05/09/2025 - 16:58
Líderes de Rússia e China conversaram sobre “vida eterna” em Pequim. Terapias para prolongar o nosso tempo na Terra são viáveis? E, sobretudo, isso seria conveniente?Transplantes de órgãos, terapias de rejuvenescimento e uma vida até os 150 anos: durante um desfile militar nesta quarta-feira (03/09) em Pequim que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra, um microfone captou uma conversa entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o chefe do Kremlin, Vladimir Putin, sobre imortalidade, divagando sobre a “vida eterna”.
Os dois autocratas têm 72 anos. Xi está no poder desde 2013, e Putin comanda ou participa diretamente do governo russo há mais de um quarto de século.
Ambos alteraram a Constituição de seus países para poderem governar por mais tempo. E também provavelmente concordam que essas ideias de “vida eterna” não são uma opção para qualquer um – especialmente para as grandes massas.
Mas quais seriam as chances de viver até os 150 anos ou mais? É possível que alguns poucos escolhidos se tornarão “imortais” algum dia?
O que acontece quando envelhecemos?
O desejo pela vida eterna é tão antigo quanto a humanidade. Ele está profundamente enraizado em diferentes religiões e mitos. Mas, apesar dos avanços científicos e médicos, continua impossível de ser realizado.
O envelhecimento é um processo biológico inevitável. Ao longo da divisão das células, acumulam-se problemas no DNA que levam a danos celulares, mutações, perda de funcionalidades ou inflamações, o que causa deterioração física e mental.
Björn Schumacher, da Universidade de Colônia, que pesquisa o que exatamente acontece em termos biológicos nesse processo, frisa que envelhecer é uma condição natural. Todos os dias, cada célula do nosso corpo sofre até 100 mil danos.
“A verdade é que tudo se deteriora. Nas primeiras décadas de vida, somos capazes de reparar esses danos”, explica Schumacher. A partir dos 70 anos, porém, até mesmo as pessoas mais proeminentes ficam defasadas.
Tanto fatores genéticos quanto ambientais afetam nossa expectativa de vida, sendo que influências cotidianas nocivas, como a poluição, o estresse e a má alimentação, podem acelerar o processo.
O processo natural de envelhecimento também leva, ao longo da vida, a enfermidades como o câncer, além de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.
Como poderíamos viver mais tempo?
É verdade que os avanços na biotecnologia e nos transplantes têm o potencial de prolongar a vida em duas a três vezes, até cerca de 150 anos. Isso ainda não significa imortalidade, mas já é um tempo impressionantemente mais longo.
O desejo de uma vida bem mais extensa pode se tornar realidade algum dia por meio de terapias antienvelhecimento especiais, medicina regenerativa e intervenções genéticas. Todas elas visam prolongar a expectativa de vida saudável e retardar o processo de envelhecimento, ou seja, a deterioração, em nível biotecnológico.
Já existem abordagens promissoras nas áreas de biotecnologia e genética. Estudos mostram que é possível interferir geneticamente no processo de envelhecimento em nível celular, por exemplo, por meio da preservação dos telômeros ou da melhoria da função mitocondrial – os telômeros são as capas protetoras nas extremidades dos cromossomos, que ficam mais curtas a cada divisão celular e ao final interrompem essa divisão, o que contribui para o envelhecimento.
Em células de levedura, essas terapias de rejuvenescimento celular e manipulações genéticas já demonstraram um aumento da expectativa de vida de até 82%. Como base científica, isso é empolgante para as terapias de rejuvenescimento celular, mas não se sabe se essa tecnologia poderia ser aplicada em seres humanos algum dia.
Talvez seja possível aprendermos algo com o início da nossa vida, já que é nesse momento que o nosso corpo consegue zerar a idade biológica, ainda que o óvulo e o espermatozoide já sejam velhos quando se encontram.
“Em geral, é possível rejuvenescer. Pouco depois da fertilização, ocorrem processos biológicos normais que revertem a idade”, afirma Björn Schumacher. No entanto, ainda não se compreende bem o que exatamente acontece nessa hora. E, mesmo que isso seja possível, os processos que nos rejuvenescem nas primeiras semanas de vida são incrivelmente complexos. Transferi-los para um corpo idoso é algo ainda inimaginável.
Podemos retardar o envelhecimento
Embora ainda seja difícil rejuvenescer, existem algumas medidas que podemos tomar para, pelo menos, retardar o envelhecimento. Segundo Schumacher, o maior dos efeitos seria obtido com a prática de esportes e a redução da ingestão de calorias. Alguns medicamentos, como a metformina ou a semaglutida, também poderiam não apenas curar doenças específicas, mas também atrasar o processo de envelhecimento.
Também há avanços em relação aos transplantes, o que foi mencionado por Putin. Teoricamente, é possível transplantar e regenerar órgãos humanos continuamente para combater os sinais de envelhecimento causados pela falência de órgãos.
Mas esse tipo de transplante é uma intervenção cirúrgica invasiva que pode ter efeitos colaterais graves, afirma Schumacher. Afinal, é necessário introduzir um órgão estranho e, para isso, suprimir o próprio sistema imunológico.
Os organoides, que atualmente são usados como miniórgãos na pesquisa, também podem vir a desempenhar um papel em transplantes. No entanto, isso ainda está muito distante do presente: “É muito complexo”, diz o pesquisador.
Por outro lado, segundo ele, seria possível obter órgãos ou partes de órgãos a partir de células do próprio corpo, que poderiam então ser implantadas novamente. A reprogramação das próprias células também é uma possibilidade que já é parcialmente utilizada. Em pacientes com Parkinson, por exemplo, existe a abordagem de transformar células da pele em células-tronco e, em seguida, convertê-las em células nervosas especiais. No cérebro, essas células podem substituir células nervosas mortas.
O sonho (ou pesadelo) dos ricos e poderosos
Tudo isso ainda parece ficção científica – ou um filme de terror, dependendo do ponto de vista. No entanto, não se pode subestimar a inteligência artificial nesse contexto.
Muitas empresas e um notável número de líderes – um tanto vaidosos – do setor de alta tecnologia investem somas exorbitantes em “biologia computacional” e no desenvolvimento de abordagens médicas personalizadas.
O quanto a pesquisa nessas áreas realmente avançou pode ser um segredo bem guardado desses homens ricos e poderosos, que certamente concordam com Xi e Putin: prolongar a expectativa de vida natural não é uma opção para as grandes massas.
Queremos realmente viver para sempre?
Mas a principal questão é: uma vida artificialmente prolongada ou mesmo a imortalidade são de fato desejáveis ou convenientes? Isso seria realmente uma bênção para a humanidade?
Na evolução, o envelhecimento e nossa mortalidade têm uma função muito significativa, pois promovem a diversidade das espécies e garantem recursos para as gerações mais jovens.
Em última instância, o significado da vida está em usar, de forma consciente, o limitado tempo que temos e, assim, deixar um impacto positivo na Terra, em vez de buscar a imortalidade e garantir um lugar nos livros de história.