02/10/2025 - 19:31
Dos 56 times nas três principais divisões alemãs, apenas seis são da antiga Alemanha Oriental. Mas, apesar das disparidades com o Oeste, uma nova geração de jogadores traz esperanças.Há pouco mais de 50 anos, o 1. FC Magdeburg conseguiu um feito do qual nenhum outro time da Alemanha Oriental chegou perto, ao conquistar a Copa da Europa – a atual Liga dos Campeões. Hoje, após uma longa jornada nas ligas inferiores, o clube está na segunda divisão do futebol alemão.
“Acho que era impossível prever naquela época o que aconteceria com o futebol no Leste, especialmente logo após a Reunificação da Alemanha. Havia muitos fatores desconhecidos. Acho que as pessoas podem ter sido um pouco ingênuas”, disse à DW Carsten Müller, que jogou no Magdeburg antes e depois da queda do Muro de Berlim e agora dirige as categorias de base da equipe.
A transformação do Magdeburg, de rei continental para um time de segunda divisão, reflete o destino de muitos de seus pares na Alemanha Oriental.
Dos 56 times profissionais nas três principais divisões da Alemanha, apenas seis são da antiga República Democrática da Alemanha (RDA). O sétimo clube do Leste, o RB Leipzig, foi fundado após a Reunificação. Décadas após a queda do Muro de Berlim, as divisões geográficas permanecem tanto no futebol masculino quanto no feminino.
Sonhos despedaçados
“Quando as empresas que cercam um clube se desintegram e a situação econômica da cidade e da região só piora, você se depara repentinamente com uma onda de desafios. Jogadores e clubes são constantemente submetidos a novos testes”, disse Müller.
O choque gerado pela onda de privatizações que atingiu a indústria da Alemanha Oriental após a queda do Muro de Berlim também impactou o futebol. Clubes anteriormente estatais do Leste repentinamente tiveram que competir com os abastados times ocidentais.
“Muitos jogadores do Leste foram rapidamente levados para a Bundesliga [a primeira divisão do futebol alemão] pelos clubes ocidentais”, disse Marco Hartmann, ex-jogador do Dínamo Dresden e atual chefe das categorias de base, à DW. “Isso significou que os melhores jogadores do Dínamo também foram rapidamente contratados naquela época, e a um preço bastante baixo, o que não beneficiou muito o clube.”
O Dínamo Dresden, oito vezes campeão da Alemanha Oriental – atualmente jogando na segunda divisão –, tornou-se apenas mais uma peça na liquidação do Leste para os ricos clubes da Bundesliga. A partir daí, as coisas só pioraram.
“Muitos clubes do Leste tiveram gestões financeiras extremamente ruins. Acho que isso se deveu a todas as novas possibilidades que não estavam disponíveis anteriormente através do financiamento estatal”, disse Hartmann.
Rebaixamentos e falências, muitas vezes andando de mãos dadas, tornaram-se comuns. Os dois únicos clubes da Bundesligada região, o Union Berlin e o RB Leipzig, são exceções.
O Union Berlin, na primeira divisão desde 2019, se beneficia de uma infraestrutura mais ampla e de maiores oportunidades financeiras à sua disposição por ser um time da capital. A controversa propriedade estrangeira do RB Leipzig e a falta de um histórico na Guerra Fria tornam a trajetória do clube dificilmente comparável com seus rivais na Bundesliga.
Caminhos diferentes, destinos semelhantes
Enquanto os clubes masculinos do Leste se esforçavam ao máximo para se manter vivos, um time feminino da antiga RDA ascendia ao topo do futebol.
O Turbine Potsdam conquistou seis títulos da Bundesliga e dois da Liga dos Campeões entre 2004 e 2012, em parte porque o futebol feminino oferecia um ambiente significativamente mais equilibrado.
“Acho que no futebol feminino não era preciso investir tanto, em comparação com um time masculino”, disse à DW a ex-jogadora Anja Mittag.
Ela acredita que o clube prosperou graças à influência do técnico Bernd Schröder, que comandou a equipe desde sua fundação, em 1971, até 2016. O sucesso ajudou o clube a conquistar apoio e infraestrutura vitais.
“Ainda precisávamos de bons patrocínios e público para ganhar dinheiro. Foi grandioso, tínhamos uma cidade que realmente nos apoiava em Potsdam”, disse Mittag.
“Se você tem sucesso, atrai jogadoras. Acho que vencer a Liga dos Campeões nos deu uma grande vantagem”, acrescentou. “Além disso, não havia muitos outros times de ponta para escolher naquela época, principalmente em comparação com o futebol masculino.”
Desde então, o Turbine tem lutado para acompanhar vários clubes masculinos que recentemente investiram pesadamente no futebol feminino, a grande maioria dos quais está no oeste. O antigo clube de Mittag passou por uma década de lento declínio, que finalmente o levou ao rebaixamento em 2023.
O time feminino oriental de maior sucesso agora é o RB Leipzig, onde Mittag é treinadora. A ex-atleta da seleção alemã ingressou no clube como jogadora da terceira divisão e acompanhou o Leipzig durante a ascensão à Bundesliga em 2023, como reserva.
“Acho importante para a região criar oportunidades diferentes. Acho que isso realmente cria muitas possibilidades para jovens jogadoras e torna as coisas mais atraentes”, observou.
Esperanças para o futuro
Segundo Mittag, o RB Leipzig se concentra em suas categorias de base para fortalecer seu elenco e alcançar a meta de classificação para a Liga dos Campeões a médio prazo. Embora a classificação europeia seja um sonho distante para a maioria dos times masculinos da antiga Alemanha Oriental, o sucesso nas categorias de base pode ser a única maneira de se tornar mais competitivo em um ambiente cada vez mais desigual.
“Trata-se de desenvolver jogadores titulares que se identifiquem com o clube e sejam apaixonados por jogar pelo Dínamo Dresden. É muito importante para nossos sócios e torcedores que tenhamos jogadores da região e, idealmente, os próprios torcedores, no time”, disse Hartmann.
“Não acho que ser considerado um clube em desenvolvimento seja algo ruim”, afirmou Müller. “Precisamos encontrar maneiras de desenvolver jogadores para o nosso time principal. [O Magdeburg] tem muito potencial e investiu pesado no futuro.”
Embora a disparidade financeira entre os times ocidentais da Bundesliga e a maioria dos clubes do Leste ainda permaneça intransponível, o investimento no futebol juvenil já começa a dar resultados. Segundo a emissora alemã ZDF, 22% dos 880 jogadores que representaram a Alemanha nas categorias de base na última década são do Leste.
Considerando que apenas 18% da população alemã vem de estados da região, a super-representação no futebol juvenil é um sinal de que as coisas estão caminhando na direção certa.
Seja qual for o futuro, os clubes do Leste – assim como seus torcedores – o aceitarão com naturalidade.
“O futebol no Leste sempre mostrou que raramente caímos em lamentações. Em vez disso, sempre mostramos que, independentemente das dificuldades, mantemos a cabeça erguida. É disso que as pessoas se orgulham”, disse Müller.