06/04/2025 - 16:22
Líder da ultradireita francesa reuniu apoiadores em Paris, e criticou condenação por corrupção que resultou na sua inelegibilidade. Rivais criticam manifestação. “Você rouba, você paga”, diz aliado de Macron.A líder da ultradireita francesa Marine Le Pen participou neste domingo (06/04) de um comício em Paris na esteira de sua condenação por corrupção nesta semana, que resultou na sua inelegibilidade e deve impedi-la de concorrer às eleições presidenciais de 2027.
Diante de milhares de apoiadores reunidos na Place Vauban, em Paris, Le Pen afirmou ser alvo de “perseguição” judicial, assim como outros líderes de ultradireita, entre os quais citou o vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini.
Ela ainda afirmou “não vai cruzar os braços” e denunciou “as mentiras, calúnias e julgamentos forjados” aos quais afirmou ter sido submetida. Ela ainda classificou a condenação como um “caça às bruxas”.
“Não foi uma decisão judicial, foi uma decisão política”, declarou a líder do partido Reunião Nacional (RN), sob os aplausos de membros da legenda e apoiadores. De acordo com a polícia, 8.000 pessoas eram esperadas no comício da RN em Paris.
Le Pen ainda afirmou que, com essa condenação, os direitos civis estão em risco na França e chegou a citar Martin Luther King, pastor afro-americano e ativista que foi assassinado em 1968 por um segregacionista branco.
“Nossa luta será pacífica, uma luta democrática. Tomemos como exemplo Martin Luther King, que defendeu os direitos civis, os mesmos que estão sendo questionados na França hoje”, declarou.
Além de King, Le Pen também se comparou a Alexei Navalny, o dissidente russo que morreu em uma prisão no Ártico em 2024 após ser detido pelo regime de Vladimir Putin.
A líder do RN, condenada por ser a principal responsável pelo desvio de 4,1 milhões de euros do Parlamento Europeu em benefício do partido, insistiu que “sofreu um processo político” e criticou a “brutalidade” da União Europeia (UE) e a parcialidade do Ministério Público da França.
“Tive que ser eliminada da vida política, e sem possibilidade de apelação”, reclamou Le Pen, referindo-se à execução imediata de sua proibição de exercer cargos públicos por cinco anos, que ela espera ver reduzida em um recurso que será decidido em 2026, antes das eleições de 2027, para as quais, segundo as pesquisas, ela é a favorita.
Condenação
A líder ultradireitista e atual deputada disse ainda que “o Estado de direito e a democracia estão sendo desrespeitados” por sua condenação e lembrou que 13 milhões de eleitores “têm o mesmo valor” que os demais cidadãos.
Embora Le Pen tenha dito que recorrerá de sua condenação, Jordan Bardella está sendo apontado como o mais provável próximo candidato presidencial do RN. O político de 29 anos é o atual líder do RN de Le Pen.
Le Pen foi condenada por malversação de verbas públicas, juntamente com mais de 20 outros réus que trabalhavam para o seu partido, Reunião Nacional (RN). A acusação concreta foi fingir contratar para o Parlamento Europeu pessoal que, pelo menos em parte, trabalhava para a RN na França.
A intenção não teria sido locupletar-se pessoalmente, mas sim “o enriquecimento do partido”, enfatizou a juíza encarregada, ao ler a sentença. Na qualidade de presidente da RN de 2011 a 2022, Le Pen estaria “no centro” dessa operação, que envolveu vários milhões de euros entre 2004 e 2016.
Partidos rivais criticam Le Pen por comício
Em um evento partidário paralelo comício de Le Pen, membros do partido centrista Renascença, do deputado e ex-premiê Gabriel Attal e do atual presidente Emmanuel Macron, alertaram para uma “ameaça existencial ao Estado de Direito” diante das reações de membros do RN. “Você rouba, você paga”, disse Attal, em referência a Le Pen, durante um evento na Cité du Cinéma, em Saint-Denis.
Paralelamente, uma contramanifestação foi organizada pela esquerda reuniu militantes ecologistas, comunistas e da esquerda radical na praça da República, para defender a separação dos poderes, depois que a Justiça passou a ser alvo de ataques da ultradireita. O deputado de esquerda Manuel Bompard, coordenador do partido França Insubmissa, disse que o RN estava mostrando sua “verdadeira face”, a de um partido “perigoso para a democracia”, ao organizar um comício em apoio a Marine Le Pen após sua condenação.
A decisão judicial contra Le Pen repercutiu-se para além de França, polarizando o país e provocando também repercussões nos círculos de ultradireita de toda a Europa, com Le Pen recebendo apoio de políticos como o premiê húngaro Viktor Orbán.
Nas vésperas do protesto, uma sondagem revelou que quase metade dos franceses (49%), um aumento de sete pontos percentuais num mês, quer que Marine Le Pen seja candidata às próximas eleições presidenciais, em 2027.
jps (EFE, Lusa, RFI)