Um grupo de cientistas desenvolveu o conceito de uma nave geracional capaz de transportar milhares de humanos até Alfa Centauri, em uma viagem estimada em mais de 400 anos. O projeto, batizado Chrysalis, foi o vencedor do Projeto Hyperion, competição internacional voltada para o desenvolvimento de espaçonaves interestelares de longo alcance.

A proposta envolve uma estrutura com mais de 58 quilômetros de extensão e massa aproximada de 2,4 bilhões de toneladas, projetada para ser construída no ponto de Lagrange 1, entre a Terra e a Lua. Essa região oferece estabilidade gravitacional e baixo consumo de combustível para manutenção de posição, sendo ideal para a montagem de grandes estruturas espaciais.

O formato cilíndrico foi escolhido por razões estruturais e operacionais. De acordo com os criadores, o design minimiza a seção frontal e melhora a blindagem contra detritos orbitais e micrometeoritos, além de reduzir tensões durante as fases de aceleração e desaceleração. A nave seria impulsionada a até 0,01% da velocidade da luz, utilizando propelente líquido armazenado em tanques distribuídos ao longo da estrutura.

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Para simular gravidade, a nave utilizaria módulos habitacionais com rotação lenta, aproveitando a força centrífuga. Segundo John Page, professor de engenharia da Universidade de Nova Gales do Sul, essa abordagem evita diferenças gravitacionais significativas entre a cabeça e os pés dos tripulantes, o que pode causar efeitos fisiológicos indesejados.

O projeto também considera aspectos psicológicos e sociais de uma missão multigeracional. A equipe propõe que os primeiros tripulantes passem até 80 anos isolados na Antártida antes do lançamento, como forma de adaptação à vida em ambiente confinado. A nave foi concebida como uma biosfera autossuficiente, em que humanos, sistemas de inteligência artificial e robôs convivem e compartilham processos.

Segundo os organizadores da competição, a Chrysalis se destacou pela abordagem abrangente, incluindo soluções para blindagem contra radiação, sustentabilidade da vida a bordo e planejamento social multigeracional. Apesar de conceitual, o estudo oferece uma base técnica viável para futuras missões interestelares, caso a humanidade venha a explorar sistemas estelares fora do Sistema Solar.