23/04/2025 - 7:34
Em meio à queda dramática de lucro da Tesla, bilionário diz que passará a se dedicar apenas “um ou dois dias por semana” à chefia do Departamento de Eficiência, que eliminou empregos públicos e é alvo de protestos.Sob pressão do mercado financeiro em meio ao tombo nas ações da Tesla, o CEO da empresa, Elon Musk, prometeu reduzir o tempo que dedica à atuação no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a partir do próximo mês.
O bilionário lidera o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), que enfrenta críticas após eliminar centenas de empregos no serviço público. Os esforços deflagraram
uma série de protestos em concessionárias da fabricante de veículos elétricos nos Estados Unidos e na Europa.
Em uma teleconferência com investidores após apresentar resultados trimestrais, Musk disse que “alocará muito mais tempo para a Tesla” e que trabalhará apenas “um ou dois dias por semana” em assuntos do governo.
Musk reconheceu que a o envolvimento dele na política resultou em consequências para a empresa, mas disse que as manifestações refletem a insatisfação de pessoas que “recebiam dinheiro fraudulento” e foram demitidas. “Provavelmente haverá alguns contratempos inesperados este ano, mas continuo extremamente otimista quanto ao futuro da empresa”, disse.
O anúncio acontece após acionistas demonstrarem preocupação com o foco do homem mais rico do mundo em temas políticos, em detrimento da atuação na companhia. No acumulado do ano até o momento, as ações da empresa despencaram mais de 40% na Nasdaq, a principal bolsa de valores de tecnologia dos EUA. Os papéis, no entanto, sinalizaram uma recuperação após a promessa de Musk.
Lucro em queda
Ontem, a Tesla informou ter registrado queda de 71% no lucro e de 9% nas receitas no primeiro trimestre, na comparação com igual período do ano passado.
As incertezas sobre a ofensiva tarifária do governo Trump complicam as perspectivas da montadora americana, que tem a China como um dos seus principais mercados.
A companhia disse que precisará revisar as projeções de crescimento por conta da “dificuldade em medir o impacto das mudanças na política de comércio global nas cadeias automotivas e energética”. Admitiu ainda que o “sentimento político em mudança” pode afetar a demanda pelos veículos elétricos no curto prazo.
No mês passado, a Tesla já havia reclamado da política tarifária de Washington em uma carta enderaçada ao chefe do escritório do representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, agência responsável por regir as ações americanas no comércio exterior. No documento, a corporação alertou que as medidas deixam os grandes exportadores vulneráveis à retaliação de outros países.
Nas últimas semanas, Musk entrou em rota de colisão com outros membros da administração Trump ao indicar oposição ao aumento de tarifas. O empresário chamou o assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, de “idiota” após o economista sugerir que a Tesla não fabrica carros nos EUA e depende da importação de peças. Segundo Navarro, essa diferença explicaria à resistência de Musk às sobretaxas.
Na teleconferência ontem, Musk garantiu que continuará defendendo a redução das tarifas dentro do governo, mas ponderou: “essa é uma decisão que fundamentalmente cabe ao presidente dos Estados Unidos”.
Envolvimento político em outros países
Além dos EUA, Musk também tem se engajado em apoio à ultradireita em outros países. O bilionário foi acusado de tentar interferir na corrida eleitoral da Alemanha em fevereiro, depois de participar de um comício do partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Musk também se juntou a uma live com a líder da legenda, Alice Weidel.
Em janeiro, o empresário também pediu a renúncia do primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e chamou o líder trabalhista de “vergonha nacional”. Ele costuma expressar apoio ao partido de ultradireita Reforma, embora tenha se distanciado do líder da sigla, Nagel Farage.
No Brasil, o alvo principal de Musk é o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que no ano passado determinou o bloqueio temporário da plataforma X (antigo Twitter), de que o bilionário é dono. Em várias públicações, Musk já se referiu a Moraes como “tirano”, “criminoso”, “ditador” e “pseudo-juíz”.
am (Reuters/AP)