14/08/2025 - 16:24
Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, apontaram em um estudo com roedores que administrar lítio a ratos com sintomas de Alzheimer reverte o declínio cognitivo dos animais. As descobertas indicam que o uso da substância pode ser um tratamento promissor da doença. A pesquisa foi publicada na revista “Nature” em 6 de agosto.
Um estudo publicado em 2022 indicou que pessoas prescritas com lítio tinham metade do risco de desenvolver Alzheimer durante o período analisado pela pesquisa e um outro artigo sugeriu que o consumo do metal em água potável diminuía as chances do surgimento de demência. As informações são da “New Scientist”.
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Apesar disso, Bruce Yankner, professor da Universidade de Harvard, apontou que outros fatores poderiam explicar as associações das pesquisas anteriores, já que outro metal encontrado em água potável, como o magnésio, por exemplo, poderia ser responsável pela redução no risco de demência.
Uma equipe de pesquisadores da qual Yankner faz parte analisou os níveis de 27 metais nos cérebros de 285 pessoas — 94 diagnosticadas com Alzheimer e 58 com comprometimento cognitivo leve — após elas morrerem.
Conforme o pesquisador, os níveis de lítio no córtex pré-frontal, uma área do cérebro responsável pela memória e tomada de decisões, eram, em média, 36% mais baixos em pessoas com Alzheimer do que naquelas que não tinham problemas cognitivos. A presença do metal era 23% menor nos 58 pacientes com comprometimento leve.
“Suspeitamos que isso se deva a uma série de fatores ambientais: ingestão alimentar, genética e assim por diante”, comentou o professor. Além disso, em pessoas com Alzheimer, aglomerados de proteínas chamados de placas amiloides tinham quase três vezes a quantidade do metal. “O lítio fica sequestrado nessas placas.”
“Temos duas coisas acontecendo. Há uma absorção prejudicada de lítio [no cérebro] e, à medida que a doença progride, o lítio presente no cérebro diminui ainda mais por estar ligado à amiloide”, acrescentou Yankner.
Em uma tentativa de entender os impactos da falta de lítio no cérebro, Yankner e seus colegas reduziram em 92% a ingestão do metal de 22 roedores geneticamente modificados para apresentarem os sintomas de Alzheimer. Após cerca de oito meses, os animais demonstraram um pior desempenho em testes de memória em comparação com 16 ratos que estavam em uma dieta regular.
Os cérebros dos roedores com deficiência de lítio também tinham quase duas vezes e meia mais placas amiloides. A análise de células do órgão indicou que os animais estavam com um aumento na atividade de genes neurodegenerativos e nas inflamações.
Posteriormente, foi examinado o desempenho de diferentes tipos do metal quanto à sua capacidade de se ligar aos amiloides e constataram que o orotato de lítio — um composto natural do corpo formado por lítio e ácido orótico — parecia ser menos propenso a ficar preso nas placas.
Em um tratamento de nove meses com o orotato de lítio, as placas amiloides dos roedores com sintomas de Alzheimer foram significativamente reduzidas e os animais tiveram uma performance tão boa quanto os ratos que estavam em uma dieta regular nos testes de memória.
Para os pesquisadores, os resultados indicam que o orotato de lítio pode ser um tratamento promissor para o Alzheimer. Altas doses do metal já são utilizadas no caso de algumas condições psiquiátricas como o transtorno bipolar.
Yankner acrescentou que uma limitação no tratamento com lítio é justamente as altas doses usadas, que podem causar intoxicações. Entretanto, a quantidade de orotato de lítio administrada para os roedores foi mil vezes menor no estudo e os animais não apresentaram problemas renais ou na tireoide. Ensaios clínicos ainda são necessários para entender como o composto pode afetar as pessoas.