11/09/2025 - 18:25
Premiê assina plano para dobrar população de megacolônia judaica na Cisjordânia ocupada. Projeto de expansão pode fragmentar ainda mais o território palestino. “Esta terra nos pertence”, diz Netanyahu em cerimônia.O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quinta-feira (11/09), que “não haverá um Estado palestino”.
A fala foi proferida durante a cerimônia de assinatura do plano da ampliação da megacolônia israelense de Maale Adumim, na Cisjordânia ocupada, numa área próxima a Jerusalém Oriental.
“O que estamos fazendo aqui é cumprir uma visão”, disse Netanyahu, acrescentando que a expansão da colônia visa concretizar uma promessa “não bíblica, mas atual”: “Dissemos que não haveria um Estado palestino e, sem dúvida, não haverá um Estado palestino!”.
“Esta terra nos pertence”, completou Netanyahu.
O projeto de expansão da colônia, promovido por setores ultranacionalistas de Israel, arrisca dividir de maneira decisiva o território palestino. O plano prevê a construção de 3.400 residências para colonos na chamada área E1, que vai de Jerusalém Oriental a Maale Adumim.
Dessa forma, a colônia expandida pode fragmentar a Cisjordânia em dois enclaves separados, dificultando ainda mais a possibilidade da formação de um Estado para a população palestina da área;
Na cerimônia, Netanyahu afirmou que, com o plano de expansão, a população de Maale Adumim, de cerca de 40 mil pessoas, poderá crescer para 70 mil nos próximos cinco anos.
“A Bíblia diz: ‘Como Jerusalém tem montanhas ao seu redor’. É um simples erro gramatical. Como Jerusalém tem cidades ao seu redor!”, disse Netanyahu.
O plano de expansão foi anunciado em agosto pelo ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, de extrema direita. Ao anunciar plano, Smotrich, ele próprio um colono que vive na Cisjordânia ocupada, deixou claro que a expansão visa “enterrar” a possibilidade de um Estado palestino independente.
A expansão ocorre paralelamente à guerra conduzida por Israel na Faixa de Gaza, outro território palestino. Em maio, Israel também já havia anunciado a criação de 22 novas colônias na Cisjordânia ocupada.
Maale Adumim já é a maior colônia israelense na Cisjordânia em termos de área ocupada, e uma das maiores em população.
A aprovação da construção de mais de 3 mil moradias na área foi criticada pelas autoridades palestinas e por diversas organizações de direitos humanos. Governos europeus, incluindo o da Alemanha, também se posicionaram contra a expansão.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou o plano, alertando que ele ameaça a viabilidade de um Estado palestino contíguo e representa uma “ameaça existencial” à solução de dois Estados.
Toda a presença israelense na Cisjordânia é ilegal, segundo a Corte Internacional de Justiça, que pediu a Israel para evacuar seus colonos deste território, desmantelar seus assentamentos, garantir o retorno dos palestinos e remover o muro com o qual isola o território.
Raio-X das colônias
As colônias ou assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental têm se expandido constantemente desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel passou a ocupar os territórios, onde vivem cerca de 3 milhões de palestinos. Nas últimas décadas, no entanto, a criação de novas colônias havia desacelerado, com Israel focando na expansão de assentamentos já existentes.
Em 2023, Israel mantinha e apoiava 144 colônias na Cisjordânia e 12 em Jerusalém Oriental. Algumas dessas colônias já se tornaram verdadeiras cidades encravadas em territórios palestinos, como Beitar Illit, que conta com mais de 60 mil colonos. Ao todo, cerca de 700 mil colonos vivem em assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Há também mais de uma centena de colônias não oficiais, conhecidos como “postos avançados”, que normalmente são instalados por colonos armados sem endosso oficial do governo israelense. No entanto, é comum que muitos desses “postos avançados” acabem sendo reconhecidos mais tarde como “assentamentos” oficiais de Israel.
Apesar de não fazerem oficialmente parte do território de Israel, todos os assentamentos contam com toda uma estrutura de serviços garantida pelo país, como água, eletricidade e proteção do Exército.
Os colonos também estão sujeitos à lei israelense e têm representação no Parlamento, ao contrário dos palestinos, que não têm representação e são sujeitos à lei militar. Em muitos casos, as colônias estão instaladas em locais estratégicos, resultando na separação de cidades palestinas umas das outras e dificultando o deslocamento.
Uma parte desses colonos também é formada por não-israelenses. Em 2015, uma pesquisa da Universidade de Oxorfd estimou que pelo menos 60 mil judeus nascidos nos EUA viviam em colônias instaladas na Cisjordânia ocupada.
A maior parte da comunidade internacional considera os assentamentos ilegais e um obstáculo a uma solução de paz duradoura na região. Os assentamentos também são reprovados pelas Nações Unidas, que consideram que por causa deles os palestinos já quase não têm um território que viabilize uma solução de dois Estados.
Ações violentas de colonos extremistas, especialmente no estabelecimento dos “postos avançados”, também já levaram a União Europeia, o Canadá e o Reino Unidos a impor sanções contra indivíduos que moram nas colônias.
jps (DW, EFE, ots)