Fruta tem sido símbolo onipresente em manifestações de solidariedade aos palestinos. Representação foi originalmente criada para contornar proibição do uso da bandeira palestina em territórios ocupados por Israel.As melancias são muito comuns no Oriente Médio e parte integrante da culinária palestina. Mas a melancia também tem sido ligada à causa política dos palestinos por causa das suas cores: a casca é verde e branca, a polpa é vermelha e as sementes são pretas – exatamente as cores encontradas na bandeira palestina.

“Não tínhamos permissão para pintar em vermelho, verde, preto e branco”, diz o artista palestino Sliman Mansour. “A bandeira palestina era proibida, e também as cores da bandeira palestina”, disse ele à rede social Al Jazeera+ em 2021.

Mansour se referia à década de 1980. Naquela época, um militar israelense foi à sua galeria em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, onde vários artistas estavam presentes. “Ele tentou nos convencer a não fazer arte política: ‘Por que vocês não pintam flores, flores bonitas, ou um nu artístico? Eu até compraria algo, sabe?'”.

O militar então disse que eles não poderiam realizar uma exposição na Cisjordânia ou na Faixa de Gaza sem antes solicitar permissão às autoridades israelenses. “Se eu pintar uma flor, mas nessas cores, o que você fará?”, alguém perguntou. Também essa pintura seria confiscada, respondeu o militar israelense. “Mesmo se você pintar uma melancia, seria difícil.”

Assim, a ideia da melancia veio, na verdade, de maneira não intencional de um militar israelense, diz Mansour. Nos territórios palestinos, a melancia logo se tornou um símbolo: pode-se vê-la em paredes e em camisetas, em pôsteres e em galerias de arte.

“Este desenho é de um livro de contos populares palestinos para crianças e conta a história de uma criança mítica que emerge de uma melancia e consegue falar e agir como um adulto”, escreveu Mansour em sua conta do Instagram em outubro de 2023. “Parece não ser mais um mito: as crianças de Gaza estão sendo forçadas a ser adultas, adultos que estão passando por um inferno.”

A história da bandeira

De acordo com a Sociedade Acadêmica Palestina para o Estudo de Relações Internacionais (Passia, na sigla em inglês), a bandeira palestina foi desenhada por Hussein bin Ali, o emir de Meca, em 1916.

Naquela época, a região hoje conhecida como a Palestina histórica pertencia ao Império Otomano, e a bandeira tornou-se o símbolo da Revolta Árabe contra os turcos otomanos, durante a Primeira Guerra Mundial. Hussein sonhava com um reino árabe independente que se estendesse sobre o que hoje são os territórios palestinos, a Síria, Israel, a Jordânia e o Líbano.

Embora os turcos otomanos tenham sido derrotados com a ajuda dos britânicos, esse reino permaneceu uma utopia. A Palestina histórica acabou sob mandato do Reino Unido até 1948. Após a retirada britânica, o símbolo da primeira Revolta Árabe foi retomado, desta vez como a bandeira nacional de um Estado palestino.

Menos de 20 anos depois ela foi proibida. Em 1967, Israel ocupou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental durante a Guerra dos Seis Dias e proibiu a bandeira palestina.

A proibição só foi suspensa em 1993, no âmbito do processo de paz de Oslo, quando Israel e os palestinos concordaram com a coexistência pacífica e o reconhecimento mútuo. A bandeira foi aceita como símbolo da Autoridade Palestina, que administraria – pelo menos nominalmente – a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Nas redes sociais

Em janeiro de 2023 (nove meses antes de a organização terrorista Hamas lançar seu ataque terrorista a Israel), o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, ordenou à polícia que retirasse as bandeiras palestinas de espaços públicos o que equivaleu a uma proibição. “Dei a ordem para remover as bandeiras que apoiam o terrorismo de espaços públicos e para impedir a incitação contra o Estado de Israel”, declarou o político da ultradireita.

Hoje ativistas de todo o mundo usam a melancia como uma declaração política em protestos pró-palestinos. Depois da invasão israelense da Faixa de Gaza, que se seguiu ao ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, o símbolo também se espalhou pelas redes sociais. Para evitar que postagens políticas sejam excluídas, muitos usuários postam o emoji de melancia em vez de uma bandeira palestina.

O artista Khaled Hourani pinta melancias há muitos anos. Ele postou uma imagem da fruta sobre um fundo dourado no Instagram: a obra de arte foi leiloada em benefício de uma fundação sediada no Reino Unido que apoia os palestinos no setor de saúde.

A melancia como imagem racista

Mas o simbolismo da melancia não foi sempre tão claro. Antes de se espalhar pelo mundo como símbolos dos palestinos, ela frequentemente tinha uma conotação racista, ao menos nos Estados Unidos: brancos a usavam para zombar de negros, como mostram várias peças da coleção do Museu Jim Crow de Imagens Racistas, no Michigan.

Após a abolição da escravidão nos Estados Unidos em 1865, muitos negros ganhavam a vida cultivando e vendendo melancias. A fruta requer poucos cuidados e cresce rapidamente, exigindo pouco trabalho até a colheita. Racistas brancos usaram isso para criar o mito de que os negros eram preguiçosos.

Também eram comuns imagens de negros com lábios vermelhos enormes mordendo avidamente uma fatia de melancia, manchada com o suco escorrendo – a mensagem subjacente era de que os antigos escravizados eram infantis e impuros. Essas representações se espalharam rapidamente, especialmente nos estados do Sul, para insultar a comunidade negra.

Quando a organização política Socialistas Democráticos da América apelou, recentemente, ao líder democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, para defender um cessar-fogo em Gaza, publicou a imagem de uma melancia. As críticas não demoraram a chegar, pois Jeffries é afro-americano e poderia interpretar o símbolo de outra maneira.