26/08/2025 - 6:15
Falar que vai “arrebentar” alguém e “mandar para o cacete” não é, de forma alguma, uma atitude que se espera de um “cidadão de bem”, como Malafaia e seus aliados gostam de se autointitular.”Eu gravo um vídeo e te arrebento… Vai pro meio de um cacete, pô!”. “Esse seu filho é um babaca!”. Essas mensagens, ditas com muita agressividade, foram enviadas pelo pastor Silas Malafaia para o ex-presidente Jair Bolsonaro. O tal filho “babaca” é Eduardo Bolsonaro, mas isso nem vem ao caso. O que chama atenção é o tom do pastor, mais parecido com o usado por um bandido integrante de uma gangue (e não falo das de Brasília, mas daquelas que aparecem em programas policiais vespertinos).
O tom é violento até para um apoiador do ex-presidente famoso, entre outras coisas, pelos absurdos que sempre disse e pelo belicismo: “vamos metralhar a petralhada do Acre” é um dos exemplos. Lembram?
As mensagens onde Malafaia grita palavrões e impropérios foram encontradas no celular de Jair Bolsonaro pela Polícia Federal (PF) e fazem parte da investigação que fez com que Malafaia fosse alvo de uma operação da corporação. O inquérito era sobre o crime de coação a autoridades, na tentativa de embaraçar a ação penal que julga a trama golpista envolvendo o ex-presidente.
Agressividade e palavrões
A agressividade e os palavrões ditos nas mensagens seriam constrangedores para qualquer adulto que finge ser sério e responsável. Mas não estamos falando de qualquer um. Malafaia é um dos nomes mais poderosos do mundo evangélico. Ele é presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos líderes religiosos mais influentes do Brasil.
O pastor é também um dos maiores representantes dos tais “valores da família”, um conceito aberto que tem sido muito usado pela extrema direita brasileira e mundial nos últimos anos para polarizar a sociedade e conseguir votos. De um lado estão eles, as “pessoas de família” que lutam pelos “bons costumes” e pregam “bons” valores. Do outro, aqueles que espalham “ideologias comunistas” (sic), que “fazem orgias” em universidades, usam drogas e muitas outras fake news que são espalhadas nos últimos anos.
Os defensores da família e moralistas estilo Malafaia são também os que pregam contra a diversidade, propagam que gays vão para o inferno, que o aborto deve ser proibido até para uma menina de 14 anos que foi estuprada e que mulheres devem “edificar o lar”.
Silas Malafaia é um dos defensores mais radicais e ruidosos desses “valores”. Junto com seus aliados, eles bradam em alto e bom som que querem “defender a família brasileira”. Mas que família é essa que o senhor quer defender, pastor?
Falso moralismo
Malafaia e outros líderes bolsonaristas mostram ser grandes exemplos do falso moralismo, aquela atitude que faz com que a pessoa pregue uma coisa e seja exatamente o oposto, ou seja, ela faz exatamente o contrário daquilo que defende publicamente. Falar que vai “arrebentar” alguém e “mandar para o cacete” não tem nada de cristão e não é, de forma alguma, uma atitude que se espera de um “cidadão de bem”, como Malafaia e seus aliados gostam de se autointitular.
O mesmo vale para a família Bolsonaro, amigos e parceiros do pastor. Durante as investigações, a PF encontrou também mensagens de Eduardo Bolsonaro onde o filho fala o seguinte para o pai: “VTNC (vai tomar no C*), seu ingrato do caralho”.
É impossível não tentar imaginar como esses sujeitos se tratam no convívio íntimo depois de ler essas mensagens. Não sou vidente, mas dá para supor que o respeito e o diálogo passam longe do dia-a-dia dessas pessoas “de bem”.
Em resposta ao escândalo causado pelo tom de suas mensagens (inclusive no meio evangélico), Malafaia disse que “todos xingam, mesmo que em pensamento, o que já é um pecado”, e chama aqueles que os criticaram de “hipócritas”. É curioso ver o pastor se defendendo usando uma palavra que caberia perfeitamente a ele.
E, podem apostar, os falsos moralistas vão continuar tentando angariar votos e apoio bradando que são exemplos de verdadeiros cidadãos de bem. Imagina se não fossem…
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Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo “02 Neurônio”. Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão.
O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.