Bolsas de valores tiveram breve recuperação após presidente suspender aplicação de tarifas, mas importações chinesas seguem na mira de Washington.Uma semana após anunciar sanções comerciais sem precedentes contra a maior parte do mundo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspendeu a medida por 90 dias para dezenas de países.

A suspensão foi anunciada apenas 13 horas após sua entrada em vigor, mas o presidente americano negou que tenha recuado. “É preciso ser flexível”, disse.

Trump, no entanto, endureceu ainda mais as sanções contra a China, elevando as tarifas contra a segunda maior economia do mundo para 125%. Segundo ele, houve “falta de respeito” por parte de Pequim.

Nesta quinta-feira, a Casa Branca esclareceu que os produtores chineses pagarão um total de 145% em tarifas sobre exportações aos EUA, considerando um imposto de 20% já aplicado no início do ano.

“Em algum momento, espero que em um futuro próximo, a China perceba que os dias de explorar os EUA e outros países não são mais sustentáveis nem aceitáveis”, escreveu Trump em sua plataforma Truth Social.

Após o anúncio da suspensão, o índice S&P 500, que reúne 500 empresas americanas de capital aberto, disparou 9,5%, enquanto o Nasdaq, dominado por empresas de tecnologia, fechou em alta de 12,2%. A alta marcou uma das maiores altas da história para ambos os índices, que haviam experimentado quedas recordes nos dias anteriores. Mercados na Europa e na Ásia também abriram em alta na quinta-feira.

A União Europeia, que enfrentava tarifas de 20% sobre exportações aos EUA, celebrou o adiamento e anunciou que também suspenderá por 90 dias suas tarifas retaliatórias sobre produtos americanos.

“Queremos dar uma chance às negociações”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em comunicado na plataforma X.

Por que Trump suspendeu a maioria das tarifas, exceto as da China?

Trump estava sob forte pressão de diversos setores para suspender as tarifas, após dias de turbulência nos mercados financeiros globais, diante do temor de que as medidas prejudicassem seriamente o crescimento econômico mundial.

As tarifas também provocaram reações negativas no mercado de títulos, onde o governo dos EUA e empresas captam recursos. Investidores começaram a se desfazer dos papéis ou passaram a exigir juros mais altos, diante da queda na confiança no país.

O anúncio da semana passada foi amplamente criticado por parlamentares, economistas e empresários, tanto nos EUA quanto no exterior, por gerar incerteza nas cadeias globais de suprimento.

Essas reações negativas são vistas como fator decisivo para que o governo reconsiderasse sua posição, temendo uma possível crise financeira. O banco central americano apostou que as barreiras tarifárias podem trazer uma recessão, seguida por inflação e desemprego nos EUA.

A administração Trump, no entanto, defendeu que a suspensão é apenas uma manobra para trazer outras nações à mesa de negociações.

Segundo a Casa Branca , cerca de 75 países entraram em contato desde o anúncio das tarifas para discutir novos acordos comerciais.

Analistas apontam que, ao excluir a China da suspensão e ainda aumentar suas tarifas, Trump busca isolar Pequim, seu principal adversário comercial.

Quais tarifas foram incluídas na suspensão de 90 dias?

Trump suspendeu o que chamou de tarifas recíprocas para 60 parceiros comerciais dos EUA e da União Europeia — que variavam de 46% para o Camboja, 36% para a Indonésia e 20% para países da UE.

Apesar da suspensão, uma tarifa-base de 10% permanece em vigor para todas as importações, incluindo para produtos brasileiros.

Críticos argumentam que as tarifas não foram de fato calculadas com base nas taxas aplicadas por esses países, mas sim conforme o superávit comercial de cada país com os Estados Unidos, segundo estimativas do governo Trump.

A suspensão não afeta taxas previamente impostas por Trump, incluindo as sobre aço, alumínio, automóveis e peças automotivas, que permanecem válidas.

Setor de energia e alguns minerais que não são produzidos domesticamente também foram excluídos da suspensão.

Como a China reagiu?

Inicialmente, a China reagiu com firmeza à elevação da tarifa total e prometeu “lutar até o fim”. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, disse que o país “não vai recuar”.

Ela também compartilhou um vídeo com um discurso desafiador de Mao Tsé-tung, feito em 1953, durante a guerra da Coreia contra os Estados Unidos.

Por outro lado, o Ministério do Comércio da China adotou um tom mais conciliador, pedindo que Trump busque um “meio-termo” com Pequim.

A porta-voz He Yongqian afirmou que a China deseja negociar com base nos princípios de “respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação”, e resolver adequadamente as diferenças por meio do diálogo.

Segundo a agência de notícias Bloomberg, a liderança chinesa se reuniu nesta quinta-feira para elaborar novos estímulos à economia, que já enfrentava dificuldades antes mesmo da guerra comercial.

O que pode acontecer a seguir?

A suspensão de 90 dias expira no início de julho, deixando pouco tempo para que os EUA e seus parceiros comerciais cheguem a novos acordos.

Trump já adiou duas vezes a aplicação de tarifas contra o Canadá e o México, e, em teoria, pode estender novamente a suspensão aos demais países.

Quanto às tarifas sobre a China, Trump afirmou que um acordo é possível.

“Vamos fechar um acordo com a China. Vamos fechar um acordo com todos eles [os outros países]”, declarou, embora tenha acrescentado que os líderes chineses “ainda não sabem bem como fazer isso.”

Autoridades americanas disseram que darão prioridade às negociações com países como Vietnã, Japão, Coreia do Sul e outros interessados em fechar acordos.

“Este será lembrado como o maior dia de negociação comercial da história americana,” afirmou Peter Navarro, principal conselheiro comercial de Trump, na noite de quarta-feira.

“Estamos em uma posição maravilhosa para os próximos 90 dias”, declarou Navarro à ABC News.