inovador para analisar cérebro humano (Foto: Northwestern University)

Ao comparar os tecidos cerebrais, os cientistas descobriram que nos casos onde o tratamento funcionou, as células de defesa do cérebro, conhecidas como micróglias, tiveram um papel essencial em reestabelecer um ‘ambiente cerebral saudável’ e diminuir o acúmulo de beta amiloide.

Criar medicamentos que estimulem essas células imunológicas pode ser determinante para o futuro do tratamento de doenças neurológicas.

“Temos tratamentos que ajudam a remover as placas, mas talvez a melhor solução seja tratar as pessoas mais cedo para não desenvolver um ‘efeito dominó”, diz David Gate, professor-assistente de neurologia na Northwestern e autor do estudo

O ‘efeito dominó’ seria o acumulo suficiente de beta amiloide para gerar depósitos anormais de proteína, que estão ligados ao alto declínio cognitivo em pacientes de Alzheimer.

Candidatos ideais

O estudo também descobriu que nem todas as micróglias são capazes de oferecer propriedades de restauração do ‘ambiente cerebral’. Esse primeiro teste destacou dois genes que deram conta da tarefa: TREM2 e APOE.

Apesar de a medicina ainda não ter estratégias definidas para aumentar a eficácia da dupla, elas evoluem ano a ano e alimentam a esperança de oferecer melhor qualidade de vida para quem sofre de Alzheimer, ou até prevenir a doença muito antes de acontecer.