Mochilão de jovens alemãs pelo Pacífico terminou abruptamente no Havaí com detenção e deportação, após jovens não mostrarem reserva de alojamento. Outros casos já levaram Berlim a emitir alerta sobre viagens aos EUA.Duas jovens alemãs tiveram ingresso recusado nos Estados Unidos e acabaram deportadas, aparentemente por não poderem comprovar no controle de fronteira como ficariam alojadas.

O caso ocorre após uma sucessão de outros episódios envolvendo turistas alemães nos EUA, que também foram barrados e deportados, o que gerou alertas em Berlim.

Charlotte Pohl e Maria Lepère, de 19 e 18 anos, respectivamente, chegaram à capital do estado americano do Havaí, Honolulu, em 19 de março, sem reservas de hotel para uma estada planejada de cinco semanas. Elas haviam sido aprovadas pelo Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (Esta), o qual, no entanto, não garante a entrada no país.

Antes de seguir para os EUA, as duas mochileiras naturais de Rostock, no Leste alemão, haviam passado cinco semanas na Tailândia e outras tantas na Nova Zelândia, sem grandes planejamentos nem reservas, e pretendiam completar seu trajeto também “espontaneamente” na ilha americana.

Pohl e Lepère tinham uma certa noção “do que está rolando nos EUA” – ou seja, do endurecimento das normas de imigração imposto pelo governo de Donald Trump –, mas não acharam que fosse afetar também cidadãs alemãs: “Isso foi talvez muito ingênuo”, comenta Lepère.

Na versão da agência americana de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), contudo, ambas tencionariam exercer trabalhos não permitidos por seus vistos. No entanto, as jovens negaram isso à imprensa alemã.

“Estas viajantes tiveram o ingresso negado após tentar entrar nos EUA sob alegações falsas. Uma usou um visto de visitante, a outra o Programa de Isenção de Vistos (VWP)”, declarou a comissária assistente da CBP Hilton Beckham. “Ambas alegaram que estavam viajando pela Califórnia, porém mais tarde admitiram que pretendiam trabalhar – algo estritamente proibido sob as leis de imigração americanas para esses vistos.”

“Eles distorceram o que a gente disse”

Como relataram na edição de 9 de abril do jornal alemão Kölner Stadt-Anzeiger, após a detenção na fronteira, foram algemadas e receberam uniformes verdes de prisioneiras, a fim de passar a noite numa central de deportação no Havaí, antes de ser deportadas com a Hawaiian Airlines para Tóquio, onde receberiam seus passaportes de volta.

“Naquele momento, não sabíamos que era uma prisão”, conta Pohl. “Fomos examinadas com detetores de metal, nosso corpo todo foi escaneado, tivemos que ficar nuas na frente das policiais e ser revistadas.” Entre suas companheiras de cárcere estavam autoras de crimes graves, até mesmo uma assassina presa há 18 anos.

Após uma noite insone numa cela dupla minúscula, com um colchão mofado e um buraco como sanitário, a viagem desde a capital do Japão até Rostock, via Catar e Frankfurt, durou três dias.

Dos documentos de viagem que lhes foram entregues, constavam as atas do interrogatório em Honolulu, e “lá estavam frases que a gente nunca disse”, acusa Pohl: “Eles distorceram as nossas palavras, como se a gente tivesse admitido que queria trabalhar ilegalmente nos EUA.”

Citado pelo jornal Ostsee Zeitung em 10 de abril, o Ministério alemão do Exterior confirmou que o caso era do seu conhecimento: “Logo após o comunicado, nosso cônsul honorário em Honolulu e nosso consulado geral em San Francisco assumiram o apoio consular.” No entanto, concluiu o órgão, a decisão final coube às autoridades americanas.

A experiência não parece ter abatido a vontade das duas jovens de partir para o próximo “mochilão” transatlântico: ainda em abril, elas visitam o México, seguindo então para cinco semanas em Costa Rica, onde trabalharão num campo de surfistas. “Isso, a gente não vai deixar eles tirarem de nós”, garante Lepère.

Alemães barrados

Em março, a Alemanha atualizou suas recomendações de viagens para os Estados Unidos para alertar seus cidadãos que um visto ou isenção de visto de entrada não garante o acesso ao país, após Washington reforçar os controles como parte do endurecimento da política migratória adotada do governo do presidente Donald Trump.

A recomendação foi emitida depois de três alemães serem barrados pelas autoridades americanas de fronteira, informou um porta-voz do Ministério alemão do Exterior.

Um dos casos envolveu uma mulher de 29 anos que foi parada na fronteira entre os EUA e o México em janeiro. Amigos relataram que ela estava viajando com equipamento de tatuagem – que pode ter sido interpretado pelos funcionários da imigração como um sinal de que ela estava planejando trabalhar nos EUA. Segundo os relatos, ela passou três semanas detida, incluindo nove dias em confinamento solitário.

jps/av (ots)