16/08/2025 - 12:56
Donald Trump poupou o presidente russo, Vladimir Putin, de questionamentos e cobranças em encontro que aparentemente não rendeu nenhuma decisão concreta para pôr fim à guerra na Ucrânia.Imediatamente após a cúpula no Alasca, Donald Trump pegou o telefone.
Ele informou ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que estava em Kiev, o que ele e seu convidado, o líder russo Vladimir Putin, haviam discutido do outro lado do mundo, sem a Ucrânia e o resto da Europa à mesa.
Zelenski reagiu prontamente e anunciou que estaria na Casa Branca na segunda-feira (18/08) para se reunir com o presidente dos EUA em Washington. Não está claro o que os dois discutirão.
Um porta-voz do governo alemão em Berlim confirmou que Trump também informou o chanceler federal alemão Friedrich Merz e outros chefes de Estado e de governo europeus sobre as negociações no Alasca naquela manhã.
Merz e seus colegas então discutiram como proceder sem Trump – que deixou no ar o que ficou acertado com Putin, se é que os dois concordaram com alguma coisa durante a cúpula.
Os europeus continuam defendendo uma solução tripartite com Trump, Putin e Zelenski à mesa.
Mas especialistas em política externa dos partidos do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) expressaram, num primeiro momento, pouca esperança de um avanço.
“O vencedor desta cúpula é Putin. Ele foi recebido no mais alto nível nos EUA e, ao mesmo tempo, conseguiu contornar a ameaça de sanções secundárias dos EUA. E tudo isso sem fazer nenhuma concessão”, disse o membro do Bundestag Norbert Röttgen, do partido de centro-direita União Democrata Cristã (CDU), em várias entrevistas.
Apenas quatro minutos
Donald Trump adora falar, especialmente sobre seus supostos sucessos como negociador habilidoso e estadista astuto. Desta vez, no Alasca, as coisas foram diferentes.
Para seus padrões, o “negociador-chefe” fez uma aparição diante da imprensa notavelmente curta, de apenas quatro minutos. Após três horas com Putin, disse apenas que eles tiveram uma “reunião extremamente produtiva”.
Eles concordaram em muitas coisas, disse Trump, restando apenas “uma grande questão”.
“Ainda não fizemos isso. Mas há uma chance muito boa de que também consigamos resolver isso”, disse Trump, em um esforço para parecer amigável. O presidente dos EUA não deu mais detalhes.
Na verdade, Trump não mencionou a Ucrânia pelo nome. Apenas uma vez ele se referiu de fato à guerra conduzida pela Rússia. “Vamos acabar com a morte de cinco mil pessoas por semana. O presidente Putin também quer isso”, disse.
Trump também não mencionou que está nas mãos de Putin, um ex-espião da KGB, parar os ataques à Ucrânia no momento que bem desejar.
Vantagem russa
O convidado de Moscou permaneceu extremamente educado e calmo durante a cúpula. Sem pestanejar, ele sugeriu que a “situação” na Ucrânia dizia respeito à segurança da Rússia.
Pode parecer estranho nas circunstâncias atuais, disse Putin, mas tudo o que está sendo feito ao “povo irmão ucraniano é uma tragédia para nós, uma ferida terrível. É por isso que nosso país está seriamente interessado em pôr fim a isso”.
Putin deu a impressão de que a Rússia estava sob ameaça e tinha que responder às “provocações” de seu rival, uma inversão dos fatos apresentada a Trump sem questionamentos.
Muitos observadores que acompanham de perto as mudanças de humor e as declarações erráticas do presidente americano de 79 anos acreditam que Trump pega e repete tudo o que ouviu por último.
A questão é, portanto, até que ponto a narrativa russa vai colar.
A vez de Zelenski
Na última quarta-feira (13/08), ainda parecia que o presidente americano estava do lado da Ucrânia.
De acordo com Friedrich Merz, Donald Trump havia concordado “em grande parte” com as exigências do Ocidente à Rússia.
Merz organizou uma cúpula preparatória virtual em Berlim e formulou cinco pontos para as negociações no Alasca.
Entre eles estava a exigência de que apenas a Ucrânia decidisse sobre seu território e as condições para um cessar-fogo.
Trump mencionou essa exigência em sua breve declaração. Ele disse que, no final, “eles” teriam que decidir, referindo-se ao presidente ucraniano e aos líderes dos principais países da Otan.
No caminho de volta para Washington, Trump disse aos repórteres que agora cabia a Zelenski chegar a um acordo com Moscou.
O presidente ucraniano anunciou que viajará a Washington na segunda-feira “para discutir todos os detalhes relativos ao fim das mortes e da guerra”, como foi publicado no X.
Ele teve uma conversa telefônica de uma hora com Trump, à qual se juntaram chefes de Estado e de governo europeus.
“Apoiamos a proposta do presidente Trump para uma reunião trilateral entre a Ucrânia, os EUA e a Rússia”, escreveu Zelenski.
Ele continuou: “É importante que os europeus estejam envolvidos em todas as etapas para assegurar garantias de segurança confiáveis junto com os Estados Unidos”.
Trump submisso em relação a Putin
Após a reunião, Donald Trump disse aos repórteres que tinha um “relacionamento fantástico com o presidente Putin, com Vladimir”. Antes da reunião, ele havia descrito o líder russo como um “cara inteligente”.
Há algumas semanas, no entanto, ele também disse que Putin fala muitas bobagens e não cumpre suas promessas – em vez disso, intensifica seus ataques à Ucrânia após cada uma de suas ligações telefônicas.
No entanto, durante reuniões pessoais com o líder russo, Trump parece amansar o tom.
Nenhuma crítica, nem mesmo sutil, foi ouvida de sua boca na sexta. Com outros convidados oficiais, é sabido o quanto ele é muito menos contido.
Trump acompanhou com um sorriso congelado os oito minutos de comentários e divagações de Putin sobre a história russo-americana na coletiva de imprensa conjunta.
Ele já havia exibido a mesma expressão em Helsinque, em 2018. Na ocasião, os dois se reuniram para sua primeira cúpula.
Agora, a cordialidade foi tanta que Trump chegou a dizer que confiava mais no homem do Kremlin do que em seus próprios serviços de inteligência.
Putin não economizou elogios em seu discurso, exaltando as grandes perspectivas de cooperação entre os EUA e a Rússia e agradecendo educadamente ao governo Trump por seus esforços para acabar com o conflito na Ucrânia.
No entanto, ele imediatamente acrescentou que as “raízes do conflito” devem ser eliminadas. Com isso, ele se referia aos laços da Ucrânia com o Ocidente, à adesão dos países do Leste Europeu à Otan e às tropas da Otan em seu flanco oriental.
Antes da cúpula, Trump havia ameaçado a Rússia com “consequências graves” se Putin não avançasse em direção a um cessar-fogo. Agora, ele pressiona por um acordo de paz duradouro.
Ainda não está claro se essas retaliações ocorrerão de fato — ou seja, novas sanções econômicas severas contra os parceiros comerciais da Rússia, como Índia e China.
O presidente americano deu a entender que “depois do que aconteceu hoje, é improvável que haja tarifas mais altas contra a China” – sem explicar ao certo o que aconteceu.