Um estudo publicado no periódico “Cell” na segunda-feira, 11, deu uma resposta para uma lacuna na história da bactéria Yersinia pestis. Durante a Idade do Bronze, o microrganismo não conseguia se disseminar por meio de pulgas o que deixava uma dúvida na comunidade científica sobre como a doença poderia ter se espalhado durante o período. Na pesquisa, foi recuperado um genoma do patógeno em uma ovelha domesticada que viveu há quatro mil anos onde hoje é a Rússia, indicando que a transmissão pode ter ocorrido por meio da criação de animais.

Durante o estudo, foram analisados restos de animais encontrado no sítio arqueológico de Arkaim, na Rússia. O assentamento já foi associado a uma cultura chamada de Sintashta-Petrovka, conhecida por inovações na pecuária. Pesquisadores acharam a mesma bactéria que infectava humanos na região há quatro mil anos no dente de uma ovelha. As informações são da “CNN Science”.

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O achado levou uma equipe de pesquisadores internacional a acreditar que animais domesticados podem ter representado um papel na transmissão da bactéria pela Europa e pela Ásia. Na Idade do Bronze, a Yersinia pestis ainda não havia desenvolvido as ferramentas genéticas que a permitiriam usar pulgas como vetores, como nos dias atuais.

De acordo com Ian Light-Maka, autor do estudo e pesquisador de doutorado no Instituto Max Planck de Biologia de Infecções em Berlim, na Alemanha, a doença surgiu na pré-história e 200 genomas de Y. pestis já foram encontrados em restos mortais de humanos antigos. “Nos deixou com muitas perguntas e poucas respostas sobre como os humanos estavam sendo infectados”, comentou.

Cerca de 20% dos corpos de pessoas que viveram na Idade do Bronze encontrados na região da Estepe Eurasiática apresentavam infecção pela bactéria. Apesar da pecuária indicar o que causou a transmissão da doença no período, ela é apenas uma peça no quebra-cabeças e abre margem para novas análises da evolução da Y. pestis.

Segundo Taylor Hermes, coautor do estudo e professor na Universidade do Arkansas, nos EUA, é provável que humanos e animais transmitiam a bactéria um ao outro, mas não está claro como faziam isso ou de que forma as ovelhas foram infectadas em primeiro lugar.

Uma das hipóteses é de que a doença tenha se espalhado a um rebanho através de uma fonte de alimentos ou água e depois aos humanos através do consumo da carne contaminada dos animais.

Além de ajudar os cientistas a entenderem como a bactéria evoluiu, encontrar o genoma do patógeno em um animal que viveu há quatro mil anos também pode auxiliar na compreensão de doenças modernas. “A evolução às vezes pode ser ‘preguiçosa’. […] As ferramentas genéticas que ajudaram Y. pestis a prosperar por mais de 2.000 anos em toda a Eurásia podem ser reutilizadas”, afirmou Light-Maka.

Evidências recentes sugerem que a maior parte das doenças humanas modernas surgiram nos últimos dez mil anos depois da domesticação de animais. A linhagem da bactéria que causou a peste na Europa e Ásia durante a Idade do Bronze se espalhou do continente europeu até a Mongólia.