Em 2015, centenas de milhares de requerentes de asilo chegaram à Alemanha. A DW reuniu dados sobre asilo, integração e opinião pública que mostram o que não deu certo – e o que deu.”Wir schaffen das”, ou seja, “nós vamos conseguir”. Três palavras que se tornaram símbolo global da postura aberta da Alemanha em relação aos refugiados. Quando a então chanceler federal conservadora Angela Merkel proferiu essa frase no verão de 2015, centenas de milhares de pessoas estavam a caminho da Alemanha, muitas vindas da Síria, do Afeganistão e do Iraque.

A recepção ocorreu em meio a uma onda de solidariedade e solicitude. Na memória, por exemplo, estão as imagens da estação central de Munique, onde milhares de refugiados foram recebidos com pequenos presentes por locais.

No entanto, dez anos depois, o clima mudou. Em muitos setores da sociedade, a cultura inicial de boas-vindas se esvaiu, dando lugar ao ceticismo e à rejeição. Isso porque a Alemanha não conseguiu resolver todos os problemas relacionados à onda migratória. Muitos imigrantes ainda não encontraram emprego. A criminalidade cometida por refugiados e também contra eles é tema de debates acalorados, com a migração se tornando um assunto com alta carga emocional.

A DW preparou uma retrospectiva baseada em dados, com dez perguntas e respostas, sobre os resultados da integração e como a imigração mudou a Alemanha.

1. Quantos refugiados chegaram à Alemanha?

Em 2015 e 2016, 1,2 milhão de pessoas chegaram à Alemanha em busca de refúgio e solicitaram asilo no país. Nos anos seguintes, esse número diminuiu significativamente. Nenhum outro país da União Europeia (UE) acolheu tantos requerentes de asilo. Depois da Alemanha, aparecem a Itália (204 mil), a Hungria (203 mil) e a Suécia (178 mil).

Um pedido de asilo, porém, não significa que todos tiveram seus requerimentos deferidos e, assim, obtido o direito de residência de forma automática. Em média, em primeira instância, a Alemanha autorizou pedidos de asilo a mais da metade (56%) dos requerentes nos últimos dez anos, concedendo o direito de permanência a 1,5 milhão de pessoas.

Em uma comparação europeia, a Alemanha está acima da média da UE e também à frente de outros países que acolheram um alto número de refugiados. Vale lembrar que a Alemanha é um dos poucos países que concede direito de asilo a perseguidos políticos, algo que pode ser reivindicado na Justiça.

De acordo com os tratados da Convenção de Genebra, além de perseguidos políticos, podem permanecer na Alemanha aqueles que são considerados refugiados ou têm direito à proteção subsidiária, por exemplo, porque há guerra em seu país de origem. No total, cerca de 3,5 milhões de pessoas em busca de refúgio vivem hoje na Alemanha.

2. De onde vêm as pessoas que solicitaram asilo na Alemanha?

Em 2015 e 2016, a maioria dos requerentes de asilo na Alemanha veio da Síria, do Afeganistão e do Iraque, países que há anos sofrem com guerras e conflitos.

Metade de todos os sírios que vivem hoje na Alemanha chegou no país europeu entre 2014 e 2016 devido à guerra civil. Cerca de um quinto já possui a cidadania alemã, e um décimo nasceu na Alemanha.

Desde a invasão russa na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, muitos ucranianos também buscaram refúgio no país: atualmente, quase 1,3 milhão de refugiados na Alemanha vieram da Ucrânia.

3. Homens, mulheres, crianças: quem procurou refúgio na Alemanha?

Do 1,2 milhão de requerentes de asilo na Alemanha em 2015 e 2016, quase metade (564,4 mil) tinha entre 18 e 34 anos; destes, três quartos eram homens.

Ao ter o pedido de asilo deferido, esse direito também se aplica ao cônjuge do refugiado e aos filhos menores de idade, que podem ir para a Alemanha e ter a permanência autorizado por meio de reagrupamento familiar.

Entre 2015 e meados de 2017, 230 mil pedidos de reagrupamento familiar foram aprovados, segundo a Associação Alemã de Cidades e Municípios. Para refugiados com status de proteção restrita, porém, esse reagrupamento familiar foi suspenso por dois anos em julho de 2025.

4. Quão integrados estão os refugiados hoje?

Um dos indicadores mais importantes para medir o sucesso da integração é a inserção no mercado de trabalho. De acordo com a pesquisadora de migração na Universidade de Bamberg Yuliya Kosyakova, a Alemanha teve sucesso parcial nesse quesito. “Eu diria que conseguimos parcialmente. Ou melhor, não conseguimos com todos. Ainda há espaço para melhorias no que diz respeito às refugiadas e aos refugiados mais velhos.”

Os números indicam uma tendência positiva: no final de maio de 2025, a taxa de desemprego estava no nível mais baixo desde janeiro de 2015, e a de emprego, no nível mais alto, para pessoas provenientes de países como Afeganistão, Paquistão, Irã, Iraque, Síria, Somália, Eritreia e Nigéria.

