O Telescópio Espacial James Webb da NASA registrou um fenômeno inédito: a presença de água congelada entre detritos que orbitam uma jovem estrela, conhecida como HD 181327. Os resultados foram publicados na revista Nature na última semana e representam a primeira descoberta de gelo fora do Sistema Solar.

A evidência atualiza a maneira como os especialistas encaram a formação planetária, com um trabalho detalhado do telescópio Webb sobre a composição e distribuição dessa substância pelos discos que rondam a estrela. Essa composição cristalina só havia sido encontrada em locais já conhecidos, como os anéis de Saturno e o Cinturão de Kuiper.

“Webb detectou inequivocamente não apenas gelo de água, mas gelo de água cristalino, que também é encontrado em locais como os anéis de Saturno e corpos gelados no Cinturão de Kuiper do nosso sistema solar”, exaltou Chen Xie, principal autor do estudo e cientista assistente na Universidade Johns Hopkins.

Esses grãos gelados vistos pelo telescópio fornecem informações sobre as condições que podem ter existido no início do sistema solar, reforçando a hipótese de que os mecanismos de formação de planetas são universais em toda a galáxia.

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A estrela HD 181327

Estima-se que a estrela HD 181327 tenha uma idade próxima a 23 milhões de anos – o que a torna consideravelmente mais jovem que o Sol, com 4,6 bilhões de anos. Ela também é mais massiva e quente, o que influencia o tamanho e a atividade do disco de detritos ao seu redor.

Chen Xie explica como os grãos de gelo se originam ao redor do astro e chegam ao radar do Webb: “HD 181327 é um sistema muito ativo. Há colisões regulares e contínuas em seu disco de detritos.” Essas colisões entre corpos gelados liberam uma poeira fina e partículas de gelo de água cristalina que, assim, podem ser identificadas pelo telescópio.

A atividade do disco de detritos é praticamente igual a do Cinturão de Kuiper no Sistema Solar, onde colisões entre planetas anões e objetos espaciais geram poeira e fragmentos de gelo. Esse bombardeio contínuo ajuda a suprir as partículas geladas no disco, desenhando um panorama dos processos dinâmicos que contribuem para a montagem planetária.

O papel do gelo de água na formação de planetas

O gelo de água possui um papel essencial na formação de planetas, com influência sobre seu tamanho e fornecimento de água a cenários rochosos.

“A presença de gelo de água ajuda a facilitar a formação de planetas. Materiais gelados também podem ser ‘entregues’ a planetas terrestres, que podem se formar ao longo de algumas centenas de milhões de anos em sistemas como este”, esclareceu o cientista Chen.

A detecção de gelo de água cristalino no disco de detritos da HD 181327 sugere que a água pode ser comum em sistemas planetários jovens, o que poderia fazer com que os ambientes habitáveis do universo fossem ​​mais disseminados. Compreender como a água é distribuída e transportada nesses discos é importante para desvendar a história da formação planetária e o potencial surgimento de vida em planetas além do Sistema Solar conhecido.