Após país asiático reforçar que não abrirá mão de seu programa nuclear, cresce especulação sobre possível encontro entre presidente americano e Kim Jong Un.Durante sua visita a Washington em agosto, o presidente sul-coreano, Lee Jae Myung, disse ao homólogo americano, Donald Trump, que esperava ansiosamente pelo momento em que Trump pudesse jogar uma partida de golfe com o ditador norte-coreano, Kim Jong Un.

“Um dia eu o verei… Ele foi muito bom comigo”, respondeu o presidente americano.

Na segunda-feira (29/09), a mídia estatal norte-coreana afirmou que Kim estava aberto a uma nova rodada de discussões com Trump, frisando que o líder teve um vínculo pessoal com o presidente dos EUA durante seu primeiro mandato. “Ainda tenho boas lembranças de Trump”, disse Kim em uma sessão da Assembleia Popular Suprema em Pyongyang.

Os dois líderes se encontraram em Singapura em junho de 2018 para uma cúpula inédita, após meses de uma retórica hostil, com comentários de Trump sobre “destruir totalmente” a Coreia do Norte e de que Kim era um “um homem-foguete em uma missão suicida”.

“Nós nos apaixonamos”

A reunião rendeu uma declaração não vinculativa de Pyongyang com o compromisso de “desnuclearização completa” da Península Coreana. Trump brincou dizendo que, depois daquele encontro, Kim lhe havia escrito “cartas lindas” e que “nós nos apaixonamos”.

Os dois líderes acabariam trocando aproximadamente 27 cartas durante o primeiro mandato de Trump. Em muitas delas, Kim se dirigia a Trump como “vossa excelência”, com uma prosa floreada para elogiar a amizade entre eles.

A lua de mel, no entanto, não durou nem um ano. Uma reunião de acompanhamento em Hanói, no Vietnã, em fevereiro de 2019, foi interrompida quando ficou claro que não haveria nenhum acordo para que a Coreia do Norte abandonasse seu programa de armas nucleares.

Os líderes se viram novamente em junho de 2019, em breve encontro para uma sessão de fotos na vila de Panmunjom, que marca a zona desmilitarizada entre o Norte e o Sul.

Agora em sua segunda passagem pela Casa Branca, Trump enfrenta uma Coreia do Norte mais ousada, que continua a desenvolver armas avançadas e a testar seus mísseis em demonstrações provocativas, enquanto estreita laços com a China e a Rússia.

Durante a Assembleia Geral da ONU, na semana passada, o presidente sul-coreano alertou que seu rival está muito perto de desenvolver um míssil balístico intercontinental capaz de transportar uma ogiva nuclear até os Estados Unidos.

Sem recuo

Apesar de o próprio Trump ter sinalizado sua disposição em se encontrar com Kim, não há sinais de que uma quarta cúpula esteja a caminho. Também parece que nenhum dos lados cedeu na questão crucial do programa nuclear norte-coreano.

Na segunda-feira, Kim reiterou que não abre mão de seu programa nuclear e que qualquer encontro com Trump só ocorrerá se Washington abandonar sua “obsessão com a desnuclearização”. “A desnuclearização é absolutamente impossível”, enfatizou.

Em resposta, o Departamento de Estado dos EUA informou que o governo Trump continua comprometido com a “desnuclearização completa” da Coreia do Norte.

O regime de Kim vê seu programa nuclear como essencial para sua sobrevivência e legitimidade e espera um reconhecimento dos EUA como potência nuclear.

As reuniões durante o primeiro mandato de Trump também foram criticadas por concederem legitimidade e um lugar no cenário internacional ao isolado regime de Kim, sem obter nada em troca. A Coreia do Norte continua sob sanções internacionais por causa de seu programa de armas.

O que Kim quer?

No final de outubro, Trump deve participar do fórum de líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) na cidade sul-coreana de Gyeongju.

Mason Richey, professor de política e relações internacionais da Universidade Hankuk de Estudos Estrangeiros, em Seul, acredita ser possível um encontro entre os líderes durante a cúpula. Trump se reunirá com o líder chinês, Xi Jinping, que poderia ajudar na aproximação com Kim.

“Acho que Kim está feliz em lançar um balão de ensaio para ver se consegue uma segunda chance com Trump e fazer com que os EUA finalmente reconheçam a Coreia do Norte como uma potência nuclear”, afirmou o pesquisador.

Ele acredita que Trump pode diminuir a pressão sobre a Coreia do Norte para ampliar a margem de negociação e sair com a aparência de uma vitória. “Os EUA sob Trump indicaram que estão dispostos a deixar a desnuclearização como um objetivo imediato e, em vez disso, tê-la como ‘um objetivo para o futuro'”, avalia.

Richey acrescentou que, em qualquer cenário, Kim provavelmente buscará o alívio das sanções e mais reconhecimento diplomático, enquanto tenta criar um distanciamento entre os EUA e a Coreia do Sul. “A questão, é claro, é o que Trump vai ganhar com o acordo. O Trump não vai dar nada de graça e não sei o que mais a Coreia do Norte pode oferecer”, acrescentou.

Park Jung-won, professor de direito da Universidade Dankook, observa que Kim quer colher os louros de seu esforço diplomático mais recente. Uma mostra disso foi sua aparição em desfile militar em Pequim, no início de setembro, ao lado de Xi e do presidente russo, Vladimir Putin.

“Kim quer aproveitar ao máximo essa oportunidade para consolidar a posição da Coreia do Norte e ganhar o reconhecimento de seu país como uma potência nuclear”, disse ele.

Qual é a chance de um encontro?

No entanto, Park não está convencido de que outro encontro entre Kim e Trump possa acontecer em breve.Na Apec, em outubro, o foco de Trump provavelmente será amenizar as questões comerciais com a China, em meio a uma agenda concorrida.

“Se Trump oferecesse uma cúpula, tenho certeza de que Kim concordaria, assim como Xi e Putin”, disse Park. “Mas, francamente, Trump parece ter tantos problemas acumulados em seu país que não acho que ele tenha tempo para assumir algo dessa magnitude.”