Se analisarmos outro indicador, a taxa de ocupação, que também inclui trabalhadores autônomos, vemos que quanto mais tempo os refugiados permanecem no país, mais chances têm de encontrar um emprego. Dos que chegaram à Alemanha em 2015, mais de 60% encontraram um emprego após sete anos.

“Vemos que a integração no mercado de trabalho é particularmente bem-sucedida entre os mais jovens, ou seja, para quem tem até 45 anos. Para pessoas com mais de 45 anos, a taxa de ocupação na Alemanha é significativamente mais baixa, mesmo ao longo do tempo”, diz Kosyakova.

“Os requerentes de asilo que chegam à Alemanha são, em média, menos qualificados. É claro que também há médicos e médicas, mas a maioria não tem formação universitária ou profissional. As pessoas chegam, não sabem alemão, precisam ser assistidas pelo Estado e vivem de benefícios sociais. Leva alguns anos até que consigam encontrar um emprego e, mesmo assim, muitas vezes trabalham em funções que exigem pouca qualificação”, observa Daniel Thym, que pesquisa migração na Universidade de Constança.

Em comparação com as atividades realizadas em seus países de origem, os refugiados na Alemanha trabalham mais frequentemente como ajudantes do que como profissionais qualificados, especialistas ou peritos, conforme revelou uma pesquisa realizada em 2017. Além da qualificação geralmente mais baixa e da falta de conhecimentos linguísticos, o não reconhecimento de diplomas ou a escassez de acomodação em regiões com menos oportunidades também contribuem para o cenário.

E isso também gera consequências para a renda: o salário bruto mensal dos refugiados que chegaram à Alemanha em 2015 era de 1.600 euros para os trabalhadores em tempo integral. No mesmo ano, o salário bruto médio mensal alemão era de 3.771 euros.

5. Qual é o nível de conhecimento de alemão dos refugiados?

Outro fator bastante utilizado para avaliar a integração é o conhecimento do alemão. Isso se deve, em parte, ao fato de que, para muitas profissões na Alemanha, é essencial ter um conhecimento amplo do idioma.

Há diferenças significativas entre os sexos em relação ao aprendizado do novo idioma. De acordo com uma pesquisa realizada com refugiados em 2020, 34% das mulheres tinham conhecimentos avançados de alemão (certificado nível B1). Entre os refugiados do sexo masculino, essa porcentagem era de 54%. E isso também se reflete nos números do mercado de trabalho: embora muitas vezes tenham boa formação, as mulheres têm mais dificuldades para encontrar um emprego.

Para Yuliya Kosyakova, há várias razões para isso. Por um lado, as mulheres mais jovens muitas vezes têm filhos para cuidar. Por outro, em seus países de origem, essas mulheres costumavam atuar mais frequentemente em profissões em que a língua e as qualificações profissionais desempenham um papel importante, como professoras ou funcionárias públicas.

“Há um risco maior de não reconhecimento das qualificações. E também é necessário ter um conhecimento do idioma muito maior para ingressar nessas profissões, em comparação, por exemplo, com um emprego no setor da construção”, diz Kosyakova.

6. Quantos refugiados daquela época adquiriram cidadania alemã?

Desde 2016, cerca de 414 mil pessoas provenientes de países com histórico de refugiados foram naturalizadas, sendo destes 244 mil sírios.

“Estamos agora em uma época em que muitos refugiados de 2015 estão se naturalizando. Alguns sírios estão pensando em voltar para a Síria porque o regime de Assad caiu, embora talvez já tenham se naturalizado aqui. Muitas vezes, porém, eles decidem ficar porque abriram um negócio aqui, porque se estabeleceram aqui, porque os filhos estão na escola aqui”, diz o pesquisador de migração Hannes Schammann, da Universidade de Hildesheim.

7. Quanto custou à Alemanha acolher tantos refugiados?

As estimativas sobre os custos do acolhimento de refugiados na Alemanha são divergentes, como mostra a plataforma Integration. Dependendo do método de cálculo, os custos variam entre 5,8 trilhões de euros e uma arrecadação anual posterior de 95 bilhões de euros.

Fato é que, quando alguém em busca de asilo chega à Alemanha, o país inicialmente arca com custos, antes de se beneficiar da força de trabalho do imigrante. Assim, os “gastos relacionados aos refugiados” no orçamento federal em 2023 foram de quase 30 bilhões de euros, com os benefícios sociais representando a maior fatia desse volume.

Em abril de 2025, cerca de 43% imigrantes em busca de refúgio – pouco menos de um milhão de pessoas – receberam apoio financeiro na Alemanha na forma de auxílio básico, um benefício do Estado para desempregados ou para aqueles que não ganham o suficiente para seu sustento.

