Presidente dos EUA negou preocupação sobre aproximação de parceiros como Brasil e México com a China e novamente defendeu Bolsonaro: “execução política”.Em conversa com jornalistas na Casa Branca nesta quinta-feira (14/08), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar o Brasil, chamando-o de “parceiro comercial horrível”. Ele também classificou o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro de “execução política”.

“O Brasil tem sido um parceiro comercial horrível em termos de tarifas. Eles nos cobram tarifas enormes, muito maiores do que as que nós cobramos, e, basicamente, nós nem estávamos cobrando nada. Tornaram tudo muito difícil. Agora estão sendo cobrados em 50% e não estão felizes, mas é assim que as coisas são”, declarou Trump.

Questionado se está preocupado com uma possível aproximação de parceiros importantes na América Latina, como Brasil e México, com a China, Trump respondeu que “eles podem fazer o que quiserem”.

“Não estou preocupado de forma alguma. Nenhum deles está se saindo muito bem. Com o que estamos fazendo economicamente, estamos superando todos, inclusive a China. No momento, estamos nos saindo melhor do que qualquer outro país do mundo”, afirmou.

Em seguida, voltou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, desde o dia 4 de agosto, por descumprimento de medidas cautelares impostas no âmbito do julgamento da trama golpista.

“O Brasil tem algumas leis muito ruins. Quando pegam um presidente e o colocam na prisão ou tentam prendê-lo… Eu conheço esse homem. Eu sou bom em avaliar pessoas. Acho que ele é um homem honesto. É realmente uma execução política que estão tentando fazer com o Bolsonaro”, declarou Trump.

Tarifaço a dezenas de países

Desde o dia 7 de agosto, o tarifaço de Trump impõe taxas mais altas para produtos importados para o território americano. Assinada em 30 de julho e com alvo em mais de 60 países, além da União Europeia, a medida entrou em vigor quatro meses depois de o presidente dos EUA ter anunciado, pela primeira vez, planos para impor tarifas sobre diversos parceiros, argumentando a busca por novos acordos comerciais em todas as áreas.

Com tarifas de 50%, o Brasil acabou sendo o país mais atingido pelo tarifaço de Trump. Ainda assim, cerca de 700 produtos estão isentos das tarifas. Segundo especialistas, isso ainda coloca a tarifa média sobre produtos brasileiros em torno de 30%, enquanto a UE e o Japão, por exemplo, estão sendo cobrados em 15%.

Além dos supostos desequilíbrios no comércio bilateral, o governo Trump também cita o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, presidido pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, como motivação para as sanções.

A imposição de tarifas à economia brasileira e as sanções contra Moraes provocaram fortes reações no Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a interferência americana no Judiciário brasileiro como “inaceitável”. A motivação política por trás das medidas, afirmou Lula, mina a soberania nacional do Brasil e a relação histórica entre os dois países.

Os argumentos da Casa Branca

O anúncio do tarifaço de Trump contra o Brasil teve repercussão mundial, pois o argumento central do presidente americano – de que as tarifas eram necessárias para reduzir o déficit comercial dos EUA – não se aplica, já que os EUA têm superávit comercial na sua relação com o Brasil desde 2009.

Segundo dados do governo, em 2024 o déficit brasileiro foi superior a 28 bilhões de dólares.

As justificativas para as tarifas contra o Brasil foram detalhadas em um decreto publicado pela Casa Branca da semana passada, que afirmou que a medida era necessária “para lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos.”

O documento destaca que “a perseguição política, intimidação, assédio, censura e processos judiciais contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores constituem graves abusos de direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil.”

Governo lança plano

Nesta quarta-feira, Lula assinou uma medida provisória (MP) elaborada para mitigar os impactos econômicos do tarifaço sobre produtos brasileiros imposto pelo presidente dos EUA.

As medidas direcionam R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para abrir uma linha de crédito a exportadores prejudicados, incluindo micro e pequenas empresas.

O texto ainda amplia linhas de financiamento às exportações, prorroga o pagamento de tributos para empresas que vendem produtos aos EUA e aumenta o percentual de restituição de tributos federais.

A MP também facilita a compra de gêneros alimentícios por órgãos públicos. A regra tem efeito imediato e precisa ser apreciada pelo Congresso em 120 dias.

gb (EFE, ots)