08/10/2018 - 17:17
O tempo está correndo e a humanidade precisaria estar correndo no sentido contrário para combater o aumento das temperaturas no planeta. Mas, como as medidas ainda são tímidas frente ao desafio apresentado – mesmo após o Acordo de Paris -, um novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) destaca a necessidade de “mudanças rápidas, abrangentes e sem precedentes em todos os aspectos da sociedade” para conter o aquecimento global em 1.5oC, em relação aos anos anteriores à Revolução Industrial. Segundo os estudos, esse patamar pode ser superado entre 2030 e 2052, período em que grande parte das pessoas já nascidas ainda estarão vivas.
Pulicado nesta segunda-feira, o relatório alerta que a mudança climática já está acontecendo e que a redução de emissões de CO2 nos próximos 12 anos será decisiva para conter a escalada de eventos ainda mais extremos – como secas, inundações, queimadas florestais e falta de alimentos para milhões de pessoas.
Para conter as mudanças, diversas áreas deverão fazer alterações drásticas: energia, indústria, construção, transporte e o uso da terra, aponta o relatório. As energias renováveis devem passar de 20% a 70% da produção de eletricidade até meados do século, enquanto a participação do carvão deve quase desaparecer. A demanda por energia deve cair e a eficiência energética deve aumentar.
A indústria, por sua vez, deverá reduzir suas emissões de CO2 de 75 a 90% até 2050 em comparação com 2010 (comparado a 50-80% com 2ºC), o transporte deverá passar a usar energias de baixo carbono (35-65% em 2050 contra menos de 5% em 2020).
De acordo com o relatório, serão necessários investimentos anuais de 2,4 trilhões de dólares entre 2016 e 2035 para a transformação de sistemas de energia, isto é, 2,5% do PIB mundial. Um custo que deve ser colocado em perspectiva com um custo ainda maior de não fazer nada, os cientistas apontam.
A única solução para que a temperatura não aumente mais do que 1.5oC seria chegar em 2050 com “neutralidade de carbono”, ou seja, emitindo menos CO2 na atmosfera do que se pode retirar. Com base em 6 mil estudos, entenda as principais alterações que devem acontecer no mundo, de acordo com as conclusões do informe especial aprovado no sábado pelos governos e publicado nesta segunda-feira:
– Impactos de 1°C a mais –
Já foi atingido e, por isso, muitas regiões já estão experimentando um aquecimento mais acelerado, como o Ártico. O último meio grau a mais está associado a um aumento dos eventos meteorológicos extremos. As emissões passadas e presentes continuarão a elevar o nível do mar, não importa o que aconteça. E os riscos – alguns irreversíveis, como a perda de espécies – aumentam junto com as temperaturas.
– 1,5 ou 2, efeitos diferentes –
As diferenças são nítidas entre um aumento de 1,5ºC ou de 2ºC. O impacto sobre as espécies será menor com 1,5ºC: menos incêndios florestais, perda de territórios, espécies invasoras. Com 1ºC, 4% da superfície terrestre muda de ecossistema, com 2ºC será de 13%. Mas, mesmo com aumento de 1.5oC, de 70% a 90% dos recifes dos oceanos podem morrer, incluindo a Grande Barreira de Corais da Austrália.
Ter 2ºC acima da Revolução Industrial se traduz em ondas de calor na maioria das regiões. Haverá mais dias quentes em todos os lugares, particularmente nos trópicos, zona sensível, já que neste momento as variações não os afetam. As precipitações ligadas aos ciclones serão mais intensas.
O nível do mar, com uma temperatura superior de 1,5ºC, aumentará entre 26 e 77 cm até 2100, segundo as projeções. Com 2ºC serão 10 cm a mais, o que afetará 10 milhões de pessoas adicionais.
A longo prazo, a instabilidade do gelo antártico e/ou a perda da Groenlândia poderia começar com 1,5°C ou 2°C de aumento, o que elevaria o nível do mar em vários metros nos próximos séculos ou milênios.
1,5ºC limitaria a acidificação do oceano (ligada à maior concentração de CO2) que ameaça a existência de espécies marinhas. Com este aumento, o Ártico terá um verão por século sem gelo, e a 2ºC serão dois por década.
A queda na produtividade do milho, do arroz e do trigo será mais limitada com 1,5°C do que com 2°C de variação, aponta o informe, que também descreve os principais riscos para os recursos hídricos, segurança alimentar e saúde.