Embora esse número tenha permanecido praticamente inalterado nos últimos anos, o número de estrangeiros que recebem o auxílio básico aumentou significativamente em 2022. Naquele ano, muitos refugiados deixaram a Ucrânia rumo à Alemanha e, devido a uma regulamentação especial, tiveram direito imediato ao auxílio.

No mesmo período, o número de alemães que recebem o auxílio diminuiu ligeiramente. No entanto, eles ainda representam a maior parte (52%). O segundo maior grupo entre os beneficiários são pessoas provenientes de países com histórico de refugiados (17%), seguidas pelos ucranianos (13%).

8. Como o clima mudou na Alemanha?

Enquanto a maioria dos alemães estava mais aberta à acolhida de imigrantes em janeiro de 2015, dez anos depois, 68% dos eleitores entrevistados acreditam que o país deveria receber menos refugiados.

Em 2023, cidadãos com essa opinião formaram pela primeira vez a maioria entre os entrevistados. No mesmo ano, uma pesquisa encomendada pela Fundação Bertelsmann também mostrou que a imigração é agora vista de forma mais negativa.

De acordo com a pesquisa, 78% observam peso extra da imigração para o Estado e 73% enxergam conflitos entre locais e imigrantes. Sobre o fato de a imigração ser importante para a economia da Alemanha, apenas 63% concordam com essa afirmação.

9. Existe um risco elevado de criminalidade por parte dos refugiados?

Crimes violentos cometidos por refugiados contribuíram para a mudança de opinião da sociedade alemã. Ataques como o ao mercado de Natal na praça Breitscheidplatz, em Berlim, em 2016, ou em Solingen, em 2024, alimentaram o medo de terrorismo. O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) soube tirar proveito político desses casos e, atualmente, elegeu a segunda maior bancada no Parlamento alemão.

Mas, afinal, como está a situação da criminalidade no geral? Uma análise das estatísticas da polícia mostra que os estrangeiros são suspeitos em 35% de todos os casos. No entanto, eles representam apenas cerca de 15% da população. De acordo com especialistas, esses dados não indicam necessariamente que os refugiados cometem crimes com mais frequência do que os alemães.

“Atualmente, poderíamos dizer que isso é claramente uma representação exagerada, mas há muitos fatores distorcivos”, afirma Gina Wollinger, criminologista da Faculdade de Polícia e Administração Pública de Colônia.

A explicação estaria no fato de que pessoas que não são alemãs ou que são percebidas como estrangeiras são denunciadas com muito mais frequência do que os alemães, segundo Wollinger.

“Os refugiados também não são uma amostra representativa da sociedade da qual têm origem, mas principalmente homens jovens. E sabemos que essas duas características, ser jovem e do sexo masculino, estão fortemente relacionadas à criminalidade violenta”, afirma.

10. Como a política migratória mudou desde 2015?

Desde a declaração de Merkel – “nós vamos conseguir” –, em 31 de agosto de 2015, a política migratória alemã mudou significativamente. Essa tendência também se reflete no sentimento dos refugiados: enquanto 57% se sentiam muito bem-vindos no ano em que chegaram, apenas 28% ainda tinham essa mesma sensação mais de sete anos depois, conforme um relatório do Instituto de Pesquisa do Mercado de Trabalho e Profissões.

E essa mudança política começou muito rapidamente, diz o pesquisador de migração Daniel Thym: “Já no outono de 2015, as leis foram consideravelmente endurecidas, os benefícios para os requerentes de asilo foram reduzidos, novos países de origem foram declarados seguros e o reagrupamento familiar foi restringido”.

A política alemã enfrenta um dilema: por um lado, pretende reduzir o número de requerentes de asilo. Por outro, o país precisa urgentemente de mão de obra qualificada do exterior para impulsionar a economia.

Esse era um dos objetivos do governo de coalizão liderado pelo chanceler federal social-democrata Olaf Scholz (SPD, social-democratas, de centro-esquerda) a partir de 2021. Assim, a chamada “mudança de rota” permitiria a transição do processo de asilo para o direito regular de residência.

Desde a mudança de governo, em 2025, a coalizão formada pelos conservadores da União Democrata Cristã (CDU) e da União Social Cristã (CSU) e pelos social-democratas tem se concentrado em restringir a política migratória e repatriar aqueles que tiveram o pedido de asilo negado.

Com a introdução de um cartão de pagamento para requerentes de asilo, controles de fronteira mais rigorosos e mais deportações, a Alemanha “evidentemente não conseguiu”, como disse o atual chanceler federal, Friedrich Merz (CDU), referindo-se à declaração de Merkel.

O pesquisador Hannes Schammann discorda desta conclusão. “Acredito que a tarefa de 2015 foi, em grande parte, cumprida”. Agora, trata-se de encontrar soluções politicamente inteligentes para novos desafios e “não ficar olhando para 2015 o tempo todo, mas sim para frente, e perguntar: como podemos resolver isso?”