01/10/2025 - 16:07
Governo afirma que a infraestrutura crítica da Alemanha está sob séria ameaça. Moscou, Pequim e extremistas têm sido apontados como autores. Berlim está preparada para lidar com um ataque em várias frentes?A segurança cibernética e a infraestrutura na Alemanha estão sob ataques quase diários. Na mesma semana em que drones foram avistados sobre vários aeroportos europeus, um ataque contra o software de segurança usado em vários aeroportos, incluindo o de Berlim, deixou passageiros e funcionários em pânico. Ao mesmo tempo, o serviço ferroviário da Deutsche Bahn foi alvo mais uma vez de um incidente grave de sabotagem.
Ataques cibernéticos semelhantes miram cada vez mais empresas privadas e já somam um prejuízo de 289 bilhões de euros (R$ 1,8 trilhão), de acordo com a Bitkom, organização que representa a economia digital na Alemanha.
Acredita-se que organizações criminosas estão por trás de cerca de 68% desses crimes, mas metade das empresas pesquisadas afirmou que conseguiu rastrear pelo menos um ataque feito pela Rússia. Um número semelhante afirmou ter relacionado incidentes do tipo à China.
“O perigo está aumentando”
O Kremlin também está sendo responsabilizado pelas recentes invasões de drones em toda a Europa.
“É extremamente improvável que se trate de um agente privado. São profissionais que trabalham com equipamentos caros; é muito provável que seja um agente estatal”, disse Manuel Atug, especialista em segurança de infraestrutura do think tank AG Kritis.
Atug acredita que o objetivo dos ataques, tanto físicos quanto cibernéticos, pode ser “desestabilizar a sociedade por dentro para que as pessoas percam a confiança nas instituições e no governo”.
No início de setembro, o Serviço Federal de Inteligência da Alemanha (BND) afirmou que os ataques cibernéticos a instituições governamentais e infraestruturas críticas ocorriam “quase diariamente”. O chanceler Friedrich Merz admitiu que “poucas vezes, desde o pós-guerra, a situação de segurança do país foi tão grave”.
Na segunda-feira (29/09), Roderich Kiesewetter, especialista em segurança da União Democrata Cristã (CDU), partido de centro-direita de Merz, disse ao jornal Handelsblatt que “o perigo está aumentando porque a Rússia, em particular, está enviando cada vez mais não apenas drones de reconhecimento, mas também drones armados”.
Ele alertou que o governo não pode se dar ao luxo de deixar que operadores privados, como aeroportos, sejam os únicos responsáveis por questões de segurança tão sérias e defendeu a declaração de estado de emergência, base para a introdução de medidas especiais, como a reativação do serviço militar obrigatório.
A população alemã também está percebendo a crescente ameaça. Um estudo realizado pela consultoria PWC no início deste ano descobriu que 67% dos alemães temem “ataques híbridos” da Rússia, e quase metade achava que seu governo estava mal preparado para se defender contra eles.
A infraestrutura digital da Alemanha está notoriamente atrasada. Embora as Forças Armadas do país (Bundeswehr) contem com um grande número de especialistas em TI, “os tanques funcionam com software de 1989”, exemplificou Manuel Atug.
Ataques russos
As investigações ainda estão em andamento após duas linhas ferroviárias cruciais terem sido sabotadas na semana passada — a que liga Hamburgo a Berlim e a que liga Colônia a Düsseldorf. Em um dos casos, um explosivo foi detonado em um túnel por onde passa o trem e, no outro, os cabos elétricos suspensos foram cortados. Esses foram apenas dois dos incidentes “quase diários” relatados pela Deutsche Bahn nos últimos meses.
Legisladores e investigadores questionaram se a Rússia poderia estar por trás da sabotagem, como parte de um ataque multifacetado à vida dos alemães comuns. O ministro do Interior, Alexander Dobrindt, também falou sobre supostos agentes contratados, que não fazem parte de um governo estrangeiro, mas realizam crimes cibernéticos ou ataques físicos à infraestrutura em troca de dinheiro.
Três desses chamados “agentes de baixo escalão” estão atualmente enfrentando acusações em Munique, acusados de planejar sabotagem a trens em nome de Moscou, segundo Dobrindt.
Outras sabotagens
Alguns políticos também culparam extremistas de esquerda por danos aos trens, incluindo o ministro do Interior do estado da Renânia do Norte-Vestfália, Herbert Reul. Uma carta aberta foi publicada em um site de esquerda, assumindo a responsabilidade pelo ataque de agosto à linha entre as cidades de Duisburg e Düsseldorf.
“Portanto, é provável que extremistas militantes de esquerda sejam os responsáveis”, disse Reul.
Quanto aos possíveis motivos que poderiam levar ao ataque – considerando que apoiar o transporte público é uma causa associada à Esquerda –, o Escritório Federal para a Proteção da Constituição afirma que a Deutsche Bahn não é vista apenas como um bem público.
“A Deutsche Bahn é denunciada como a maior empresa de logística da ‘economia capitalista de lucro'” na Alemanha.
O especialista em segurança Manuel Atug faz a ponderação de que “qualquer pessoa pode publicar uma carta anônima nessa plataforma”. Para ele, é “incomum que nenhum outro esquerdista ou grupo tenha expressado solidariedade com ela”.
“Não seria a primeira vez que esquerdistas bloqueariam o transporte”, mas as autoridades deveriam “conduzir uma investigação adequada primeiro”, afirma. Ele defende que o mesmo princípio se aplique às invasões de drones e aos ataques cibernéticos.
Os legisladores da oposição estão pedindo ao governo de Merz que tome medidas adequadas e seja claro sobre a origem das ameaças, em vez de anunciar suspeitas sem qualquer acompanhamento. Como Konstantin Notz, responsável pela política de segurança do Partido Verde, disse à rádio Deutschlandfunk: “O público alemão tem o direito de ser claramente informado sobre onde os ataques estão ocorrendo diariamente ou semanalmente, quais são as suspeitas e quem está por trás deles”.