20/11/2018 - 9:15
A final, aquele tempo que você passa em redes sociais como Facebook, Twitter ou WhatsApp é benéfico ou não? A princípio, a empresa de Mark Zuckerberg (hoje com cerca de 2,2 bilhões de usuários ativos no mundo) e outros empreendimentos do gênero são lugares virtuais onde é quase impensável não estar. Eles permitem, por exemplo, encontrar, manter contato e trocar ideias com familiares e amigos espalhados pelo planeta, comunicar-se com pessoas afinadas com nosso modo de pensar e construir grupos de defesa de interesses que podem melhorar a comunidade e o planeta.
Há benefícios psicológicos também, indicam estudos. As redes estimulam o sentimento de pertencer a algo maior, o desejo de se integrar socialmente, a autoexpressão ou até mesmo a curiosidade perante o mundo. Esse contato pode melhorar nossa sensação de bem-estar e apoio social online, pelo menos no curto prazo.
Mas um volume crescente de informações acadêmicas mostra que o cenário é bem mais complexo. Em 2013, por exemplo, um estudo da equipe liderada pelo professor de psicologia Ethan Kross, da Universidade de Michigan (EUA), publicado na revista “PLOS One”, revelou que quanto mais tempo jovens adultos passavam no Facebook, pior se sentiam. Até mesmo aqueles que, embora despendendo um tempo significativo na rede de Zuckerberg, mantinham níveis moderados ou altos de contato social direto relataram uma piora em seu bem-estar.
Em 2017, os professores Holly Shakya, da Universidade da Califórnia em San Diego, e Nicholas Christakis, da Universidade Yale (EUA), publicaram na revista “American Journal of Epidemiology” um artigo sobre um estudo com 5.208 usuários de Facebook. Durante dois anos, os pesquisadores mediram a satisfação com a vida e a saúde física e mental dos participantes.
Todos os resultados pioravam com o uso mais intensivo do Facebook, e o tipo de atividade desenvolvida nele – por exemplo, curtir uma foto ou postar um texto – não fazia qualquer diferença nesse sentido. “A exposição a imagens cuidadosamente editadas das vidas de outras pessoas leva a uma autocomparação negativa, e a grande quantidade de interações na mídia social pode prejudicar experiências da vida real mais significativas”, afirmam os cientistas.
Estímulo à inveja
Alguns estudiosos do tema, como a psicóloga Susan Fiske, da Universidade Princeton (EUA), salientam ainda que o Facebook pode exacerbar a inveja. Um bom número de pessoas pode até se sentir desafiado e inspirado a ampliar suas realizações ao ver fotos de amigos e conhecidos em situações que denotam bem-estar e abastança, mas o mesmo material pode deflagrar em outros indivíduos sentimentos de insatisfação contra eles mesmos e os que aparecem nas imagens.
Pressionado a alertar seus usuários sobre os perigos de passarem longos períodos conectados, o Facebook fez no fim de 2017 uma postagem, “Passar o tempo nas redes sociais faz mal?”. O texto lista prós e contras, e os autores concluem que o que faz mal não é o uso da rede social em si, mas a maneira como isso ocorre.
A postagem foi alvo de duras críticas. Sean Parker, ex-presidente e cofundador do Facebook, disse que as redes sociais afetam as interações sociais e a produtividade de “modo estranho”. Segundo ele, redes como o Facebook funcionam em torno da questão de gastar o máximo de tempo online e receber, em troca, a maior quantidade de atenção possível.
Ex-vice-presidente da empresa, Chamath Palihapitiya recomendou que os usuários tirem “férias forçadas” das redes sociais. “Criamos ferramentas que estão rasgando em pedaços o tecido social com o qual a sociedade funciona”, declarou.
Um bom começo para o uso consciente e comedido das redes sociais inclui, por exemplo, parar de usar os aplicativos duas horas antes de dormir e tirar os avisos de “visto” e “recebido” das mensagens do WhatsApp. Mas o mais importante é, em vez de pôr o foco em uma infindável lista de mensagens, readquirir a consciência em relação a tudo isso e fazer-se perguntas como: “O que esse mundo online está fazendo com a minha existência e os meus relacionamentos? No que isso ajuda meus objetivos de vida?” Como observam Holly Shakya e Nicholas Christakis no seu estudo, “interações sociais on-line não substituem a coisa real” e relações saudáveis e pessoais são vitais para a sociedade e o nosso bem-estar individual.