Energia solar, eólica e outras fontes renováveis já geram 63% da eletricidade na rede elétrica alemã. Meta é atingir neutralidade climática até 2045. Em que pé está a transição nos diferentes setores da economia?A Alemanha tem como meta atingir a neutralidade nas emissões de carbono até 2045. Isso requer uma ampla transformação. Os avanços, contudo, não progridem no mesmo ritmo em todos os lugares.

Transição elétrica no rumo certo com energia eólica e solar

A geração de eletricidade na Alemanha passou por mudanças radicais nos últimos 15 anos. Hoje em dia, 63% da eletricidade do país vem de energias renováveis, sendo que, em 2010, esse índice era de apenas 19%.

A energia eólica representa atualmente 27% da matriz elétrica (7% em 2010) e a solar, 21% (2% em 2010).

Há quinze anos, o carvão (43%), a energia nuclear (25%) e o gás natural (12%) eram as fontes de energia mais importantes da Alemanha.

A participação da eletricidade a carvão foi reduzida pela metade, chegando a 22%. As usinas a gás continuam a fornecer 12% da eletricidade, enquanto as nucleares foram completamente desligadas da rede.

Como resultado, as emissões de CO2 resultantes da geração de eletricidade caíram em um terço. De acordo com um relatório de especialistas, a Alemanha atingiu formalmente suas metas climáticas para 2024. Em geral, “metade do caminho para a neutralidade climática” foi alcançada, de acordo com a análise o think tank alemão de especialistas em energia Agora Energiewende.

Solar e eólica mais eficientes e econômicas

Preços significativamente mais baixos e tecnologia mais eficiente desempenham um papel importante no setor de energia solar e eólica. Os módulos solares custam apenas um décimo do que custavam em 2010.

Gerar energia solar no próprio telhado agora é um terço mais barato do que a eletricidade da rede, custando cerca de nove centavos de euro (R$ 0,57) por quilowatt-hora (kWh) e cerca de doze centavos de euro por kWh em sistemas de armazenamento em baterias.

As grandes usinas solares da Alemanha, com armazenamento em baterias, agora geram eletricidade por cerca de sete centavos por kWh, o que é três vezes mais barato do que as novas usinas a gás natural.

O custo da energia eólica caiu pela metade nos últimos 15 anos graças aos aerogeradores mais altos com pás mais longas. Com turbinas eólicas onshore, a geração de energia custa atualmente cerca de sete centavos por kWh, enquanto com as turbinas offshore no mar, o custo é de cerca de oito centavos por kWh.

De acordo com estudos, um sistema energético climaticamente neutro na Alemanha exigirá usinas solares com capacidade total de cerca de 400 gigawatts (GW), além de 230 GW de energia eólica.

Até o momento, porém, foram instalados apenas 111 GW de sistemas fotovoltaicos e 75 GW de energia eólica.

A rápida expansão é necessária porque a demanda por eletricidade crescerá rapidamente no futuro devido ao aumento da eletrificação e da demanda por data centers. Em 2024, 466 terawatts-hora (TWh) de eletricidade foram consumidos em toda a Alemanha. Segundo as previsões do governo federal, serão necessários cerca de 750 TWh até 2030.

Quais os desafios para transformar o sistema energético?

Embora a expansão da rede elétrica na Alemanha tenha progredido nos últimos três anos, ainda está aquém das metas.

Quando há bastante vento e sol, a produção de eletricidade é muito barata no mercado, mas, quando as condição não são favoráveis, as usinas a gás produzem eletricidade suplementar e os custos da rede aumentam. Com a maior expansão da energia eólica e solar, a expansão da rede elétrica europeia e mais armazenamento em baterias, os custos gerais podem ser ainda mais reduzidos.

Isso requer grandes sistemas de armazenamento em baterias na rede, bem como centrais de armazenamento em edifícios, indústrias e veículos elétricos. Muitas empresas desejam instalar grandes parques de baterias, e os custos para isso caíram significativamente. No entanto, ainda falta um roteiro claro para a integração sistemática do armazenamento, afirma o diretor da Associação Alemã da Indústria Solar, Carsten Körnig.

Segundo as estimativas, a Alemanha precisará de sistemas de armazenamento de eletricidade com capacidade de 100 gigawatts-hora até 2030 e cerca de 180 GWh até 2045. Até o momento, foram instalados 22 GWh de armazenamento em baterias e 10 GWh de armazenamento por bombeamento.

