20/08/2025 - 11:31
Estados Unidos e Equador recentemente classificaram organização criminosa Cartel de los Soles, ligada a membros do regime venezuelano, como “terrorista”. Casa Branca acusa o presidente Nicolás Maduro de ser o seu líder.A maioria dos grupos terroristas na América Latina tem hoje um raio de ação limitado em comparação com a década de 80 ou 90, quando proliferavam organizações como o Sendero Luminoso no Peru e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional na Colômbia.
Hoje em dia, são os grupos do narcotráfico que exercem esse tipo de domínio, e o chamado Cartel de los Soles é considerado por muitos a ameaça mais grave para a região.
Em 2020, os Estados Unidos já haviam classificado o Cartel de los Soles como uma organização criminosa, liderada por autoridades de alto escalão do Exército venezuelano. Mas foi em julho de 2025 que o grupo, nascido na Venezuela, ganhou mais notoriedade – quando o presidente americano Donald Trump o classificou como organização terrorista internacional e acusou o presidente venezuelano Nicolás Maduro de ser o seu líder.
Em seguida, no início de agosto, Washington dobrou a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro, para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões). E, nesta terça-feira (19/08), após a rede de televisão CNN noticiar a presença da Marinha dos Estados Unidos em águas do Caribe perto da Venezuela, a Casa Branca anunciou que está preparada para “usar toda sua força” para frear o “fluxo de drogas em direção ao país”.
Recentemente, o presidente do Equador, Daniel Noboa, também designou o cartel venezuelano como grupo terrorista, em uma tentativa de limitar as suas ações no seu próprio país. Noboa determinou ao Centro Nacional de Inteligência que analisasse a influência do grupo nas organizações criminosas armadas no Equador e buscou agir de forma coordenada com outros países da região.
“Não é estranho que o Equador siga os passos dos Estados Unidos na classificação do Cartel de los Soles como grupo terrorista. São países aliados e isso facilita o trabalho conjunto, o que pode beneficiar o Equador, considerando que se encontra em meio a uma luta para controlar a violência gerada pelos grupos de narcotraficantes dentro do país”, disse à DW Evan Ellis, pesquisador de estudos latino-americanos na Escola Superior de Guerra do Exército dos Estados Unidos.
Apoio a outras organizações criminosas
De acordo com informações fornecidas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos (OFAC, na sigla em inglês), o Cartel de los Soles fornece apoio material e logístico a outras organizações criminosas como o Tren de Aragua e o Cartel de Sinaloa, bem como a grupos de narcotraficantes que transportam drogas da Colômbia para os EUA e a Europa.
Isso é feito principalmente por meio da liberação de rotas que cruzam a América Latina e a América Central. A proteção do regime chavista também permitiria aos narcotraficantes realizar operações de lavagem de dinheiro.
Classificar o Cartel de los Soles como um grupo terrorista permite que os governos intervenham contra seus membros e contra o país da organização de forma mais direta. “Quando um país é rotulado como terrorista, o país ou o governo e os cartéis que operam dentro de suas fronteiras ficam expostos a toda uma legislação internacional. Esse é o maior efeito que esses reconhecimentos feitos pelos Estados Unidos e pelo Equador têm em relação ao Cartel de los Soles e à Venezuela”, diz à DW Pedro Trujillo, analista político e acadêmico da Universidade Francisco Marroquín, da Guatemala.
No mesmo sentido, Evan Ellis explica que “classificar o Cartel de los Soles como terrorista tem implicações legais que facilitam o relacionamento e o compartilhamento de informações sobre as ações dos membros do cartel. Isso se traduz na possibilidade de realizar operações conjuntas, por exemplo”.
“Mas também há um aspecto político nesse reconhecimento. Vejo isso como um sinal de apoio a Washington nessa luta contra o narcotráfico, além de um reconhecimento de que uma parte importante da cocaína que sai da Colômbia passa pelo Equador antes de chegar a outros países, como os Estados Unidos”, acrescenta Ellis.
Trabalho conjunto
Se o narcoterrorismo do Cartel de los Soles seria um dos principais perigos que a América Latina enfrenta hoje, uma boa coordenação entre os países da região é vista como a melhor solução para enfrentar o problema.
Ao compartilhar uma postura frente a esse grupo, os governos podem trabalhar juntos em operações policiais, buscas, investigações ou bloqueios bancários, por exemplo. “Esse tipo de ação, que pode ser chamada de guerra financeira silenciosa contra o narcotráfico, é uma ferramenta muito sutil e busca enfraquecer o adversário sem que se note, sem enviar um avião de combate”, diz Pedro Trujillo.
“Cada país é livre para aplicar os marcos legais que considera mais eficazes contra o narcotráfico, com base em seu aparato de inteligência. Sobre a natureza do Cartel de los Soles, é muito claro que nem todos os países da América Latina concordarão com a avaliação de Washington, mas a colaboração entre os governos é fundamental”, afirma Ellis. “Porque permite compartilhar informações, participar de operações de naturezas diversas, contar com apoio por meio de treinamento e, o mais importante, agir em conjunto no desmantelamento da rede de financiamento que sustenta esse cartel.”