As chamadas tarifas dinâmicas de eletricidade também ajudam. Em horários do dia em que são gerados níveis particularmente altos de energia solar e eólica, a eletricidade na rede é mais barata. Consumidores e centros de dados economizam dinheiro ao usar eletricidade principalmente fora dos horários de pico.

No entanto, para medir o consumo de eletricidade com precisão, é necessário instalar uma quantidade bem maior de medidores inteligentes. Atualmente, apenas cerca de 3% dos consumidores alemães possuem esses medidores, enquanto em outros países da UE, como França e Espanha, esse número já ultrapassa 90%.

Aquecimento com bombas de calor

Até 2025, as chamadas bombas de calor serão, pela primeira vez, a tecnologia de aquecimento mais vendida na Alemanha, de acordo com uma associação do setor. Espera-se que mais de 260.000 novas bombas de calor sejam instaladas até o final do ano. No entanto, de acordo com os planos do governo federal, pelo menos 500.000 devem ser instaladas anualmente para que a Alemanha cumpra sua meta climática no setor da construção civil.

De acordo com a Associação Alemã de Bombas de Calor, existem atualmente cerca de 1,9 milhão dessas bombas na Alemanha, o que representa cerca de 8% de todos os sistemas de aquecimento. No entanto, mais de 90% do aquecimento ainda é feito com gás e óleo.

Os países do norte da Europa estão muito mais avançados nesse aspecto. O aquecimento com óleo e gás quase não é mais usado, sendo, em vez disso, feito principalmente com eletricidade, bombas de calor e biomassa.

Proprietários de imóveis com bombas de calor na Alemanha economizam atualmente cerca de um terço em custos de energia em comparação com o aquecimento a gás natural. No entanto, as bombas ainda são significativamente mais caras do que os sistemas que utilizam gás natural.

Sem os atuais subsídios governamentais, as metas climáticas no setor da construção civil não seriam alcançadas. Por isso, especialistas pedem financiamento adicional para bombas de calor e a expansão das redes de aquecimento com bombas de grande porte e a utilização da energia geotérmica – que deriva do calor interno do planeta.

Transição lenta no setor de transportes

A Alemanha está muito atrás de suas metas climáticas no setor dos transportes. Atualmente, apenas 4% dos quase 50 milhões de automóveis de passageiros são puramente elétricos e, incluindo modelos híbridos, esse número chega a 7%.

Mas pelo menos há uma tendência para um número cada vez maior de carros elétricos. Em agosto de 2025, quase um em cada cinco (19%) carros recém-registrados era puramente elétrico e, incluindo modelos híbridos, esse número representava mais da metade (59%).

A proporção de novos carros com motor de combustão registrados em agosto foi de 41%, em comparação com 51% no ano anterior.

Mas os carros elétricos ainda são mais caros do que os com motor de combustão na Alemanha. Existem apenas alguns modelos novos com preços inferiores a € 20.000. A China já está muito mais à frente nesse aspecto. Lá, os carros elétricos custam menos do que veículos comparáveis com motores de combustão, e os modelos são muito mais baratos do que na Alemanha.

O número de caminhões elétricos na Alemanha também aumenta lentamente. Dos aproximadamente 3,8 milhões de veículos, cerca de 90.000 (2%) são elétricos.

Falta de hidrogênio climaticamente neutro

No entanto, a eletricidade favorável ao clima não é suficiente para todos os setores. As indústrias siderúrgica e química, o transporte marítimo e a aviação, em particular, precisam de hidrogênio adicional como fonte de energia.

O governo alemão pretende construir uma capacidade de eletrólise para a produção de hidrogênio de dez gigawatts (GW) até 2030. As previsões sugerem que serão necessários cerca de 400 GW para atender à demanda de hidrogênio de forma totalmente neutra para o clima até 2045. Para essa finalidade, uma rede de hidrogênio de 9.000 quilômetros será expandida até 2032.

Especialistas ressaltam que essa implementação representa uma oportunidade para a indústria alemã assumir um papel de liderança nessa área, mas ainda há muito a ser feito.

O ministro alemão do Meio Ambiente, Carsten Schneider, está otimista. “Temos muito a ganhar se demonstrarmos aqui na Alemanha, um país exportador, como a modernização industrial pode ter sucesso. A proteção climática bem-sucedida também significa tornar nossa economia suficientemente apta para competir nos mercados do futuro.”